As causas: os 90% que contam para o guru do PS
Nas Causas desta semana cabem saúde, habitação, educação, inflação, impostos e até um elogio ao líder do sindicato STOP, André Pestana
Comentador
Nas Causas desta semana cabem saúde, habitação, educação, inflação, impostos e até um elogio ao líder do sindicato STOP, André Pestana
Luís Paixão Martins é o “guru” do Governo e do PS.
Acho que é sabedor, experiente, provocador, tem sentido de humor e é um pouco arrogante. Tudo qualidades, portanto.
Recentemente definiu o “grupo dos 10%”, no fundo os que veem canais do cabo e que são apenas “jornalistas, políticos, assessores, consultores, comunicadores, comentadores e analistas”. Segundo ele, esse grupo só se interessa por temas que nada interessam aos restantes 90% portugueses.
Quem ganha a vida como guru por certo sabe do que fala. E sem dúvida que essa é a opinião do seu Cliente.
Não me custa dar-lhe razão (embora ache que são menos de 10% dos portugueses os do tal “grupo”…), mas discordo que seja sensato para o seu Cliente deixar passar a mensagem que está de acordo com isso, pois chama a atenção para o que por certo preferia que fosse esquecido.
A entrevista sem sentido de António Costa ontem, a um canal televisivo, demonstra que afinal está de acordo.
Vou pois assumir que sim, que concorda, e por isso vou abordar hoje temas que interessam a 90%, por isso a Paixão Martins e, também, ao Governo e ao PS.
Falarei assim de Saúde, Habitação, Educação, Inflação, Impostos, com base nesse critério. Sempre o fiz, em todo o caso.
As televisões não estão a falar de outra coisa que não seja o descalabro do SNS.
Como em tudo, há várias causas para o descalabro: a opção pelas 35h semanais, o envelhecimento da população, a falta de aposta nos cuidados paliativos, a péssima qualidade da gestão no Ministério da Saúde, o envelhecimento da classe médica.
Ou, também, a concorrência dos sistemas privados que atraem médicos, a falta de poder do CEO do SNS (um ano depois da sua escolha ainda não há regras legais que definam os seus poderes e já está no grelhador, como eu antecipara), os maus hábitos que ficaram da covid-19.
Como é óbvio o Governo não tem culpa de tudo, mas vão perguntar a quem tenha de se deslocar 70 quilómetros no interior para ir a uma urgência, aos médicos, enfermeiros e assistentes operacionais se a culpa é afinal de Cavaco ou de Passos Coelho.
Ou seja, em ano de eleições, isto é tema de que Paixão Martins deve tomar conta com urgência, até porque, mais cedo ou mais tarde, os jornalistas vão acabar por dar atenção às propostas de reforma da IL e do PSD.
A seguir vamos à Habitação, até porque o Presidente promulgou o pacote Mais Habitação no mesmo dia de uma manifestação sobre o preço dos arrendamentos.
A manifestação, além de cartazes a exigir a “morte dos ricos”, querer acabar com estrangeiros e turistas, tentar destruir o escritório de uma mediadora, receber elogios de Marcelo e compreensão de Costa e recusar o Chega, queria ser esmagadora, mas não o conseguiu (como revelam imagens de drone em Lisboa e Porto).
O problema – que só o Chega e o Presidente não perceberam – foi que não era uma saudável manifestação a favor do aumento da oferta de casas e da descida dos preços de arrendamento, mas um evento da esquerda radical.
Seja como for, o mais curioso não foi isso. No Congresso da Associação de Municípios, no mesmo dia, António Costa não podia ser mais claro: são os municípios que definem as estratégias para a habitação e não o Governo.
Portanto já ficam a saber o que a mim me pareceu óbvio logo quando foi lançado o pacote Mais Habitação: não se tratava de resolver o problema da habitação em Portugal, mas o problema do PS querer ganhar as eleições autárquicas nos grandes centros urbanos e sobretudo em Lisboa, Porto, Oeiras, Cascais, Braga, Aveiro, Coimbra e Faro.
Aqui Paixão Martins já deve estar a trabalhar, mas o problema é que os autarcas estão irritados, reagem (vejam o filme “Lisboa na Habitação” e os dados que surgem na imagem) e o Mais Habitação antecipa-se como um fracasso, que manifestamente não teve o dedo do guru, e vai acabar mal.
Claro que a culpa não é toda do PS, mas ao fim de oito anos já custa a encontrar um culpado alternativo.
Ou seja, paguem horas extraordinárias a Paixão Martins, talvez usando para isso o ordenado da Ministra da Habitação, cuja falta não seria sentida.
Quanto à Educação, o PSD apanhou de surpresa o Governo/oposição de Esquerda. Os sindicatos FNE e FENPROF (até este…) vieram louvar a proposta de recuperar o tempo de carreiras em cinco anos.
Eu sei que a proposta tem problemas que tornam complicada concretizar, mas os 90% - ao contrário dos 10%? - querem acabar com o caos nas escolas dos seus filhos e netos e vai ser difícil culpar o PSD apenas porque Rui Rio recuou numa solução avançada em 2019.
