Recentemente estreada na Netflix, “Untamed”/“Indomável”, escrita pelo mesmo argumentista que nos deu “The Revenant”, é a típica série para ver a dois. Este visionamento em parelha, uma atividade absolutamente trivial e comum a muita gente em muito sítio, ainda que um adormeça de vez em quando, é uma parte fundamental nesta nova forma de ver televisão a que chamamos streaming e pode muito bem ter sido um dos principais motores do seu desenvolvimento e expansão.
Noutro tempo, quem dissesse que ia ficar em casa para ficar a ver televisão era insultado e visto como um perdedor, um loser, como cantou Beck. Ninguém em parte nenhuma aceitaria o desculpa lá, mas prefiro ficar em casa a ver o 1,2,3, em caso de convite para uma jantarada ou sessão de cinema. Hoje, é pacífico ouvir que se vai ficar em casa a ver uma série. É curioso que o streaming tenha pulado por cima esse preconceito sem ter de fazer nada por isso, simplesmente caiu no goto de quem controla os discursos sobre o que é próprio e o que não é.
Pode soar a conversa de cordel, mas é mais fundo do que isso: porque é que a televisão tem má reputação nas nossas conversas e porque é que o streaming tem tão boa? Provavelmente o potenciar de um visionamento a dois, seja em casal, seja pai e filho, avó e neta, tem alguma coisa a ver o assunto. As séries parecem ser pleasure, mas não guilty pleasure, ainda que a infidelidade Netflix seja um facto vivido por alguns, onde ser-se apanhado a ter visto um episódio mais à frente pode ser mais uma surpresa desagradável para o enganado(a).
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