24 março 2023 0:28
Andrew Tate radicalizou milhões de jovens “normais” com uma mensagem de misoginia que se julgava marginal
24 março 2023 0:28
Deduzo que muitos leitores não saibam quem é Andrew Tate. Desconhecia a criatura até há uns dois meses. Estranho, dado que se trata de uma das pessoas mais googladas do planeta (mais do que a Kardashian e o Trump combinados) e com mais visualizações nas redes sociais do que Rihanna. Tate, 36 anos, é anglo-americano, embora tenha vivido a maior parte da vida na Grã-Bretanha, excetuando os últimos anos em que se “radicou” na Roménia, que julgava ser um paraíso de impunidade. Na data em que escrevo, ainda está preso preventivamente. Um megainquérito efetuado nos EUA à Gen Z (11–20 anos) descobriu que Andrew Tate é o influencer mais popular por entre rapazes e... raparigas. Na Grã-Bretanha, há escolas que têm programas em curso para “desradicalizar” os adolescentes das ideias de Tate, a pedido do governo. Tate, um ex-kickboxer, fugaz concorrente do “Big Brother” inglês, que aparece nos vídeos a fumar charuto, a falar dos seus carros desportivos e a mostrar o corpo depilado e tatuado, é o guru “da absoluta misoginia”, da defesa da hipermasculinidade para chegar ao sucesso, da ideia “natural” de que as mulheres servem para obedecer, e centenas de outros conselhos que os pais descobrem horrorizados ser a cartilha moral que os filhos rapazes adotaram secretamente. E que sabem calar, porque é na “irmandade” da “manosfera” (net masculina) que estas coisas se aprendem e debatem. Tate foi banido das redes sociais em 2022. Só Elon Musk o recuperou para o Twitter, e tinha um podcast que rendia muito material para pequenos clipes de TikTok. Andrew Tate tem milhões de jovens adeptos nascidos numa era em que nunca tinham ouvido ninguém dizer impunemente que “as mulheres vivem para nos servir” e que alguma violência é legítima, que fazê-las render numa webcam só depende de técnicas que se aprendem, e muitos outros “tabus” com que o autointitulado “rei da masculinidade tóxica” conseguiu deixar fascinados milhões de rapazes.
Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.