De acordo com o FMI, estamos a viver a maior crise desde pelo menos a Grande Depressão.
Nos EUA, em apenas duas semanas, 13,5 milhões de pessoas perderam o emprego, cerca de dez vezes acima do recorde histórico desde que há registos.
Em Portugal e na Europa, retivemos muitos empregos através de mecanismos de apoio aos salários (lay-off).
Mas após o fim do confinamento, quando os Estados deixarem de pagar parte substancial dos salários, os empregadores vão ter que decidir quantos empregos mantêm a partir do momento em que tenham de pagar 100% do salário. Podemos estar em risco de perder milhões de empregos na Europa.
A confiança afundou-se com a crise, pelo que necessitamos de um impulso sem paralelo à confiança dos empresários, que precisam de acreditar que vão ter procura para os seus produtos.
Precisamos por isso de um grande Plano de Recuperação para a Europa, com uma primeira fase, muito urgente, de recuperação da procura e da confiança. Para que os empresários decidam manter o máximo de empregos possível.
Vivemos hoje numa situação próxima da armadilha da liquidez, pelo que a política monetária tradicional se transmite de modo muito lento à economia real e ao emprego.
O investimento público, pelas regras criadas, chega também de forma lenta às economias.
Por isso, precisamos de medidas muito fortes e pouco tradicionais para impulsionar a economia.
Aprendemos na crise de há uma década que as transferências para as famílias, em particular as mais pobres e das classes médias, resultam mais rapidamente em recuperação económica, pelo seu efeito no consumo. Esta devia ser provavelmente a primeira fase do Plano de Recuperação que estamos a desenhar na Europa.
Porém, se estas medidas forem adotadas pelos governos nacionais, resultarão num aumento brutal das dívidas públicas.
É por isso que precisamos de mais Europa. É por isso que o Banco Central Europeu tem de garantir que fará tudo o que for preciso para que se mantenha este ambiente de taxas de juro iguais ou próximas de zero por décadas. E, mais ainda, as instituições europeias, e desde logo o BCE, deverão ponderar seriamente as medidas não-tradicionais defendidas no passado por pessoas como Ben Bernanke, antigo Presidente da Reserva Federal Americana (o Banco Central dos EUA), que defendeu abertamente a entrega de “Helicopter Money” aos cidadãos(1).
Se assim não for, em breve os balanços dos Governos nacionais tornar-se-ão insustentáveis e o próprio BCE terá de olhar para as medidas a adotar no seu balanço.
Estes não são tempos normais, por isso é preciso pensar fora da caixa. Correr riscos, sim. Ir onde nunca fomos, sim. Mas quem pode pensar que recuperaremos desta depressão sem fazer aquilo que nunca foi feito?
Eurodeputado
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