Ouvindo Eduardo Lourenço, tudo parecia simples e claro, mas à medida que dele nos afastávamos as coisas complicavam-se. Ele tinha o segredo dos sábios e sempre o demonstrou, sem o dizer
De Eduardo Lourenço, ao pé de quem somos todos aprendizes da vida, já quase tudo foi dito, quase tudo publicado, relembrado desde a hora em que, esta segunda-feira, se soube que ele falecera. Tinha 97 anos, mas até ao fim foi uma das pessoas mais subversivas que conheci. E era-o, não porque proclamasse inconveniências ou ardores revolucionários, mas porque em cada frase sua há uma interpelação, como que inevitável, a que pensemos. E pensar, nesta sociedade de tribos, carneiros, rebanhos e manadas tornou-se, talvez, na mais subversiva das atividades.
Conheci outro português assim. Que, talvez com menos serenidade (era mais novo e deixou-nos em 2006, com apenas 69 anos), também nos desafiava a cada momento a pensar fora da norma, para além do estabelecido: Fernando Gil, também ele um pouco como as crianças na idade dos porquês; ou sabendo, como dizia Einstein, que “o respeito irrestrito à autoridade é o maior inimigo da verdade”. Ora, num tempo em que a autoridade não se refere tanto ao poder político, como às sumidades autoproclamadas a quem ouvimos dizer os mais rematados disparates com ar doutoral, pensar fora do sistema estabelecido é um desafio constante.
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