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Depois de enterrar os mortos e cuidar dos vivos, vai ser preciso encontrar respostas

Depois de enterrar os mortos e cuidar dos vivos, vai ser preciso encontrar respostas

João Pedro Barros

Editor Online

Nuno Fox

Boa tarde,

Ontem, ao final da tarde, fomos todos sacudidos pela tragédia: o Elevador da Glória tinha descarrilado. Começou a ouvir falar-se de vítimas mortais, num número crescente que estabilizou ontem nos 15 e entretanto foi atualizado para 16 – e há mais cinco feridos graves, além dos menos graves cuja marca psicológica pode não ser menor. Basta ver este vídeo amador, feito logo a seguir ao acidente, para que também quem não estava lá fique com as imagens na retina.

Costuma dizer-se que, a seguir a uma catástrofe, é necessário enterrar os mortos – e, para tal, as equipas de Medicina Legal foram reforçadas – e cuidar dos vivos. Neste último ponto, também há questões a fazer: em Lisboa, só havia um ortopedista em prontidão nos hospitais com urgência de trauma na altura do acidente. A resposta foi dada com recurso a médicos que se voluntariam e os relatos não indicam que, apesar das dificuldades, em algum dos casos tenha faltado assistência rápida.

Avancemos porém para aquilo que rapidamente se tornará o mais relevante do acidente: a investigação às causas. Ficou hoje a saber-se que houve uma inspeção diária feita de manhã, que não identificou quaisquer problemas, e que o contrato anterior para a manutenção de ascensores tinha terminado no domingo, mas prolongado por ajuste direto mais cinco meses, de forma a dar tempo de um novo concurso público (o anterior tinha ficado deserto).

As duas conferências de imprensa realizadas nas últimas horas trouxeram poucas novidades, como é natural passado cerca de 24 horas sobre o acidente. Pedro de Brito Bogas, presidente da Carris, garante que o plano de manutenção do equipamento foi “escrupulosamente cumprido”, considera o acidente “inimaginável” e “inusitado” e diz que se a causa fosse “muito evidente” já teria sido apurada”. Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária, avançou que a recolha de indícios já terminou e não exclui nenhuma causa: “Só quando estivermos seguros é que podemos falar sobre esse ângulo”. Nélson Rodrigues de Oliveira, diretor do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, admite que o processo “será longo” e não confirmou que a origem tenha sido no cabo do veículo. Ou seja, estas comunicações serviram para tranquilizar a opinião pública e mostrar serviço.

As autópsias aos corpos foram feitas "em tempo recorde" e até já se sabem as nacionalidades de 13 dos 16 mortos: cinco portugueses (quatro deles colaboradores da Santa Casa), dois sul-coreanos, dois canadianos, um suíço, um alemão, um ucraniano e um norte-americano. Todos os ascensores de Lisboa continuarão suspensos até que termine uma inspeção externa e agora espera-se que o processo não se arraste e que as responsabilidades sejam apuradas, mesmo quando o caso inevitavelmente sair da agenda mediática. Moedas e Montenegro assim o querem, o que não querem é "aproveitamento político".

Até amanhã.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jpbarros@expresso.impresa.pt

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