Opinião

Carlos Moedas, O Incongruente: “As pessoas não aguentam pagar mais impostos”?

Carlos Moedas, O Incongruente: “As pessoas não aguentam pagar mais impostos”?

Inês Drummond

Vereadora do PS na Câmara Municipal de Lisboa

A classe média não tem lugar na visão de Carlos Moedas, defende Inês Drummond, vereadora do PS na Câmara de Lisboa

“É um sinal, porque as pessoas não aguentam pagar mais impostos. Eu como presidente da Câmara quero dar sinais às pessoas.” “Nós não podemos avançar com políticas públicas sem ter as pessoas. Para ter as pessoas nós temos de estar a fazer com as pessoas. O problema da habitação tem de ser resolvido de forma diversificada e o sector privado tem de ajudar.” Esta é a tese de Carlos Moedas para a habitação, apresentada no encerramento da conferência “Mais Habitação – Proteção, regulação ou travão”, organizada pelo Jornal Económico e pelo Novo Semanário, com o apoio da sociedade de advogados CMS e da agência imobiliária Fine & Country.

Porém, num contexto de grave crise no acesso à habitação, dispondo do maior orçamento municipal de sempre, quando chamado a votar uma proposta para aumentar a oferta de imóveis para habitação e aumentar o número de casas disponíveis no mercado de arrendamento, concretizada por via da redução fiscal - através da isenção de taxas e impostos -, Carlos Moedas votou contra, além de, naturalmente, neste contexto de subida generalizada dos preços, com impacto no rendimento disponível, ter votado, também, contra o apoio às famílias no pagamento das suas rendas e do crédito à habitação.

E contra que isenções fiscais votou Carlos Moedas? Para aumentar o stock habitacional em Lisboa, votou contra a isenção de taxas referentes a projetos urbanísticos e obras em imóveis, para fins habitacionais. Para aumentar o número de imóveis disponíveis no mercado de arrendamento, votou contra (i) a isenção de taxas referentes a obras em imóveis a afetar ao mercado de arrendamento; (ii) a devolução do máximo de 5% da participação municipal em sede IRS aos proprietários de imóveis; (iii) a isenção até 50% do IMI. Votou contra mais habitação em renda acessível através do arrendamento de imóveis ao Município, garantindo (i) a isenção de IMI; (ii) a isenção de IRS ou IRC das rendas recebidas; (iii) a devolução do máximo de 5% da participação municipal em sede IRS; (iv) a isenção de taxas municipais referentes a obras; (v) a isenção de IMT na aquisição de imóveis. Em suma, votou contra baixar taxas e impostos.

Falta de recursos financeiros disponíveis, diriam? Não. Pois, o orçamento municipal vai ser reforçado em mais de 85M de euros – não consignados – a transitar de 2022. Foi, mesmo, porque Carlos Moedas não quis.

“As pessoas não aguentam pagar mais impostos”? Para Carlos Moedas, ‘ai aguentam, aguentam’.

Em Carlos Moedas, raramente, a tese resiste à antítese, correspondendo a antítese à síntese. Esta tem sido a sua dialética. Na contradição de ideias – aqui, entre o que se diz e o que se faz – prevalece o cinismo eleitoral. À política dos “Novos Tempos” falta coluna vertebral onde sobra esponjosidade que meandra à cata de aplauso.

A visão de Carlos Moedas para a habitação em Lisboa não é diversificada, é estratificada. É um projeto de classe. Ideológico. Em que demite os instrumentos ao seu dispor de uma função reguladora, porque para Carlos Moedas esse papel compete ao “mercado” - não nos esqueçamos que Carlos Moedas confirma que: “dar respostas aos investidores é a prioridade do meu mandato”, enquanto afirma que só vai construir nos “bairros desfavorecidos”. É uma visão que não admite, sequer, conferir mais liberdade, associando redução de impostos à afetação do investimento e do património à habitação – com o objetivo de chegar à classe média -, baixando o preço por via do aumento da oferta, porque a sua visão está fechada em “mercado” e habitação social. A classe média não tem lugar na visão de Carlos Moedas.

Mas, além de Carlos Moedas se ter revelado pequeno na visão, com vistas curtas, também, deixou patente a sua falta de ambição. Falta de ambição em agregar, indisponibilidade para o diálogo, incapacidade de aceitar propostas que não sejam as suas – tudo, o contrário daquilo que vem reclamando desde o início do mandato. Com isto, Carlos Moedas perde o capital político de reivindicar outras reduções de impostos, bem mais injustas. Nem moderno nem coerente, Carlos Moedas assume-se vazio na retórica porque quando tem oportunidade para baixar impostos vota contra – e este foi o único sinal que conseguiu dar às pessoas.

Só uma política de fação, deslocada do centro, distante da classe média, justifica que a direita radical - seja a Iniciativa Liberal ou a extrema-direita do Chega - se mantenha em mute, no bolso, desde o início do mandato, mesmo quando Carlos Moedas fez reprovar uma proposta de isenção generalizada de taxas e impostos aos proprietários que construíssem habitação ou afetassem o seu património imobiliário ao fim habitacional.

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