No fim de mais um ano letivo no ensino superior, aproveito este marco temporal para refletir sobre um dos maiores flagelos que afeta o ensino, mas afeta também toda a sociedade, sendo que para qualquer jovem a transição para o Ensino Superior acarreta vários desafios, numa realidade completamente nova. Falo, pois, de um tema que tem vindo a ser cada vez mais abordado: a saúde mental.
Certamente que há quem possa achar que já se fala bastante sobre o tema, ou até que a preocupação em relação ao mesmo é um exagero, porém, enquanto toda a comunidade académica continuar a ser afetada, nunca é demais procurar alertar e agir relativamente a este problema. São vários os estudos e inquéritos que demonstram como os estudantes atingem níveis preocupantes no que concerne à sua saúde mental, sendo que a crise pandémica veio agravar ainda mais esta situação. Parece-me, pois, que devemos trabalhar no âmbito da prevenção, nomeadamente através de ações de inclusão de todos os estudantes, da sensibilização referente à importância da saúde mental, mas também numa forte aposta no desporto universitário, garantindo todas as condições e cumprimento dos regulamentos em vigor (nomeadamente o estatuto do estudante-atleta), para que haja um verdadeiro incentivo e promoção da prática desportiva. Contudo, dado que estamos a falar de uma realidade já bem estabelecida, prevenir não é suficiente.
É necessário ajustar os modelos pedagógicos, mas também os regimes de avaliação, pois os desafios colocados à sociedade mudaram, e é bom que a forma de ensinar e avaliar também acompanhe esta mudança. É imperioso que haja um compromisso de reforçar os serviços de apoio psicológico à comunidade académica, sendo que a procura dos estudantes tem vindo a aumentar, mas a resposta tem ficado aquém. Neste âmbito, é importante afirmar que a visão de que as Instituições de Ensino Superior não devem ver no apoio psicológico uma prioridade para toda a sua comunidade académica é de uma desresponsabilização extrema e até altamente preocupante. De que serve formar profissionais e académicos se os mesmos não conseguirão exercer aquilo que aprenderam fruto de uma situação de saúde mental débil?
Obviamente que as Instituições não são hospitais, nem centros de saúde, mas são um eixo fundamental da sociedade, e como tal, devem ter a obrigação de se preocupar, não só com a área de ensino e da ciência, mas também em garantir que toda a comunidade académica, e em particular os estudantes que formam, são capazes de se inserir na comunidade e retribuir aquilo que aprenderam enquanto aproveitam o seu quotidiano. E uma visão contrária a esta pode ser extremamente perigosa, pois os estudantes de hoje, são os trabalhadores de hoje e de amanhã, e parece-me que a saúde mental pode ser um autêntico flagelo de uma sociedade que não se preocupou em agir enquanto podia.
É urgente uma maior articulação entre a tutela do Ensino Superior e da Saúde, garantindo que os casos mais graves são devidamente encaminhados para o Serviço Nacional de Saúde, mas também trabalhando articuladamente com os gabinetes de apoio ao estudante que devem ver um reforço no número de profissionais afetos à saúde mental.
A garantia de que todos os estudantes, em especial os estudantes bolseiros, têm acesso gratuito a consultas de psicologia deverá ser uma prioridade, para recuperar o tempo perdido e contrariar a prevalência dos indicadores negativos de saúde mental. Certo que este texto é apenas um pequeno contributo e sendo que muito mais haveria a dizer, importa referir que se queremos uma sociedade mais capaz de enfrentar os desafios, teremos necessariamente de investir em matéria de saúde mental.
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