A educação tem estado na ordem do dia no que toca às reivindicações levantadas pelos professores e toda a polémica envolvente. Só agora se discute este assunto, que já vinha em crescente há muitos anos, mas que só neste momento despertou a atenção da opinião pública, pelo destaque atribuído através dos meios de comunicação social.
Contudo, pergunto-me se, no fundo, todos não sabíamos já a falta de sentido que a palavra “educação” vinha a adquirir nas escolas há vários anos e que culminou com a insatisfação de todos. Sim, porque, convenhamos, assistimos em muitos estabelecimentos de ensino a algo a que pouco se poderia chamar “educação”.
Trata-se pois, de um ensino obsoleto, que não trabalha o “ser”, a formação da pessoa como um todo integrado de vários saberes e competências, antes encarando a aula como um espaço em que o professor discursa durante tempo demasiado e em que os alunos são, muitas vezes, convidados a memorizar conteúdos. Nada contra a memorização, ressalvo! Aliás, a capacidade de memorização é, como sabemos, uma forma de inteligência e uma excelente ferramenta na aprendizagem. Mas não chega. Aliás, fica muito aquém do que devemos desejar para os nossos alunos e alunas, que são os homens e mulheres do futuro.
Pensemos: em que mãos pretendemos colocar o nosso mundo? Em mentes robóticas ou em seres humanos que pensam? A resposta parece-me clara. Mas talvez não para todos. Mentes não pensantes são mais facilmente manipuláveis, e isso não vem de hoje. São séculos de História em que aprender pertencia à esfera de muito poucos que sabiam ler e escrever. Hoje, muitos mais o sabem, mas vários continuam na sombra da ignorância, porque, apesar de terem chegado mais longe no seu percurso académico, demonstram pouco espírito crítico e, pior do que isso, um lado humano muito pobre. Não todos, claro. Existem seres humanos incríveis, todos sabemos disso. Mas, sendo professora de português e de inglês há mais de 20 anos, continuo sem perceber por que razão ou por que razões se continua a não utilizar a literatura, por um lado pelo desfrutar da própria beleza da língua, por outro lado como mote para o debate de temas.
As perguntas que constam nos manuais de português, por exemplo, são, várias vezes, redutoras e em nada acrescentam ao conhecimento da obra. Na verdade, os alunos precisam de compreender o porquê de estarem a estudar determinada obra ou determinado texto e necessitam muito de aumentar a sua cultura geral, sendo que a aula de português em muito pode também fomentar a curiosidade e aumentar o conhecimento sobre o mundo, o que considero essencial.
Como pode um professor ter prazer em dar uma aula e um aluno desfrutar da mesma quando se veem acorrentados a questões de manuais ultrapassados e que não despertam o gosto do aluno para a própria língua? Já para não falar de competências como a oralidade e a escrita, tão pouco trabalhadas e tão transversais a todas as áreas do saber. Saber comunicar, saber ouvir, saber interpretar… Será que estes domínios são devidamente trabalhados nas aulas e será que lhes é conferido o espaço que merecem nos programas curriculares?... Parece-me, honestamente, que não… Já escrevia Shakespeare, “to be or not to be, that is the question”. Para mim, a grande questão é mesmo essa: a da dimensão do “ser”, que só com a formação e a educação adequada se consegue concretizar.
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