Longevidade

Habitação e mobilidade são os principais desafios para pessoas idosas no Porto

Habitação e mobilidade são os principais desafios para pessoas idosas no Porto
NurPhoto

O conceito de cidade amiga dos idosos “cada vez mais é substituído pelo de cidade amiga de todas as idades, porque se é bom para as pessoas mais velhas, também o há de ser para as mais novas e de todas as idades”

O coordenador do Plano de Ação "Porto, Cidade Amiga das Pessoas Idosas 2023-2025" apontou a mobilidade e a habitação como "principais desafios e dificuldades" que os mais velhos enfrentam naquela cidade.

Em declarações à Lusa, à margem de umas jornadas dedicadas ao tema, António Fonseca considerou que as questões relacionadas com as pessoas idosas "oscilam entre a culpabilização e a caridade" e que é necessário "haver uma mudança de paradigma" porque, alertou, "a realidade é que haverá cada vez maiores de 65 anos".

"É bom uma pessoa mais velha viver na cidade do Porto? Depende, porque há circunstâncias próprias de cada um, como o dinheiro, a rede familiar que as pessoas têm, a condição física e de saúde de cada um", apontou.

E especificou: "Há questões, que são transversais ao resto do país, que se evidenciam muito no Porto: a habitação e a mobilidade. Se pensarmos naquela que é principal dificuldade eu diria que é a mobilidade, mas é das pessoas idosas e não só". Segundo o também psicólogo e professor universitário, "a própria morfologia da cidade não ajuda, a rua dos Caldeireiros nunca vai deixar de ser inclinada".

Por isso, apontou, é "muito importante" para a "amigabilidade" de uma cidade para com as pessoas idosas "a existência de transportes públicos adaptados a cada zona da cidade, a possibilidade destas pessoas terem segurança nos transportes públicos, poderem ter um táxi a pedido a um preço simbólico que lhe permita ir ao médico ou ao hospital".

"Uma cidade onde as pessoas possam encontrar serviços como a farmácia, o supermercado, o centro de saúde, disponíveis num espaço relativamente curto, que demora pouco tempo a lá chegar e é possível fazer isso de forma segura, uma cidade que está a promover a mobilidade, onde possam circular em segurança sem ser assaltadas", enumerou ainda.

O responsável explicou que o conceito de cidade amiga das pessoas idosas "cada vez mais é substituído pelo de cidade amiga de todas as idades, porque se é bom para as pessoas mais velhas, também o há de ser para as mais novas e de todas as idades".

António Fonseca chamou também a atenção para outra realidade: "O discurso sobre as pessoas idosas oscila entre a culpabilização e a caridade". "Culpabilização porque, de facto, são muitos e quando se pensa na sustentabilidade da Segurança Social pensa-se que os idosos levam muito dinheiro, quando se pensa no Serviço Nacional de Saúde, pensa-se que ocupam muito as urgências e o tempo dos médicos", referiu. E continuou: "O outro lado é o 'coitadinhos dos velhinhos', da caridade".

Para o psicólogo, "as gerações mais jovens têm que perceber que a sociedade portuguesa vai ser isto: uma em cada quatro pessoas ter mais de 65 anos e a geração mais velha também tem que perceber que não se pode conformar ao papel de ficar sentado, achando que agora é a vez dos mais novos trabalharem e contribuírem porque já fizeram muito".

Questionado sobre que tipo de decisões podem ser adotadas para tornar uma cidade amiga das pessoas idosas, António Fonseca apontou uma medida ligada com a habitação: "Quando as habitações municipais foram feitas, quem vivia lá eram pessoas jovens. Essas pessoas jovens hoje estão velhas e isso levanta desafios muito diferentes de há 30 ou 40 anos".

"Um trabalho que devia ser feito com muita inteligência e sensibilidade era avaliar que aquela pessoa com 80 anos que vive ali num T3 se calhar já não precisa dum T3 e pode ser deslocada para um apartamento mais pequeno e libertar o T3 para uma família. Este tipo de medidas é que fazem com que uma cidade possa ser vista como amiga das pessoa idosas independentemente de ter o rótulo", terminou.

A Rede Mundial de Cidades Amigas das Pessoas Idosas, à qual o Porto aderiu em 2010, é uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde que pretende "responder ao rápido envelhecimento da população", através do desenvolvimento de um ambiente urbano (físico e relacional) que permita às pessoas idosas uma participação efetiva na vida da cidade.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate