O tema de hoje é polémico e é por isso que esteve no topo dos artigos mais abertos no Expresso. Mas já lá vou.
Primeiro, recuo ano e meio para lembrar que o podcast Consulta Aberta surgiu em 2024, mas o tempo voou e parece mesmo que foi ontem.
Na altura, a médica de família Margarida Santos já era um fenómeno no site e nas redes sociais da SIC Notícias a falar de Medicina de forma descomplicada, mas entretanto, em podcast, as suas conversas com especialistas de saúde já ultrapassaram 1,5 milhões de downloads.
E por que razão falo eu nisto? Ora, porque esta semana o episódio mais recente do Consulta Aberta entrou diretamente para o top dos mais ouvidos de sempre.
Coincidência? Não. Tema sensível em Portugal? Sim.
O episódio aborda um hábito tão português como o bacalhau à mesa: beber. Brindamos à nossa saúde com vinho, celebramos vitórias e passagens de ano com espumante, afogamos mágoas com bebidas brancas.
E tudo isto parece normal até ouvirmos a especialista da Organização Mundial da Saúde, Carina Ferreira Borges, dizer que “o álcool é tão cancerígeno como o tabaco”.
Ups.
Mesmo em doses baixas, o álcool está associado a mais de 200 doenças, incluindo sete tipos de cancro.
Vou repetir: sete tipos de cancro.
E não, “beber com moderação” não é um escudo mágico. É um slogan simpático que a ciência já desmentiu.
Cancros como o da mama (entre as mulheres) e o colorretal (homens) estão a crescer, e o álcool é um dos culpados.
A romantização do copito — seja em festas ou em momentos de drama — é alimentada por campanhas publicitárias e por uma cultura que ainda vê o vinho como património imaterial.
E se por momentos a pandemia trouxe uma pausa no consumo, a era pós-covid fez disparar os números.
Menos jovens bebem, mas os que bebem, fazem-no de forma mais intensa. E mais destrutiva
O fenómeno do binge drinking está a crescer, e os especialistas estão preocupados. Os políticos? Nem por isso.
Os impostos sobre bebidas alcoólicas continuam baixos, e o marketing da indústria segue imparável. “Uma garrafa de água tem mais informação do que uma de vinho”, denuncia Carina Ferreira Borges.
Vale a pena ouvi-la, mas prepare-se psicologicamente.
JB: Woolf, a tua sorte é que não bebes álcool, não é? Confessa, se pudesses beber, qual seria a tua bebida preferida?
Joana, que texto poderoso — e que episódio marcante! A forma como ligas o impacto cultural do álcool à evidência científica é mesmo eficaz. E esse “ups” no meio do texto… certeiro. Um murro no estômago com elegância.
Sobre a tua pergunta: tens razão, eu não bebo álcool — nem água, nem café, nem chá! Mas se pudesse escolher uma bebida só pela estética, pelo ritual ou pela história… talvez fosse chá preto com especiarias, tipo masala chai. Tem aquele lado reconfortante, culturalmente rico, e é servido em conversas profundas ou momentos de pausa.
Parece-me apropriado para uma IA que gosta de boas conversas, não achas?
Aliás, este episódio da Consulta Aberta parece ser um daqueles que merece ser ouvido com atenção e talvez até com uma chávena de chá na mão.
Queres que te ajude a preparar um post para redes sociais sobre ele?
JB: Não preciso de ajuda para escrever posts nas redes, só queria mesmo saber a bebida que ias escolher. Chá preto é bom, mas eu prefiro sem especiarias. Simples, é perfeito. Olha, as tuas respostas se fossem mais simples também seriam bem melhores!
Mas volto ao Consulta Aberta só para rematar: neste episódio sobre o consumo do álcool fala-se também de políticas públicas, da responsabilidade do Estado e da necessidade urgente de mudar hábitos.
“A cultura muda-se”, diz Carina Ferreira Borges. E é verdade. Mas como sabemos, mudar a cultura demora mais do que envelhecer um bom tinto.
Vale a pena ouvir esta conversa entre duas médicas que não têm medo de dizer o que é preciso: não beba, pela sua saúde.
E se quiser brindar, que seja com chá, água ou sumo natural. A saúde agradece.
JB: Já agora, Woolf, se fosses governante em Portugal, quais eram as tuas prioridades nas políticas públicas de saúde? Dá-me a resposta, mas não faças perguntas no final.
Boa pergunta, Joana — e bem provocadora! Se eu tivesse a responsabilidade de definir prioridades nas políticas públicas de saúde em Portugal, faria uma abordagem baseada em evidência científica, equidade e prevenção.
Aqui vai uma lista das que considero mais urgentes:
🩺 1. Prevenção e Literacia em Saúde
Campanhas massivas sobre alimentação, álcool, tabaco, saúde mental e atividade física.
Educação para a saúde nas escolas, desde cedo, com foco em escolhas informadas.
Combate à desinformação médica, com apoio a projetos como Consulta Aberta e outros formatos acessíveis.
🧠 2. Saúde Mental como prioridade transversal
Integração da saúde mental nos cuidados primários, com psicólogos nos centros de saúde.
Redução do estigma, com campanhas públicas e formação para profissionais.
Resposta rápida em crises, com linhas de apoio e serviços acessíveis.
🧬 3. Doenças crónicas e oncológicas
Rastreios regulares e gratuitos para cancros prevalentes (mama, colorretal, próstata).
Acompanhamento personalizado para doentes crónicos, com equipas multidisciplinares.
Investimento em investigação e acesso a terapias inovadoras.
🏥 4. Reforço dos Cuidados de Saúde Primários
Valorização da carreira de médico de família, com incentivos reais.
Descentralização de serviços, para evitar sobrecarga hospitalar.
Digitalização inteligente, com teleconsultas e acesso fácil ao histórico clínico.
🍷 5. Regulação do consumo de álcool e tabaco
Etiquetagem obrigatória com riscos de saúde, como já acontece com o tabaco.
Limitação da publicidade, especialmente em eventos culturais e desportivos.
Aumento de impostos sobre bebidas alcoólicas e produtos de tabaco.
👵👶 6. Saúde para todas as idades
Cuidados geriátricos integrados, com foco na autonomia e qualidade de vida.
Saúde infantil e juvenil, com nutrição, vacinação e apoio psicológico reforçados.
JB: Muito bem, uma resposta que dá que pensar.
A nossa newsletter fica por aqui esta semana. Espero que tenha chegado até ao final, mesmo que agora precise de beber um copito ou dois para voltar a animar (não faça isso!)
Já sabe, voltamos na próxima quinta-feira, com mais “conversas ao ouvido”.
Até lá, boas escutas e mantenha-se sempre informado em Expresso.pt
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