Como se pode ver um idoso, hoje, quando a longevidade aumenta? Um sujeito ativo ou passivo? Um protagonista ou um espetador? E como aproveitar a sua memória e o seu conhecimento e a sua experiência de vida? Em Portugal, questiona-se se um ser humano acaba a sua vida aos 65 anos - idade quando passa a ter o estatuto social de “idoso” - e se já não tem mais nada a oferecer à sociedade, à sua família, à sua terra.
O congresso internacional sobre envelhecimento ativo, em Guimarães, tem evidenciado o contrário. Alguns aproveitaram este congresso para pôr o dedo na ferida e questionar o papel do idoso (ativo) integrado na sociedade, o aproveitamento da esperança de vida que lhe dá maior longevidade e o porquê de não se aproveitar o seu conhecimento e experiência. Estas temáticas serviram para António Tavares, professor da UNU-EGOV, elencar as práticas mais comuns de “tentativas de arrumar o idoso” na prateleira. Mais por questão de idade do que de competência.
Acentuando que “os idosos estão subaproveitados na política, o que não é de todo justificável”, o professor de Ciência Política, na Universidade das Nações Unidas, em Guimarães, ainda identificou outras (más) práticas que afastam “pessoas com conhecimento que não está a ser, nem é valorizado em Portugal”. Isso significa que se perde a memória de lugares, aldeias e cidades, “pois nada fica registado”. Ainda referiu que sendo os idosos, cerca de 25% da população portuguesa, não se compreende como não são representados em qualquer órgão de decisão, da política nacional ou local. “É o paradoxo da invisibilidade”
Dar voz
“Em Portugal, não há a tradição de ver os idosos como um grupo de interesses pelos partidos políticos”, nem eles próprios se assumirem como um grupo de lóbi, ao contrário da União Europeia onde “são levados mais a sério”. Como alterar este paradigma? O também professor da Universidade do Minho defendeu que “está nas mãos dos políticos inverter esta situação”. Lembrou exemplos de co-criação de políticas públicas para os idosos, na Alemanha e em Barcelona que contrastam com o que se vê em Portugal
António Fonseca, professor da UCP - Universidade Católica Portuguesa - acentuou que há “um pressuposto errado” na nossa sociedade de que “os idosos são os outros”. Investigando o envelhecimento ativo há 25 anos, lembrou que, outrora, “os idosos eram tratados, em casa, pela família e pelo enfermeiro”, padecendo de algum isolamento. Agora, salienta, “os mais velhos para serem 'fixes' têm de ser mais ativos”. Referiu igualmente um estudo que coloca o idoso no grupo dos “sedentários” com rendimentos que não chegam a €400 mensais, com baixa escolaridade.
O encontro de Guimarães revelou inúmeras experiências em vários municípios com a intenção dar voz aos seniores. A nível do ambiente, Carlos Ribeiro, do Laboratório da Paisagem, evidenciou algumas propostas e ideias para envolver os idosos na celebração da Capital Verde Europeia em Guimarães, fazendo até reviver experiências sobre compostagem, preservação do ambiente, algo que pertencia ao seu quotidiano como plantar legumes, incentivar o uso de espaços verdes e frequentar parques.
Adelina Pinto, vice-presidente de Guimarães, acredita que a Capital Verde Europeia 2026, pode refletir-se na qualidade de vida dos cidadãos e significar um novo olhar para a cidade que tem de passar a incluir o fator dignidade. “As cidades são o foco da mudança e têm um papel primordial no envelhecimento ativo e na forma como os cidadãos vivem mais tempo”, concluiu.
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