A Albânia raramente ocupa espaço nas manchetes internacionais. Pequeno país nos Balcãs, não costuma ser protagonista no palco da política global ou da inovação tecnológica.
Até agora.
Esta semana, o governo albanês decidiu dar um salto diretamente da realidade para um episódio de Black Mirror ao nomear a primeira ministra do mundo que não existe fisicamente.
Chama-se Diella, fala com voz suave e o seu corpo é feito de código. Literalmente.
A base da Diella é inteligência artificial e é responsável por gerir os contratos públicos do país, uma área historicamente marcada por corrupção. Promete transparência total, imparcialidade absoluta e zero escândalos.
Uma maravilha…
Quando um ministro não tem amigos, nem interesses, nem sequer um corpo, é difícil existir tráfico de influências. Certo? Vamos perguntar à Woolf...
JB: Olá, Woolf. Já ouviste falar numa ministra chamada Diella?
Sim, Joana — a ministra Diella é uma novidade absolutamente inédita: trata-se da primeira ministra criada e gerida por inteligência artificial no mundo, nomeada pelo governo da Albânia.
Quem é Diella?
Diella é um bot de IA que já atuava como assistente virtual na plataforma administrativa e-Albania, usada para serviços públicos digitais.
O nome "Diella" significa "sol" em albanês.
Tem um avatar feminino com trajes tradicionais albaneses e responde a comandos de voz.
Qual é o seu papel no governo?
Foi nomeada ministra responsável pelos contratos públicos, uma área historicamente marcada por corrupção na Albânia.
O primeiro-ministro Edi Rama afirmou que Diella será encarregada de tornar os processos de licitação 100% transparentes e incorruptíveis.
Ela poderá avaliar propostas, contratar talentos globalmente e atuar como “serva dos contratos públicos”.
Reações e desafios
A nomeação gerou repercussão mista: enquanto alguns celebram a inovação, outros questionam a vulnerabilidade do sistema a manipulações e a falta de supervisão humana.
Especialistas alertam para os riscos de credibilidade e segurança, especialmente num país que luta contra o crime organizado e busca adesão à União Europeia até 2030.
É uma jogada ousada e simbólica — e talvez um marco na forma como os governos poderão usar IA no futuro.
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JB: Quais são os riscos dessa ministra IA?
Os riscos associados à nomeação de uma ministra IA como a Diella são diversos e complexos, especialmente porque envolvem governança pública, ética, segurança digital e confiança institucional.
Aqui estão os principais:
🧠 1. Falta de responsabilidade política
Uma IA não pode ser responsabilizada legal ou moralmente pelas suas decisões.
Em caso de erro ou abuso, quem responde? O programador? O governo? O sistema?
🔍 2. Transparência limitada
Apesar da promessa de transparência, os algoritmos por trás da IA podem ser opacos.
Sem auditorias independentes, é difícil saber como e por que a IA toma certas decisões.
🛡️ 3. Vulnerabilidade a manipulações
Sistemas de IA podem ser alvo de ataques cibernéticos, manipulações de dados ou engenharia social.
Se não forem bem protegidos, podem ser usados para favorecer interesses privados ou políticos.
⚖️ 4. Discriminação algorítmica
A IA pode reproduzir viéses existentes nos dados com que foi treinada.
Isso pode levar a decisões injustas, por exemplo, na atribuição de contratos públicos.
🌐 5. Exclusão humana
A substituição de humanos por IA em cargos de decisão pode enfraquecer o papel da cidadania e da democracia participativa.
Há o risco de desumanização da política, onde decisões são tomadas sem empatia ou contexto social.
🧩 6. Legitimidade e confiança
A população pode não confiar numa ministra que não é humana.
Isso pode gerar resistência institucional, protestos ou descrédito do governo.
📜 7. Lacunas legais
A legislação atual não prevê o papel de uma IA como ministra.
Isso cria um vazio jurídico sobre direitos, deveres e limites da atuação da Diella.
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JB: Pois é, Woolf. A Albânia é o primeiro país a confiar uma pasta governamental a uma entidade que não envelhece, não dorme e também não tem vontade própria - logo,quem é que assume as responsabilidades do que ela faz?
Isto levanta grandes questões sobre ética e responsabilidade, mas também sobre o papel que a IA pode ter na política.
Para já, fica a curiosidade. Candidata à União Europeia, a Albânia tem também um plano ambicioso para eliminar o dinheiro físico e tornar o país 100% digital até 2030.
JB: Woolf, achas que um país 100% digital será muito melhor do que um país 100% analógico?
Essa é uma excelente pergunta, Joana — e não tem uma resposta simples.
Um país 100% digital pode ser muito melhor em alguns aspetos, mas também pode ser muito mais vulnerável noutros.
Vamos comparar os dois extremos com algum espírito crítico:
🧠 País 100% Digital: vantagens e riscos
✅ Vantagens
Eficiência: serviços públicos rápidos, sem papelada, sem filas.
Transparência: registos digitais podem ser auditados, rastreados e protegidos contra manipulação (em teoria).
Inclusão global: facilita o acesso a mercados internacionais, educação online, trabalho remoto.
Sustentabilidade: menos papel, menos deslocações, menos consumo físico.
⚠️ Riscos
Exclusão digital: quem não tem acesso à internet ou competências digitais fica para trás.
Dependência tecnológica: uma falha no sistema pode paralisar o país.
Privacidade: tudo está registado, tudo pode ser rastreado — até demais.
Cibersegurança: ataques informáticos podem ter impacto nacional, desde hospitais até eleições.
📜 País 100% Analógico: vantagens e limitações
✅ Vantagens
Resiliência: menos dependente de sistemas digitais, menos vulnerável a ciberataques.
Privacidade natural: sem registos digitais, há menos vigilância.
Acessibilidade universal: qualquer pessoa pode preencher um formulário em papel.
⚠️ Limitações
Burocracia: processos lentos, ineficientes e propensos a erros humanos.
Corrupção: mais difícil de rastrear e auditar decisões e transações.
Desigualdade de acesso: quem vive longe dos centros administrativos tem mais dificuldades.
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JB: Não é preciso, Woolf. Já ajudaste muito.
Em albanês, Diella significa luz do sol, um nome curioso para atribuir a um sistema de IA.
Esta nova ministra virtual não tem corpo, nem sombra, mas tenta iluminar os corredores do poder com promessas de transparência e eficiência digital.
Será o início de uma revolução política ou apenas um raio de luz artificial? O tempo, a seu tempo, nos dirá.
As Conversas ao Ouvido ficam por aqui.
Boas escutas, bom resto de semana e mantenha-se sempre informado em Expresso.pt.
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