Opinião

Comunicar COVID 19

Jorge Penedo

Vice-presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos

1 milhão de infetados em Portugal. Afirmação explosiva da Diretora Geral da Saúde marca a comunicação do Estado sobre o COVID 19.

Poucos devem ser os portugueses que não ouviram falar em Coronavirus. Menos talvez os que conhecem o COVID 19.

Este é certamente o tema do ano de 2020. De contornos ainda não totalmente conhecidos.

É, no entanto, o tema mais falado deste inicio de 2020.

Todos nós sabemos o que acontece quando a massificação desgovernada da comunicação acontece em fenómenos de saúde pública. A confusão instala-se, as fake news disparam,as informações contraditórias reproduzem-se rapidamente e os comportamentos indesejados multiplicam-se.

As fontes fidedignas são poucas e as necessidades de informação são muitas. A realidade do que agora se afirma, constata-se claramente, nas recentes declarações da Sr. Ministra da Saúde, que, no mesmo dia, é obrigada a vir reconhecer que errou.

E perguntamos nós o que se passa num país onde o topo do Ministério da Saúde produz públicas afirmações que estão erradas?

Este é um problema grave que a DGS não tem acautelado, não acompanhando o que é a realidade da comunicação nas sociedades atuais.

Bem visível é o atual consumo de máscaras que em muitos aumentou mais de 10 vezes. Num país onde ainda não existe um único caso detetado.

Acredito que em situações de crise com estas características tem de haver uma única entidade pública a liderar a crise. A liderar as decisões. E a liderar a comunicação. E no atual momento acho que essa entidade deve ser a DGS.

O tema é complexo. A situação é complexa. O imprevisto é uma constante. Existem, no entanto, organismos internacionais altamente creditados que acompanham esta situação com atualizações diárias.

Por isso penso que é uma das principais funções da DGS comunicar com rigor e com atualidade as posições e políticas que devem ser assumidas a cada momento.

A atual comunicação faz-se por Conferências de Imprensa Intermináveis e por circulares destinadas a profissionais esclarecidas. E agora por entrevistas explosivas. As linhas de apoio telefónico funcionam com deficiências e nem sempre com o rigor adequado.

A DGS tem de mudar rapidamente de estratégia e iniciar uma política de comunicação baseada em mensagens muito simples e compreensíveis para toda a população.

A DGS tem de perceber quais as mensagens essenciais para os 10 milhões de portugueses e decidir como as comunicar.

A DGS tem de conseguir atingir os 10 milhões de portugueses de forma a poder cumprir uma das principais missões da saúde publica que é o informar e o evitar a desinformação.

A DGS tem de apostar em novos meios de comunicação e gerar conteúdos direcionados para diferentes populações e com diferentes acessos.

Uma população informada é mais racional e mais capaz de seguir comportamentos adequados a situações de grande crise.

A DGS tem de ter uma política de informação transparente e atualizada. Mas tem de perceber que a forma como o faz e a dimensão de quem pretende atingir é particularmente relevante.

Ignorar as redes sociais é, hoje, totalmente incompreensível.

Não utilizar a imagem que, cada vez tem maior peso nos processos de comunicação, é totalmente incompreensível. Imagens, fotos, vídeos.

Deixar crescer a dúvida é um dos maiores estímulos ao aparecimento de comportamentos desajustados e negativos.

A DGS e a sua Diretora Geral tem de se afirmar na comunicação como se tem afirmado no patamar técnico. Num patamar de excelência. E resistir a tentações propagandísticas de afirmar que temos milhares de camas para doente com COVID 19. Ou que vamos espalhar os doentes por vários hospitais.

Comunicar melhor sobre a futura Pandemia do COVID 19 é hoje imperativo.

Comunicar melhor sobre a futura pandemia do COVID 19 é hoje essencial para conseguirmos debelar este fenómeno com o qual vamos ter de lidar. Não sabemos bem por quanto tempo.

Jorge Penedo,

Vice-Presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate