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Opinião

O futuro começa agora

O futuro começa agora

António Costa Silva

Ex-ministro da Economia e do Mar

Quando tudo à nossa volta parece desmoronar-se, é preciso ir buscar forças ao fundo de nós

Estamos confrontados com a pior crise das nossas vidas. Mais de seis mil mortos. Cada morte é trágica e a dor que provoca indizível. A crise sanitária transformou-se numa crise económica e social profunda. A cada dia há mais famílias flageladas, mais empresas na falência, mais trabalhadores no desemprego. Apesar dos esforços das autoridades, das empresas e dos cidadãos, a situação vai piorar antes de melhorar. Há duas formas de reagirmos a este terramoto: entrarmos no desespero, muralharmo-nos dentro de nós próprios e demonizar os outros; ou podemos lutar contra o desespero e o fatalismo, compreender que a origem da crise é exógena, afeta o mundo inteiro, expõe a fragilidade da condição humana e exige uma resposta e uma mudança de comportamento. Para honrar os mortos e derrotar o fatalismo, é preciso pensarmos com clareza, agarrar o presente, salvar o que puder ser salvo e fazer da perda uma força para a reconstrução do país. O futuro começa agora. Quando tudo à nossa volta parece desmoronar-se, é preciso ir buscar forças ao fundo de nós, olhar a noite de frente e vislumbrar os fios de luz que podem iluminar o caminho. Temos de sair da armadilha do desespero e do medo para construir a esperança coletiva. Vivemos em sociedades exasperadas e ressentidas que limitam e reduzem a esperança. Estamos confrontados com a desilusão da política, que muitas vezes não resolve os problemas das pessoas. Mas o futuro está sempre em aberto e não pode ser colonizado por um passado que desiludiu nem pode nascer da inércia administrativa que nos trava. Tudo depende das nossas escolhas. Como disse Helmut Willke: “A política é a tentativa de civilizar o futuro.” Para isso temos de nos mobilizar, porque o futuro só faz sentido como desígnio coletivo e ele repousa na esperança que combina o entusiasmo com o conhecimento. E os sinais de esperança estão aí.

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