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Uma vez por mês, à terça-feira, o SER traz-lhe um tema-chave sobre o meio ambiente, com contexto, notícias relevantes e dicas práticas para facilitar a sua jornada “verde”. Hoje, falamos sobre um problema que regressa todos os anos com força a Portugal: os incêndios florestais.
Um país em chamas
Ao longo das últimas décadas, Portugal tem sido um dos países europeus mais castigados pelo fogo. O ano de 2017 permanece gravado na memória coletiva: meio milhão de hectares consumidos pelas chamas e mais de cem vidas perdidas na tragédia de Pedrógão Grande, que expôs de forma brutal a vulnerabilidade do território e as falhas do sistema de prevenção e combate.
Desde então, multiplicaram-se os relatórios e as promessas (de investimento inclusive), mas os números mostram como a ameaça persiste. Em 2024, arderam 137 mil hectares, segundo a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), e em 2025, até agosto, já tinham sido destruídos mais de 222 mil hectares, cerca de 3% do território nacional, de acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). E 3,7% das áreas protegidas sumiram.
A dimensão europeia do problema
O que acontece em Portugal não é um caso isolado. Este ano, a União Europeia ultrapassou a marca de 1 milhão de hectares ardidos desde janeiro, o valor mais alto desde que há registos, segundo o sistema europeu EFFIS. Espanha e Portugal concentram quase dois terços dessa área, transformando a Península Ibérica no epicentro da crise.
As consequências vão além do território: os fogos de 2025 já libertaram mais de 40 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono, três vezes mais do que no mesmo período do ano anterior, de acordo com o Joint Research Centre da Comissão Europeia.
O que está a ser feito e quais as oportunidades para um futuro mais resiliente?
Portugal tem hoje uma estratégia de longo prazo, o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, que pretende reduzir para metade a área ardida até 2030. Uma parte importante deste esforço é financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que trouxe resultados palpáveis: centenas de viaturas para bombeiros e GNR, novos radares meteorológicos do IPMA e a chegada dos primeiros helicópteros Blackhawk.
Mas se os meios de combate avançam depressa, as medidas estruturais - como as faixas de gestão de combustível, os Condomínios de Aldeia ou as Áreas Integradas de Gestão da Paisagem - acumulam atrasos. Dos 577 milhões de euros contratados para a floresta, apenas 44% estavam executados até agosto. Especialistas alertam que, sem continuidade no investimento e envolvimento das comunidades locais, estas medidas dificilmente terão impacto duradouro.
Os incêndios não são inevitáveis, mas exigem uma mudança de paradigma. Substituir monoculturas por mosaicos de espécies autóctones (como sobreiros, carvalhos ou castanheiros), integrar agricultura e pastoreio na gestão do território, apostar em tecnologia para deteção precoce e valorizar a economia da biomassa são caminhos apontados pelos especialistas para criar paisagens mais seguras.
Como podemos ser parte da solução?
A prevenção dos incêndios não é apenas responsabilidade do Estado ou das empresas. Cada um de nós pode desempenhar um papel. Deixo-lhe cinco formas:
- Manter limpos terrenos e acessos junto a habitações;
- Cumprir as regras e evitar queimadas em períodos de risco;
- Apoiar projetos de reflorestação com espécies autóctones;
- Valorizar produtos certificados e de origem sustentável, que ajudam a financiar a boa gestão florestal;
- Participar em iniciativas locais de voluntariado ambiental.
Cada gesto, por mais pequeno que seja, conta para criar um futuro mais “verde”. A newsletter Expresso SER volta à sua caixa de correio no próximo mês, com mais dicas e informação. Para sugestões ou comentários, contacte-me através de: mcdias@expresso.impresa.pt
Até lá, boas leituras e práticas sustentáveis!
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