Caro leitor,
A caminhada enérgica e acelerada de Marcelo Rebelo de Sousa pela marginal de Lagos – 20 minutos 'a abrir' com as televisões atrás e o Presidente do Parlamento em esforço para o acompanhar –, no final das cerimónias comemorativas do 10 de junho, sinalizou um indisfarçável suspiro de alívio. Marcelo está cansado da função, é pouco dado a nostalgias, relatou aos jornalistas com quem foi falando pelo caminho que não antecipa saudades – "Saudades? Não, não, não. Pelo contrário ..." – e sabe que, no meio da turbulência e do desgaste que mancharam o seu segundo mandato, o balanço é positivo. O povo nunca o esquecerá. As elites hão-de sarar a azia. O regresso do professor Marcelo, após deixar Belém, vai dar que falar. Mas, sobretudo, ele sabe que na reta final conseguiu escapar aos seus piores temores.
Deixa a sua família política no poder (esteve a uma unha negra de ter que coabitar dez anos com governos socialistas, o último dos quais rotulou de "requentado"); deixa o país politicamente mais estável do que estava e ameaçava continuar (do empate AD/PS de há um ano, passou-se para uma AD reforçada e um PS condenado a ir segurando a legislatura); deixa o Chega consolidado como segundo força política mas livra-se de ter que dar posse a Ventura, e este seria um dos seus maiores pesadelos; e embora "preocupado com a Europa e o mundo" e os contágios a Portugal no que a extremismos e ameaças às democracias diz respeito, Marcelo pode sempre dizer que avisou mas que houve por aí uns otimistas que preferiram assobiar para o ar. Quem vier a seguir que dê sequência ao desafio. Ele vai dedicar-se a falar com jovens pelas escolas básicas e secundárias de norte a sul do país e não é difícil adivinhar quanta pedagogia tem para levar no bolso.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: AVSilva@expresso.impresa.pt