De novo, que pode fazer o PS? Culpar o PSD de não ter rigor orçamental? Este risco interessa aos 10%, mas não sei se cola na realidade, ainda por cima com o Presidente a ajudar à missa…
Curioso é que António Costa insista na recusa, como se tudo o que venha do PSD seja tóxico. Ou será que o problema dos professores é dos tais que só interessa ao “grupo dos 10%”?
Já agora, e se os jornalistas começarem a falar do documento do PSD, “Educação - Propostas Urgentes para um Setor em Crise”, agora divulgado e a que voltarei?
Claro que se pode sempre atacar Passos Coelho, mas oito anos depois talvez seja estratégia dos tais 10% e não cole nos outros. Eu também aumentava o guru com o ordenado do Ministro da Educação…
A Inflação – mãe de todos os outros problemas ou ao menos seu acelerador – tem várias causas, só de algumas o Governo tem culpa e os subsídios e assistencialismo em geral rapidamente se esgotam ou são ridicularizados.
Mas quem vê o mês aumentar ou o dinheiro encolher, vai culpar quem? É que, durante sete anos, o Governo em bicos dos pés e como se não houvesse amanhã encharcou os 90% com anúncios e méritos, mesmo que não fossem seus. Agora é difícil dizer que o outro lado da moeda não é seu demérito.
E, para terminar, veja-se o caso dos impostos, tema que preocupa todos os que pagam IRS e são 3 milhões de famílias, manifestamente a maioria dos 90%.
O PSD lançou um programa de redução do IRS, a começar com a devolução de 1,2 mil milhões de euros sobretudo à classe média. Que poderá fazer o Governo? Por um lado, querem baixar, mas por outro querem adiar.
Se não for, mais uma vez, o guru a tomar conta do assunto, vão ficar tão paralisados como estão com as regras para o SNS que o CEO Fernando Araújo – ingénuo… - achava que deveriam estar em vigor quando tomou posse, ou seja desde 1 de outubro de 2022!
O elogio é para André Pestana, o abrasivo líder do sindicato STOP que anda a dar cabo da escola pública, em minha opinião.
Militante de um partido de extrema-esquerda (o MAS), aplica coerentemente os princípios da “moral” e da “legalidade” revolucionárias, afastando quem ouse opor-se-lhe e realizando assembleias revolucionárias para ser reeleito no STOP.
No MAS, segundo acusam os seus opositores, André Pestana cometeu crimes de “falsas declarações ao Tribunal Constitucional, abuso de confiança relativamente ao uso dos meios de comunicação e gestão financeira do partido”.
O elogio é para a coerência do seu comportamento e para a coragem de se nos revelar em todo o seu esplendor.
Estamos a entrar na comemoração dos 50 anos do 25 de Abril. Por isso de vez em quando irei sugerir alguns livros que me parece que podem ajudar a perceber o que de bom e de mau se passou no período revolucionário e suas sequelas.
Hoje sugiro “Cerco ao Parlamento – Quando a Assembleia Constituinte e a Democracia foram tomadas de Assalto”, de Isabel Nery (D. Quixote) e “Presos por um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril”, de Nuno Gonçalo Poças (Casa das Letras).
O Cerco ocorreu em 12 e 13 de novembro de 1975 e 12 dias depois o golpe de extrema-esquerda foi derrotado. Nessas duas semanas o PCP passou do apoio ao Cerco para recuar à última hora e não entrar no golpe, o que ajuda a perceber muita coisa.
E, claro, nas FP-25 de Abril juntaram-se muitos dos derrotados de 25 de novembro.
Há dias recebi a montagem de duas declarações da Presidente do BCE, que surge nos vossos ecrãs.
Todos nós nos enganamos ao longo da vida, por otimismo ou pessimismo. Mas aqui é outra coisa: agindo como uma política (que afinal é), Lagarde tenta intervir nos acontecimentos, para gerar resultados que deseja: em 2021 queria reduzir a perceção de que a inflação vinha para durar e em 2023 quer reduzir a pressão para baixar as taxas de juro.
O problema é, pois, outro. E daí as perguntas: se são e agem assim, como podemos confiar no que nos dizem? Não seria melhor manipular menos e tratar-nos mais como adultos?
Jaime Nogueira Pinto e José Pacheco Pereira foram convidados para um debate na Feira do Livro de Arroios.
Duas livrarias (uma delas com a missão de “divulgar livros de mulheres com os corpes oprimides pelo patriarcado”) e uma editora de extrema-esquerda, que tinham bancas de livros, revoltaram-se e exigiram o cancelamento de Nogueira Pinto, que consideram de extrema-direita. O debate, esse, foi sobre banda desenhada!
Este fait-divers dará vontade de rir e revela estupidez. Nogueira Pinto (meu amigo há mais de 50 anos) é um exemplo cimeiro de alguém que preza a liberdade, o respeito dos outros e o pluralismo. Mas se ele não fosse assim seria igualmente chocante esta atitude censória.
Houve ditaduras que começaram com menos. Há, pois, que protestar contra isto, como contra a violência psicológica que teve como alvo o ministro do Ambiente por ignorantes ambientalistas e contra a invasão da apresentação de um livro para crianças que nesse caso desagradava a católicos conservadores.
É que, no fundo, são todos farinha do mesmo saco. E nesse saco nunca esteve Nogueira Pinto.
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