No início do mês de agosto, vivemos em Portugal um evento de grande destaque para a Juventude. Durante esses dias tivemos a oportunidade de ouvir decisores políticos, Governo e o Presidente da República afirmar que se deve dar aos jovens um papel político muito maior. Este seria um bom legado do evento, mas o que mudou? Pouco ou quase nada!
Convém, desde logo, realçar que o destaque aos jovens não devia ainda ter de ser dado, os líderes deviam garantir que existe uma boa representatividade da sociedade, principalmente de uma faixa que já é presente e o será ainda mais futuro. Mas o que vemos é uma geração que se foi esquecendo que os próprios eram bem jovens quando assumiram uma revolução e uma reforma, e que reivindicavam um país livre, plural e de oportunidades. Aliás, como expresso na Constituição, os jovens devem gozar de uma atenção especial, também para garantir a sua envolvência e a sustentabilidade da democracia. Para promover e representar os jovens, à semelhança de outros países, foi criado o Conselho Nacional de Juventude.
Mas este é um desafio que continua a ser difícil. Os jovens trazem muitas vezes consigo a irreverência, as interrogações sobre ideias previamente articuladas e negociadas e, naturalmente fruto da sua condição de viverem há menos tempo, de terem menor experiência, mesmo que hoje, em comparação com o passado, possa ser superior, mas que só é possível de desenvolver assumindo a responsabilidade.
Os outrora jovens irreverentes, defensores do progresso social, pela educação e capacitação da sociedade, agora, que têm o poder de decisão, acomodam-se, convencidos que é nestas pequenas frases de natureza twitteana que convencem o país - e especificamente os jovens - de que os representam e que, mais do que isso, a sua participação é realmente valorizada.
Há pouco mais de um par de semanas celebrámos em Portugal a juventude Pese embora todos os defeitos que possam ser apontados ao evento, para o efeito desta reflexão acho que podemos, de forma relativamente unânime, considerar como positiva a centralidade que o tema juventude assumiu. Foi aliás altura para afirmações como as que já mencionei. E estando nós ainda no mesmo mês em que este evento decorreu, parece que já houve tempo para esquecer todas estas mensagens.
Vejamos: por estes dias decorre em São Tomé a Cimeira de Líderes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com o tema “Juventude e Sustentabilidade”. É de enaltecer a coragem de colocar a juventude no centro desta discussão. Na mesma medida, é infeliz que nenhum representante da juventude de cada país participe ou seja ouvido, nem mesmo o Fórum da Juventude da CPLP (FJ-CPLP).
O FJ-CPLP é um órgão constituído por todos os Conselhos Nacionais de Juventude destes países, e inclusivamente na Cimeira de Líderes de 2006, pela Presidente do CNJ Portugal e do FJ-CPLP, foi-lhe atribuído o papel de observador consultivo na CPLP, com o compromisso que, durante a realização destas Cimeiras o mesmo se reuniria e existiria um espaço para a apresentação das suas conclusões. O que faz que a situação seja ainda mais preocupante.
Em Portugal, temos inclusive junto das lideranças membros de acompanhamento da juventude que conhecem bem estas estruturas e sabem a importância do seu envolvimento. Expectável era seguirmos o exemplo de um outro evento de escala mundial, a Conferência Mundial de Ministros da Juventude em Lisboa, onde todos os países, além do membro do Governo com a tutela da Juventude, se faziam representar por um delegado jovem; ou a delegação na ONU na abertura da Assembleia Geral, onde Portugal também o fez, incorporando desta forma a visão dos governos e da Juventude, em pé de igualdade, permitindo que, complementarmente, também os jovens possam ver as suas justas expectativas ser colocadas nas mesas que decidem.
Será, assim, um momento em que os “jovens eternos” irão falar sobre o que eles consideram que os jovens devem pensar ou consideram prioritário. À semelhança do que acontece com a crise climática, aqueles que decidem hipotecam o nosso futuro, sem verdadeiramente ouvirem e envolverem, como se o futuro lhes pertencesse a eles na totalidade.
Os decisores precisam de ouvir mais os jovens - mais ouvi-los do que falar-lhes - e promover o seu envolvimento. Se o tivéssemos feito há já 10 anos, quando os jovens, através do CNJ, reivindicavam o fim do abuso nos estágios não remunerados, não precisávamos de esperar por 2023 para chegarmos lá. E porque a coesão social tão politicamente desejada também se conquista assim ,com as diversas representações, justamente representadas com poder e responsabilidade.
A Presidência da República e o Governo têm escolhido a juventude e o diálogo intergeracional para destaque dos seus mandatos e anos de liderança. Terão a coragem para fazer o que é preciso e serem coerentes com as suas próprias palavras?
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