TV Mural

Em “Calma, Larry!” a realidade não é tão real como imaginamos. E ainda bem, porque há convenções que têm de ser respeitadas

Larry David, em “Calma, Larry!“”
DR

Boa tarde,

Não conheço ninguém que beba um whisky mal chegue a casa, servindo-o de um decanter. E, no entanto, num passado de quinze ou vinte anos, estava sempre a acontecer em séries e novelas. A verdade é que os argumentistas têm de colocar os personagens em sítios onde estes possam permanecer no mesmo local durante o tempo suficiente para fazerem coisas, como simplesmente conversar ou atender o telefone fixo. Se eu precisava que o meu personagem fizesse um telefonema comprometedor, era boa ideia levá-lo a realizar uma ação em que não sai do mesmo sítio para que o telefone toque e ele o oiça. A zona da casa onde fica o whisky não seria longe do telefone fixo.

(As cenas de ir servir um whisky à zona onde repousa o decanter diminuíram com a chegada dos telemóveis).

No cinema há mais tempo e dinheiro para vislumbrarmos a vida interior dos personagens, o que permite que estes possam estar calados a não fazer nada durante muito tempo. Em televisão, a economia narrativa é outra. A história avança através do diálogo e o homem (era quase sempre um homem) teria sempre pouco sossego com o seu whisky, porque se não fosse um telefonema, alguém haveria de chegar para começar um assunto. Nós, os espectadores, seguiríamos a conversa útil com atenção, a conversa mole (a existir) seria de duas ou três frases.

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