JMJ: o maior festival do mundo num recinto chamado Lisboa
NUNO BOTELHO
Parte da cidade fechou para que nada no evento falhasse. Para ir para o trabalho ou regressar a casa, se tinha de atravessar alguma zona do recinto, só passava quem tivesse uma declaração patronal ou atestado de residência. Nestes dias, os carros foram retirados do centro da cidade e houve várias estações do metro fechadas. O negócio da alimentação favoreceu o “fast food” que fez acordos com a organização e deixou sem clientela algum comércio tradicional. A música esteve sempre presente, mas a grande estrela é Francisco
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é, por certo, um encontro de gente de fé, católicos de todo o mundo, desejosos de ver e ouvir o seu líder, mas para ser o que é segue o formato dos grandes festivais internacionais. Sendo que, pelo poder que transporta consigo, pode sequestrar a cidade onde decorre. Desta vez, a sorte, alguns dizem o azar, calhou a Lisboa.
Muito antes da Jornada ter início, Lisboa começou a esvaziar de moradores e trabalhadores à medida que enchia de peregrinos e festivaleiros. Nenhum estudo foi feito para perceber quantos turistas deixaram de vir para evitar as confusões próprias dos festivais, mas a cidade pareceu sempre mais vazia do que o habitual. Algum comércio ficou a queixar-se: “tem sido um fiasco, vende-se menos que nas alturas normais de férias”. Outros, principalmente os que alinharam com a organização fornecendo menus específicos para a JMJ, não tiveram mãos a medir.
Quando a JMJ começou, Lisboa virou recinto, com estradas cortadas e entradas controladas. Logo na terça-feira, dia 1 de agosto, a sempre movimentada avenida Duarte Pacheco, a ligar as Amoreiras ao Marquês, não tinha carros.
Desde manhã, mesmo que a missa no Parque Eduardo VII só estivesse marcada para o final da tarde. Nem carros, nem gente, porque quem lá vive ou trabalha há muito sabia que, chegada esta hora, Lisboa partiria para parte incerta. Os festivaleiros, com menor conhecimento do mapa do recinto, só tinham que seguir o som da música:
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No primeiro dia, antes do Papa chegar a Portugal, inscritos e não inscritos podiam entrar no recinto, mas quando a estrela maior da Jornada chegou, para ter acesso à parte principal do recinto, só os que tivessem pago a inscrição o podiam fazer. Como em qualquer outro festival, os VIP não só não pagaram bilhete como tinham à espera deles os melhores lugares. Nas cerimónias extra evento, como o encontro nos Jerónimos e a sessão na Universidade Católica, só entravam as pessoas convidadas, mas funcionou sempre a regra dos festivais de música sem lugar marcado, quem chega primeiro fica mais à frente.
A música esteve omnipresente, funcionando até como primeira parte das jornadas em que o Papa era a estrela. Por todo o lado onde passa, Francisco é aplaudido. Com hora marcada, lá estão as multidões a dar vivas ao Papa e quando passa sem grande aviso prévio, há sempre quem se comporte como se fosse uma pop star a passar.
O maior festival do mundo vai agora deixar de ser urbano e passar para recintos construídos de raiz para albergarem multidões. A estrela maior viaja este sábado para Fátima e terminará a sua visita domingo, no passeio de Algés, onde se organiza habitualmente o NOS Alive, e no Parque Tejo, onde em tempos se fez o Super Bock Super Rock.