Longevidade

No poupar está o ganho para uma vida longa

João e Mafalda têm sete filhos, com idades entre ao 4 e os 16 anos
João e Mafalda têm sete filhos, com idades entre ao 4 e os 16 anos

Família. Vivemos mais tempo e a reforma chega mais tarde. PPR e certificados de aforro estão entre as preferências 
dos portugueses, que gostam pouco de arriscar. Planear desde cedo é essencial, mas falta apostar na literacia financeira

No poupar está o ganho para uma vida longa

Tiago Miranda

Fotojornalista

Na casa da família Morais Barbosa, a paixão verde e branca é partilhada, tal como são os lugares para assistir aos jogos em Alvalade: numa família com sete filhos, a vez roda entre quatro fãs. Especialmente a partir dos dez anos, momento em que começam a receber mesada, as crianças compreendem o valor do dinheiro e a necessidade de o gerir. “Os mais pequenos não têm mesada, mas têm de justificar os pedidos que vão fazendo”, conta o pai João, de 40 anos. Por iniciativa própria, a mais velha faz atividades, como babysitting ou vendas online, que aos 16 anos lhe permitem criar um pé de meia.

“É muito importante irmos falando com eles daquilo que é prioritário, o que faz sentido, para valorizarem o dinheiro e o esforço”, explica. O cuidado do casal em garantir a segurança financeira dos filhos sempre esteve presente: João e Mafalda definem prioridades e, a partir daí, desenham planos e estratégias. “Qualquer dia não vamos estar cá. Temos essa preocupação da sua subsistência daqui a muitos anos.”

A esperança de vida tem aumentado ao longo das últimas décadas. No triénio 2021-2023 subiu para 81,17 anos à nascença, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Já aos 65 anos, os portugueses podem esperar viver mais 19,75. A importância de poupar a pensar na longevidade e no futuro dos filhos deveria surgir desde cedo, mas há vários fatores que o dificultam, como os baixos salários ou a falta de literacia financeira.

“Os portugueses começam tardiamente a poupar para a reforma, já depois dos 40 anos, poupam muito pouco, tem a ver também com o rendimento que têm, e fazem-no sobretudo com produtos de capital garantido, ou seja, não gostam de arriscar”, resume António Ribeiro, analista financeiro da Deco Proteste. O último Inquérito à Situação Financeira das Famílias, realizado pelo Banco de Portugal e INE em 2020, mostra que os depósitos a prazo são o ativo com maior peso no património financeiro dos agregados familiares (46,9%).

Os Planos Poupança Reforma (PPR) estão entre os produtos financeiros favoritos dos portugueses: mais de 2,2 milhões eram subscritores em 2022. São uma “boa opção” porque permitem fazer uma poupança “de forma gradual, com pequenos montantes”, aponta António Ribeiro, além de que podem ser resgatados em determinadas situações, como doença grave. Outra “grande vantagem” assenta nos benefícios fiscais mais favoráveis relativamente à maioria dos restantes produtos, cuja taxa de imposto está nos 28% — a Deco já recomendou a diminuição do imposto sobre produtos de poupança. Precisamente por serem “produtos fiscalmente mais interessantes”, a família Morais Barbosa opta por PPR e fundos de pensões, além de um investimento imobiliário com dois irmãos de João.

Os certificados de aforro também têm conquistado notoriedade. “Os portugueses gostam muito porque são produtos como os PPR com pouco risco e fáceis de compreender. Não há uma resposta que funcione para todos, o que é transversal a qualquer que seja o plano é pensar e perceber se temos ou não condições para cumprir com aquilo que gostaríamos”, considera Sérgio Cardoso. Mas, segundo o CEO Officer do Doutor Finanças, “planeamos pouco”. “Essa fase da vida tem de começar a ser preparada quase quando começamos a trabalhar. A partir dos 30 anos devemos começar a pensar, porque quanto mais cedo começarmos, menos esforço temos de fazer.”

A idade da reforma subirá para 66 anos e 7 meses em 2025. As previsões da Comissão Europeia, reveladas no Ageing Report publicado este ano, indicam uma forte perda: a pensão média dos portugueses deverá passar de um valor equivalente a 69,4% do último salário em 2022 para 38,5% do último ordenado em 2050. “É cada vez mais importante que a mensagem seja que as pessoas comecem a planear a sua própria reforma e criem um complemento para a reforma”, sublinha António Ribeiro.

Os portugueses são os segundos piores da União Europeia — apenas atrás dos romenos — em termos de conhecimentos financeiros, concluiu um estudo divulgado em fevereiro realizado pela Comissão Europeia. Em maio, o Conselho da União Europeia aprovou um conjunto de conclusões sobre a literacia financeira, em que incentiva os Estados-membros a “ponderarem a integração da educação financeira nos currículos escolares” e recomenda a promoção do tema junto dos adultos através de eventos, seminários e campanhas de sensibilização. Também a Deco tem defendido que as empresas facultem formações para as pessoas em idade ativa.

Projeto-piloto em sete escolas

A literacia financeira será lecionada no âmbito da nova disciplina Literacia e Dados, novidade em sete escolas que participam num projeto-piloto lançado no ano letivo que começou este mês: nos agrupamentos de escolas de Alcanena, Caneças, Cristelo, Marinha Grande Poente e número 3 de Elvas, no Colégio Pedro Arrupe e na Escola Profissional de Jobra. O secretário de Estado-adjunto e da Educação, Alexandre Homem Cristo, reconheceu a necessidade de melhorar o desempenho dos alunos nesta matéria, confirmada pelos resultados divulgados recentemente pelo PISA 2022. Os alunos portugueses obtiveram 494 pontos, numa escala de zero a mil, em linha com a média da OCDE, mas pioraram ligeiramente em relação à avaliação anterior, em 2018. Os resultados colocam Portugal em 9º lugar numa lista de 20 países.

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