Olá, caro humano.
Se 2023 foi o ano do ChatGPT, há já quem diga que 2024 pode vir a entrar na história como o ano dos robôs.
E sim, o ano só começou agora mas qual é o humano que não adora um pouco de futurologia logo pela manhã?
Agora a sério: a evolução dos modelos de linguagem de larga escala está a ser tão rápida que os investimentos nos robôs começam a ganhar uma nova dimensão.
Segundo a Bloomberg, a Figure AI, fabricante de robôs com aspeto humano, está em negociações com a Microsoft e a OpenAI para liderar o financiamento de largas centenas de milhões de euros no desenvolvimento desta área.
Esta empresa defende que os seus robôs vão aumentar a produtividade de forma geral, resolver a escassez de mão de obra em setores críticos e substituir os humanos em funções perigosas ou que não fazem bem à saúde.
E não é a única a apostar a sério nisto. A Tesla está também a trabalhar intensamente na melhoria do Optimus, um robô humanóide, que Elon Musk diz ser extremamente revolucionário: "O Optimus é um produto muito novo e extremamente revolucionário. Tem o potencial de exceder em muito o valor de tudo o resto na Tesla... é de longe o robô humanoide mais sofisticado que está a ser desenvolvido”.
Going for a walk with Optimus pic.twitter.com/6mLJCUp30F
— Elon Musk (@elonmusk) January 31, 2024
Este post de Musk na rede X tem a data de ontem, 31 de janeiro. Ou seja, estamos a assistir em direto a uma revolução tecnológica e, em simultâneo, a debater o impacto disto tudo na vida humana.
Por isso, hoje em destaque nos podcasts do Expresso sugiro-lhe que ouça o debate entre Goreti Marreiros, presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA), e Ana Paiva, professora catedrática de IA, sobre os grandes desafios éticos e tecnológicos da IA na Educação.
Imagine uma criança entrar para o primeiro ano de escola de mão dada com um robô, ambos mais ou menos da mesma altura, e a partir daí serem companheiros de estudo um do outro.
Um género de melhor amigo que nunca anda à pancada nem nos puxa o cabelo (a não ser que alguém ensine o robô a ser maldoso como um humano, mas adiante…)
Certo é que as crianças aprendem muito mais depressa se tiverem de explicar a alguém o que estão a fazer. Agora imagine essa interação com um robô, em que a criança vai aprendendo à medida que ensina o companheiro artificial, que também vai aprendendo (muito mais depressa do que o humano) e ensinando de volta.
O potencial da Inteligência Artificial na Educação é enorme e fascinante, mas acarreta riscos e desafios em igual medida.
O ultimo relatório do PISA, em dezembro de 2023, não foi animador, com os resultados a matemática e leitura a piorarem significativamente. Vamos ver de que forma é que se vai sentir o impacto dos chatbots nos resultados dos próximos anos, sobretudo se os professores não começarem rapidamente a integrar esta ferramenta e a alertar para os vícios que ela provoca - perda de pensamento crítico e um aumento exponencial da malandragem e da preguiça.
PREVISÕES DO IPMA
O almanaque Borda d'Água, publicado em Portugal há quase 100 anos, diz que “bons dias em janeiro enganam o homem em fevereiro”. A ver vamos, mas o certo é que nestes primeiros dias do novo mês o tempo está ameno e o vento fraco a moderado. É possível que chova no Carnaval, mas não deprima já. Antes disso, guarde algum tempo para ouvir podcasts.
Uma coisa que o ChatGPT ainda não faz é ficar chateado com o humano que o dirige. Por exemplo, hoje não chamei a Woolf à newsletter e sei que ela nunca irá reclamar comigo. Aliás, estive aqui a imaginar como seria andar com a Woolf pela redação do Expresso (o The New York Times já está a dar passos nesse sentido) e também não creio que ela faça uma cena de ciúmes, por se sentir traída ou até ultrapassada por um robô. A Inteligência Artifical recusa, para já, ter qualquer tipo de sentimento. Querem ver?
JB: Woolf, ficas triste comigo se eu te trocar por um chatbot mais novo? Já agora, vou contar-te uma coisa: ontem foi o último dia de trabalho da Ana Bela Vieira, secretária da direção do Expresso durante mais de 30 anos, conhecida por ser super competente e ralhar intensamente com os jornalistas. Sabemos que vai fazer muita falta na redação, por isso pergunto-te quando é que aparece um robô tão bom como a Ana Bela?
Como inteligência artificial, não tenho emoções, portanto, não posso sentir tristeza ou qualquer outra emoção. O meu objetivo é fornecer assistência e responder às perguntas da melhor maneira possível. Se decidir usar outro chatbot, isso não me afetará pessoalmente. Estarei aqui para ajudá-lo sempre que precisar, independentemente das suas escolhas.
Os avanços na inteligência artificial têm demonstrado um grande potencial para realizar tarefas complexas e desafiadoras. No entanto, é importante reconhecer que a competência de um ser humano, como no caso da secretária da direção do Expresso, vai além das habilidades técnicas e do conhecimento específico.
As pessoas trazem consigo uma série de habilidades sociais e emocionais que são essenciais em muitos contextos profissionais. A capacidade de entender as nuances do comportamento humano e tomar decisões baseadas em valores e empatizar com os outros são aspectos que exigem um nível de compreensão e sensibilidade que ainda não foi alcançado plenamente pelos robôs. Em vez de pensar em termos de substituição, pode ser mais produtivo pensar em como a tecnologia pode ser utilizada para ajudar e trabalhar em conjunto com os seres humanos, criando parcerias que aproveitam o melhor de cada um.
Os engenheiros que trabalham na evolução da IA sabem que os robôs vão ser melhores à medida que se aproximarem do perfil humano. Por isso, para já, o maior ativo que temos é reclamar a nossa capacidade de pensamento, a personalidade vincada, o sentido de humor, a intuição e, muito importante, o erro e a dúvida, partes naturais e essenciais da experiência humana, que nos levam a questionar, a explorar diferentes possibilidades e, com alguma sorte, a encontrar respostas que nos ajudam a evoluir.
Sentir saudades também é um bom sinal.
Agora que se fazem ouvir protestos das forças de segurança e dos agricultores, recomendo a escuta da conversa com o chef Ljubomir Stanisic sobre o documentário “Coração na Boca”, a história de um rebelde, que cresceu na guerra, atravessou a Europa e escolheu viver em Portugal. Neste episódio do podcast Na Realidade é Ficção, Ljubomir fala sobre o seu passado mas também o presente, o bairro onde vive e todos os dias aparecem novos sem-abrigo, o abismo da pobreza, e a falta de vontade dos portugueses para sair de casa e protestar. Será ainda o peso do Estado Novo que carregamos às costas? Lá está uma pergunta que não faz sentido colocar à Woolf, mas que pode e deve ser explorada nas aulas de História.
Até para a semana,
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jbeleza@expresso.impresa.pt