O silêncio como regra
Craig T Fruchtman
Bom dia,
Gestão caótica, decisões ruinosas, retórica agressiva e insultuosa e ausência do mais elementar sentido de Estado. Três meses depois da tomada de posse de Donald Trump, as previsões de que o seu segundo mandato à frente da Casa Branca seria revolucionário, tumultuoso e disruptivo só terão pecado por defeito.
Da asfixia financeira das universidades aos cortes e despedimentos cegos nos serviços públicos, das medidas desastrosas, arbitrárias e erráticas na aplicação de taxas aduaneiras sobre as importações à subserviência perante autocratas como Putin, parece que tudo o que podia correr mal acabou, até agora, por se revelar péssimo.
Trump expõe os Estados Unidos ao ridículo e ao descrédito. O exemplo mais recente? A ameaça inconsequente de desistir da mediação de um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia levou Moscovo a declarar uma trégua de Páscoa, num sinal de ‘boa vontade’ que nunca teve a intenção de cumprir. Os ataques a território ucraniano prosseguiram, numa demonstração de que o cinismo de Putin dispensa disfarces quando pode contar com a reverência gratuita de Washington.
Os segredos de Estado são tratados com amadorismo de principiantes. Pete Hegseth protagonizou o episódio mais recente. Na aplicação de mensagens Signal, novamente, o secretário da Defesa partilhou informação sobre os planos de iniciativas militares no combate aos rebeldes Hutis do Iémen. Usou o telemóvel pessoal e o grupo que teve acesso aos pormenores das operações incluiu a sua mulher, o irmão e o advogado, de acordo com as notícias publicadas pelos media norte-americanos.
Para o Presidente dos Estados Unidos, não há linhas intransponíveis ou sombra de respeito pelas instituições. Jerome Powell, presidente da Reserva Federal, tem sido o alvo de pressões que vão muito para além dos normais queixumes de políticos que se aproveitam da independência dos bancos centrais para encontrarem o bode expiatório dos seus fracassos.
A descida da taxa de juro de referência pelo Banco Central Europeu foi o pretexto para o mais recente ataque de Trump ao líder da Fed, acompanhado de uma inédita ameaça de despedimento. Rodeado de bajuladores ou de colaboradores que genuinamente acreditam nas políticas delirantes que defende e aplica, o líder norte-americano conta com um silêncio cúmplice, acomodado e complacente. Desta vez, houve uma excepção, mas é a tal que costuma confirmar a regra.
OUTRAS NOTÍCIAS
Electricidade verde em Sines. O grupo MadoquaPower2X arrancou com o licenciamento ambiental de um parque eólico em Silves que terá 32 aerogeradores. Será o maior do Algarve.
Inauguração em Santa Maria. A nova maternidade do Hospital Santa Maria, em Lisboa, é inaugurada nesta segunda-feira, após uma abertura faseada iniciada em agosto de 2024.
‘Motosserra’ no museu. Membros da equipa do departamento de eficiência governamental dos EUA visitaram a National Gallery, em Washington DC. O jornal ‘Financial Times’ suspeita que se tratou de avaliar onde cortar custos.
Um mistério resolvido. Um detetive privado espanhol confirmou, em colaboração com o jornal espanhol ‘El Mundo’, que o artista Banksy é, na verdade, Robin Gunningham, algo já alegado em anteriores investigações.
Temperaturas vão subir. Esta segunda-feira ainda será de chuva, mas a partir de quarta-feira a precipitação cessa e as temperaturas máximas vão subir. Poderão atingir os 27 graus.
FRASES
“Dos julgamentos na praça pública, passou-se para operações cirúrgicas em cima de campanhas eleitorais, visando os dois maiores partidos. Quantas destas operações obtiveram condenação nos tribunais?”. Paulo Baldaia
“A denúncia anónima contra Pedro Nuno Santos não serviu para o incriminar. Ser suspeito de receber dinheiro do pai para comprar casa não chega para tanto.” Daniel Oliveira
PODCASTS
Expresso da Manhã. Traficantes usam Portugal para vender crianças a famílias na Europa: Raquel Moleiro e Hugo Franco debatem esta notícia com Paulo Baldaia.
Memórias. No quarto episódio da terceira temporada deste podcast, Francisco Pinto Balsemão recorda a governação do país em 1981 e a difícil relação com Ramalho Eanes, Presidente da República.
Porque falha o Estado?. A ex-ministra Mariana Vieira da Silva e a académica Susana Peralta discutem com David Dinis a verdadeira reforma do Estado.
O CEO é o limite. A partir de que momento é que um líder deixa de ser responsável pelo desenvolvimento das suas equipas? Pedro Brito, diretor associado e presidente executivo da Nova SBE para a área da Formação de Executivos, dá a resposta.
O QUE EU ANDO A OUVIR
“Belonging”, Branford Marsalis Quartet. Em 1974, o pianista Keith Jarrett, na companhia daquele que foi apelidado como ‘quarteto europeu’, lançou um álbum intitulado “Belonging”. É a música que Jarrett compôs para este registo que Branford Marsalis decidiu recuperar e reinterpretar na íntegra. O saxofonista surge com o seu quarteto habitual, uma máquina bem oleada, o que garante emoções profundas e música vigorosa.
“Arboresque”, Artemis. Este é o terceiro álbum da banda feminina Artemis, que se estreou em 2017 e que lançou o primeiro disco há cinco anos. Com diferentes formações, tem contado com a colaboração de algumas das instrumentistas mais inspiradas de uma geração que tem um número crescente de mulheres na primeira linha da renovação do jazz. “Arboresque” é mais um testemunho do talento e da pujança deste colectivo.
“Bone Bells”, Sylvie Courvoisier & Mary Halvorson. Mais um projecto conjugado no feminino, neste caso um duo formado pela pianista Sylvie Courvoisier e pela guitarrista Mary Halvorson, dois nomes consolidados quando o assunto são os terrenos musicais mais desafiantes das últimas décadas. As composições neste álbum são divididas em partes iguais pelas duas instrumentistas, que as vão revelando em diálogos intensos e imaginativos.
E é tudo. Acompanhe a actualidade no Expresso, Tribuna e Blitz, consulte as sugestões do Boa Cama Boa Mesae tenha um excelente dia.
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