Hoje, segunda-feira, 31 de Janeiro, celebra-se, segundo a liturgia católica, Santa Marcela e São Pedro Nolasco, mas a legislatura lusa, essa, recusou celebrar o dia de São Marcelo e o dia de São Pedro Nuno.
Ontem, houve uma esmagadora vitória de António Costa e do PS, vitórias da IL e do Chega, e expressivas derrotas do resto. Mas as derrotas não se esgotam nos partidos: Marcelo e Pedro Nuno Santos perderam também. Perderam nas apostas que fizeram, e perderam nas aspirações que acalentaram. O primeiro, porque perdeu toda a margem de inscrever no país uma marca pessoal relevante e viu comprometido o seu legado: no final do seu segundo mandato o país estará provavelmente mais pobre e entregue à esquerda. O seu tempo passou. O segundo, porque viu gorada a sua expectativa de guinar o PS à esquerda radical. O seu tempo já não é agora, e poderá não vir a ser.
As extremas-esquerdas perderam com estrondo: Roma não paga a traidores, Portugal também não. O CDS – que talvez mereça outra atenção, quiçá um epitáfio mais digno – implodiu. O partido que resistiu no Palácio de Cristal às forças antidemocráticas da esquerda, não sobreviveu às mitomanias de um irresponsável alcandorado nos ombros de gente incompetente, ressentida e pequena.
E o país? O país escolheu, e um país que escolhe é um país responsável pelo seu destino. Terminada a campanha é tempo de trabalhar.
O país enfrenta uma tripla ameaça de empobrecimento: o rumo socialista que tem seguido e que ontem confirmou; a inflação, essa assassina silenciosa, que penaliza todos, mas mais fortemente os mais pobres; e a iminência da subida das taxas de juro, que pode ser uma tragédia sobre as parcas economias familiares que têm crédito à habitação, mas que é também um entrave ao investimento e ao crescimento económico.
Para lá das ameaças, o país necessita de um orçamento urgentemente, tendo agora o PS a oportunidade de apresentar uma solução sem as amarras demagógicas dos seus antigos parceiros da geringonça. Precisa, também, de operacionalizar ajuizadamente o PRR. Seria bom que, na intersecção do orçamento e do PRR, o governo estancasse o aumento da despesa e promovesse o crescimento. Seria excelente que, enquanto os estados mantêm autonomia para o efeito, apostasse na competitividade fiscal.
Na recuperação pós-pandémica, é necessário devolver esperança e pacificar e reestruturar sustentavelmente o SNS. Digo SNS, querendo dizer Sistema Nacional de Saúde, integrando todos os seus actores – públicos, privados e solidários -, e não apenas o Serviço Nacional de Saúde. O objectivo? O bem-estar do utente e não a obsessão ideológica.
É ainda urgente uma reforma Administrativa, que fortaleça, agilize e dignifique as funções do Estado: fazendo mais e melhor com menos. É fundamental uma reforma da Justiça, e um eficaz combate à corrupção.
Uma ilusão? Talvez seja, de facto, estulto esperar diferente dos mesmos protagonistas. Mas, então, fica o guião para quem, finalmente, venha a assumir a liderança da oposição à direita, depois de quatros anos de ausência de Rio e de dois anos confrangedores da caricatura personificada pelo Chicão. Talvez, entretanto, a IL possa pegar nele, já que, justamente, conseguiu ontem um lugar à mesa da solução alternativa ao socialismo. Talvez.
O que definitivamente não teremos para já é um PS liderado por um neo-marxista como Pedro Nuno Santos, nem um Presidente da República com alguma utilidade. Hoje não é o seu dia.
Corações ao alto, hoje é dia de Santa Marcela. Santa Marcela, tal como ontem a direita pelo PS, foi torturada pelos Visigodos, mas conseguiu que poupassem Princípia, uma aluna sua. A pergunta é: quem é a Princípia desta história?
Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia