O que é o Gaslighting?
A origem da palavra remonta a uma peça de teatro (e, mais tardem um filme) de 1938 que retrata a história de um homem que faz a sua mulher acreditar que está a ficar louca. Sem que a mulher veja, o marido baixa constantemente as luzes (na época, a gás) e, quando ela repara na baixa luminosidade, ele insiste que as luzes estão com a claridade habitual e que há algo de errado com ela por pensar o contrário.
Ou seja, há uma clara manipulação psicológica de uma pessoa durante um largo período de tempo. O suficiente para que a própria questione os seus próprios pensamentos, a sua percepção da realidade ou mesmo as suas memórias. Isto conduz a um sentimento de confusão, baixa confiança e auto-estima, bem como a instabilidade emocional e, consequentemente, à dependência do agressor.
Atualmente, o conceito de gaslighting tem um sentido mais lato e refere-se ao ato ou prática de enganar alguém deliberadamente, frequentemente em proveito próprio.
Como podemos identificar um praticante de gaslighting?
Maioritariamente através destes 5 sinais:
1. Faz constantemente promessas que não cumpre
2. Muda de conversa quando o assunto não lhe interessa e desvia a atenção para outra coisa (por norma, outro problema ou desafio)
3. Mente ou faz acreditar que a outra pessoa é que está com “paranóias”
4. Distorce a realidade e manipula (quando não mente)
5. Força a tomar decisões rápidas que não exigem muita deliberação (para que se consiga aproveitar)
E como nos podemos proteger do Gaslighting?
Pode dizer-se que o gaslighting é o lado negro da inteligência emocional – quando uma pessoa utiliza o seu conhecimento de emoções para manipular outra. Resulta especialmente bem quando é alguém familiar, que o gaslighter conhece bem. Quando somos vítimas aprendemos, regra geral, a perceber quando outros estão a tentar utilizar essa mesma técnica para nos manipular. É como se desenvolvêssemos um mecanismo de auto-defesa ou soasse um alarme emocional no nosso sistema.
A melhor maneira de nos protegermos deste tipo de pessoas com que “esbarramos” tantas vezes no nosso dia a dia, nos mais variados contextos, é trabalhar a nossa própria inteligência emocional, fortalecendo-a. Mas isso dá muito trabalho e nem todos estão dispostos a isso. O preço a pagar por não querer trabalhar a inteligência (emocional ou de outra natureza) é cair nas mesmas armadilhas vezes sem conta.
Nós temos esse problema coletivo. Os portugueses estão entre as maiores vítimas de Gaslighting pelo simples facto de se contentarem com o nível de inteligência emocional e segurança que têm. O sangue latino que corre e faz lembrar que “podia ser pior e deixar andar” é o mesmo que pulsa forte de revolta quando é enganado – na folha de ordenado, na mudança de carreira, na compra de casa, no acesso aos serviços. Somos filhos dos que ficaram em terra na época dos descobrimentos.
A falta de meritocracia e a mediocridade do português se nivelar por baixo em vez de querer ser bom como os melhores, não é mais que amor. Amor próprio, acima de tudo. E é por isso que é urgente amar para que nos consigamos também elevar enquanto sociedade. Não só amarmos a nós mesmos mas também a nossa cultura, as nossas empresas, o nosso país. Todos os problemas do mundo acontecem por falta de amor.
O que tem o fenómeno de Gaslighting a ver com amor se é precisamente o oposto?
O amor urge e importa ainda mais quando nos privam dele. Quando nos assombra uma guerra, nos atormenta um cenário pós-pandémico ou nos derruba uma inflação. E quando estas coisas acontecem, percebemos que interessa todo o tipo de amor – o que é pelas coisas, o que é pelas pessoas e até aquele que não é por algo tangível, como são os ideais ou as tradições.
Já dizia Eugénio de Andrade no seu poema:
É urgente o amor
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Este sentido de urgência é real. Talvez nunca tenha sido tanto como agora. Quando a realidade à nossa volta parece mais distorcida que nunca e as coisas – e os sentimentos – se confundem na pressa do dia-a-dia.
É (mesmo!) urgente estar presente. Só assim conseguimos perceber que não nos estão a baixar as luzes.
Que não estamos a ser enganados. Só assim é possível sentir o amor – aquele que é verdadeiro e altruísta, que se entrega sem estar à espera de receber nada em troca. Sem ser para proveito próprio ou com segundas intenções. Isto é tão urgente que pede medidas. É urgente criar um Ministério do amor. E não é tão descabido assim. Há uns tempos, se alguém dissesse que iriam ser criados postos de trabalho com pessoas responsáveis por ajudá-lo a encontrar o seu propósito e super poder e encontrar uma função na empresa onde possa explanar todo esse potencial – designadas de “Chief of Happiness” – também ninguém acreditaria.
Provavelmente é neste mesmo novo Ministério que cabe o “Chief of Love and Empathy”, alguém que garanta que as pessoas se tratem com respeito, empatia e consideração – os ingredientes base do amor.
As pessoas precisam de se sentir seguras, vistas, ouvidas e respeitadas. Devia ser simples.
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