Opinião

Aviação no Exército, aí vamos nós outra vez…?

Aviação no Exército, aí vamos nós outra vez…?

Miguel Machado

Tenente-coronel na reforma

Desconheço se alguma vez se fez uma avaliação ao nível da Defesa Nacional ou do Exército do que foi o inenarrável processo da Aviação Ligeira, mas talvez não fosse má ideia revisitar a história. Uma grande dose de realismo deve presidir a um processo desta natureza

No dia do Exército de 1989 o General Firmino Miguel, Chefe do Estado-Maior do Exército, lança publicamente a questão dos helicópteros para o ramo terrestre associados à transferência das Tropas Paraquedistas da Força Aérea para o Exército. Em 1991 o Sistema de Forças aprovado pelo Ministro da Defesa (Fernando Nogueira) “coloca” helicópteros e paraquedistas no ramo terrestre, e em 1 de Janeiro de 1994, mais de 2000 paraquedistas, todo o seu armamento, equipamento e unidades, passam a integrar o Exército. Tudo rápido! Bastou a decisão política, pessoal, material e competências já existiam.

O processo da “Aviação ligeira” ia ser muito diferente. Exceto a ex-Base Aérea 3 transferida para o Exército com os paraquedistas para instalar o Comando das Tropas Aerotransportadas tudo tinha de ser construído de raiz: da formação do pessoal à aquisição dos materiais. Em 1997 foi criada a Comissão Instaladora do Grupo de Aviação Ligeira do Exército (GALE), em 1999 é assinado o contrato de compra de 9 helicópteros ligeiros EC 635M e em 1 de Junho de 2000 o primeiro de 7 comandantes que o GALE iria ter até 2014, tomou posse e recebeu o Guião da Unidade em Tancos. Entre o ano 2000 e 2014, o GALE (2000-2006), designada agora Unidade de Aviação Ligeira do Exército (2006-2014), esteve aquartelado na antiga BA 3, agora Comando da Brigada de Reação Rápida, e extinguiu-se sem nunca ter recebido um helicóptero. Entre o anúncio público do CEME e o fim do processo foram 25 anos e 14 ministros da defesa!

Os paraquedistas por seu lado (que estavam no mesmo “pacote de intenções” de 1989) como sempre fizeram desde que a Força Aérea tem helicópteros, com mais ou menos horas de voo porque as dificuldades são realmente muitas, lá fazem o seu treino e exercícios agora com os “Merlin” e com os “Koala” da Cruz de Cristo, mesmo estando no Exército.

No Expresso de 24 de Março de 2023, a Ministra da Defesa Nacional dá conhecimento público que a nova Lei de Programação Militar incluirá “…um novo projeto, a Aeronave de Apoio Próximo, para proteger Forças Nacionais Destacadas através de ações de reconhecimento e de vigilância, com rapidez e em profundidade…".

Depois dos paraquedistas nos anos 90 agora a justificação para os meios aéreos (aviões ou helicópteros?) são as Forças Nacionais Destacadas. Já não se tratará de transporte de tropas como nessa altura, mas aeronaves com capacidade para usar armamento.

Desconheço se alguma vez se fez uma avaliação ao nível da Defesa Nacional ou do Exército do que foi o inenarrável processo da Aviação Ligeira, mas talvez não fosse má ideia revisitar a história. Uma grande dose de realismo deve presidir a um processo desta natureza. Se temos em Portugal quem opera aviões e helicópteros militares, talvez se deva começar por aí.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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