As reações não se fizeram esperar, como é evidente. Da esquerda à direita, os líderes políticos italianos dizem que não admitem ameaças de Bruxelas. Tudo porque a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse que a União tem mecanismos para agir se a situação política italiana evoluir numa “direção difícil”. Como, aliás, aconteceu com a Hungria e a Polónia, com a Comissão a censurar os dois países, impondo sanções e exigindo que estivessem de acordo com os valores democráticos da UE.
Acontece que, obviamente, Itália, Hungria e Polónia não são a mesma coisa. E o peso relativo de cada um dos países, no seio da União, não é o mesmo. Não é o peso político. Nem, mais importante ainda, o económico. Itália é a terceira economia da zona euro.
E, a menos de 48 horas da abertura das urnas, para umas eleições legislativas que podem mudar o rumo italiano, os partidos querem que fique muito claro que não admitem ingerências deste tipo.
O que é também muito claro, neste ato eleitoral, é a possibilidade de, depois de domingo, o país viver mais umas semanas de caos, reuniões intermináveis, discussões acesas no Parlamento e no Senado, e instabilidade política. Um cenário mais ou menos normal em Itália, dir-se-ia. Mas um cenário muito pouco favorável no contexto atual - de crise económica, de guerra na Europa e de crise energética.
Se ganhar a extrema-direita, como dizem as sondagens, cabe a Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos de Itália, escolher um Governo que terá que negociar com os parceiros da coligação: Matteo Salvini, da Liga, e Silvio Berlusconi, da Força Itália.
Mas o problema mais grave não é a escolha de nomes. Isso já deve estar pensado e os cargos já devem ter sido prometidos. O pior vai ser entenderem-se em relação a várias questões, que os dividem. Desde a necessidade de um orçamento retificativo, que Salvini quer, mas Meloni não. Até às sanções contra a Rússia, que Salvini acha que não servem para nada e que Berlusconi defende. Passando por divergências quanto aos impostos, à discussão sobre a autonomia, à revisão da Constituição e aos apoios às famílias mais carenciadas.
Ou seja, a direita e a extrema-direita italianas estão coligadas, para tentarem vencer as eleições italianas e voltarem ao Governo. Mas não estão em total sintonia sobre vários pontos importantes. E isso vai obrigar a longas negociações. Sendo claro que Salvini tem sido sempre mais fiel ao partido que lidera do que a governos e parceiros políticos.
Por outro lado, se por acaso, e contrariamente ao que dizem as sondagens, o Partido Democrático, da esquerda moderada, liderado por Enrico Letta, for o mais votado, e for chamado a formar governo, vai ter uma tarefa quase impossível, perante uma maioria de direita no Parlamento, que lhe atira, imediatamente, com moções de censura. E sem ter conseguido entender-se, numa coligação, com o Movimento 5 Estrelas e os outros partidos da esquerda.
Como se tudo isto não fosse, já por si, confuso, ainda há dois pequenos partidos, o Ação e o Itália Viva, o chamado Terceiro Polo, que estão a crescer nas intenções de voto, e que podem fazer toda a diferença, apoiando, ou não, um executivo liderado por Letta.
Enquanto tudo isto, há mais de 30% de italianos que ainda não sabem em quem votar. Muitos vão abster-se. E muitos outros farão o que têm feito os europeus em vários países, deixando as empresas de sondagens e os comentadores à beira de ataques de nervos. Decidem quando estiverem em frente ao boletim de voto e, assim, mostram que, mais do que eleitores, são humanos que se regem por emoções, medos e preocupações, e que é isso que dita quem elegem.
Sobretudo numa nação, como a italiana, que já teve mais de 70 governos desde o final da Segunda Guerra Mundial, e onde as legislaturas não costumam durar até ao final do mandato.
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