Lusa

Comissão eleitoral russa aponta erros em candidatura de opositor da guerra e de Putin

Boris Nadezhdine
Boris Nadezhdine
EVGENIA NOVOZHENINA/Reuters

A Comissão Eleitoral russa afirma existirem assinaturas falsas na candidatura de Boris Nadezhdin, crítico das tendências autoritárias de Putin e opositor à guerra na Ucrânia. O candidato admite processar a Comissão, se a sua candidatura for rejeitada

A Comissão Central de Eleições (CEC) russa apontou hoje erros à candidatura presidencial de Boris Nadezhdin, opositor da guerra contra a Ucrânia e crítico de Vladimir Putin, sobre a qual o organismo deverá pronunciar-se nos próximos dias.

Na quarta-feira, o político apresentou à CEC mais de 200 mil assinaturas, o dobro do mínimo exigido (100 mil) para entrar na corrida de março.

Porém, a comissão já divulgou terem sido constatadas irregularidades, quer na candidatura de Nadezhdin, quer na do comunista Alexei Malinkovitch.

Nadezhdin tem criticado também as tendências autoritárias do atual presidente e recandidato ao lugar, Vladimir Putin, e, acrescenta a AFP, passou de pouco conhecido do grande público a figura popular nas ultimas semanas, reunindo dezenas de milhares de apoios.

"Quando vemos dezenas de pessoas que já não estão neste mundo e que assinaram, surge então a questão dos padrões éticos utilizados (...) em particular pelo candidato", declarou o vice-presidente da Comissão Eleitoral russa, Nikolai Bulaev.

Os dois candidatos serão convocados no âmbito destes alegados erros, estimando-se que a Comissão Eleitoral anuncie quarta-feira a lista oficial de candidatos para as eleições presidenciais, que decorrem entre 15 e 17 de março, e que devem permitir a Putin permanecer no poder pelo menos até 2030.

Boris Nadejdine, de 60 anos, o único candidato na corrida eleitoral que se opõe diretamente ao atual presidente, rejeitou as acusações da comissão.

"Vocês e eu estamos mais vivos do que qualquer outra pessoa", escreveu ironicamente no serviço de mensagens Telegram, publicando também várias fotos de pessoas, em fila, para apoiar a sua candidatura.

Nadezhdin voltou a repetir a intenção de processar a comissão, caso a decisão seja invalidar a sua candidatura.

Alguns observadores questionaram se candidatura deste ex-deputado liberal seria uma gestão encoberta do Kremlin ou uma verdadeira iniciativa espontânea.

Para a cientista política Tatiana Stanovaïa, ao anunciar estas irregularidades, "o Kremlin começou a preparar o público para a (sua) decisão de desqualificar Nadezhdin".

O político recebeu o apoio da oposição na prisão e no exílio, tendo prometido "parar a campanha militar da Rússia na Ucrânia", o primeiro ponto do manifesto eleitoral, tornando a campanha de recolha de assinaturas como a primeira manifestação legal e maciça de repulsa contra a guerra iniciada em fevereiro de 2022.

Até agora, a CEC registou quatro candidatos: Putin, o comunista Nikolai Kharitonov, o ultranacionalista Leonid Slutsky e o representante do Novo Povo, Vladislav Davankov.

Foram três as 'baixas' na corrida, até ao momento, a última das quais de Anatoli Batashov, dos Verdes, que na sede da CEC lamentou "não estar preparado", mas sem precisar o número de assinaturas recolhidas.

Anteriormente, anunciaram a desistência o fundador do Partido Russo da Liberdade e da Justiça, Andrei Bogdanov, e Sergei Baburin, que confirmou o apoio ao atual presidente, Vladimir Putin. A CEC rejeitou a inscrição de outros quatro candidatos.

A legislação russa exige aos candidatos de partidos sem assento parlamentar apresentar pelo menos 100.000 assinaturas, enquanto os independentes têm que recolher 300.000.

Está previsto que a campanha eleitoral arranque no próximo dia 17 de fevereiro e se prolongue até às 00h00 de 15 de março.

Vladimir Putin está no poder desde 2000 e pretende garantir um quinto mandato presidencial, depois de também ter ocupado o cargo de primeiro-ministro entre 2008 e 2012. De acordo com as sondagens oficiais, Putin deve ser reeleito com mais votos do que em 2018.

A oposição russa, cujo líder Alexei Navalny cumpre 30 anos de prisão num estabelecimento penitenciário no Ártico, acusa o Kremlin de preparar uma fraude eleitoral através do voto eletrónico, ao qual vão ter acesso um terço dos eleitores recenseados durante os três dias da votação.

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