Legislativas 2015

Quando Cavaco tramou Nogueira: “Perguntem-lhe a ele!”

Quando Cavaco tramou Nogueira: “Perguntem-lhe a ele!”
Rui ochôa

Esta é a história de quando Fernando Nogueira jogou a cartada “uma maioria, um Presidente” e Cavaco lhe tirou o tapete. Com Guterres à perna, Nogueira sonhou com o efeito dupla para subir nas sondagens. Mas Cavaco Silva desmentiu-o: ''Não tomei nenhuma decisão''. Em menos de um mês, Cavaco anunciaria que era mesmo candidato. Quanto a Nogueira, perdeu as legislativas e deixou a política. A menos de uma semana das legislativas, revisitamos as nossas memórias políticas. Este é o 24º capítulo

Quando Cavaco tramou Nogueira: “Perguntem-lhe a ele!”

Ângela Silva

Jornalista

Setembro de 1995. António Guterres está lançado nas sondagens para ganhar as legislativas contra Fernando Nogueira - o herdeiro do cavaquismo - mas Nogueira dá luta até ao fim. Foi subindo nas sondagens, chega a espreitar os 40% e num encontro informal com jornalistas decide jogar a cartada Cavaco Silva.

O professor saíra desgastado de 10 anos em S. Bento, mas soube sair a tempo e Fernando Nogueira acredita que o sonho de “uma maioria, um Presidente” lhe podia dar o élan decisivo na reta final da campanha.

Quando um dos jornalistas lhe pergunta “conhece a decisão de Cavaco Silva [sobre as presidenciais]?”, ele nem pestaneja: “Conheço.” O sorriso enigmático e o gesto de assentimento com que libertou os jornalistas do “off” fizeram o resto. A notícia espalhou-se: Cavaco seria candidato a Belém. Se o PSD ganhasse as legislativas, o ticket prometia.

Mas Cavaco não quis misturas (seria como Marcelo Rebelo de Sousa deixar que Pedro Passos Coelho se colasse agora a ele) e não só não confirmou a notícia como a desmentiu. Na manhã após Nogueira falar, Cavaco tinha uma visita a uma fábrica da Sonae em Mangualde e mal lhe perguntaram se era verdade, respondeu secamente: “Têm de lhe perguntar a ele. Eu só lhes posso garantir que não tomei nenhuma decisão sobre o meu futuro político. E não pretendo neste momento pronunciar-me sobre o assunto”.

À noite, num comício em Torres Vedras, já com o PSD em profunda depressão, Nogueira desce do palco e tenta escapar: “Já disse que não falo depois dos comícios”. Cavaco ainda foi a um fazer um discurso dramático de apelo ao voto no seu partido. Mas a maratona de Nogueira nunca mais foi a mesma.

A 1 de outubro, António Guterres ganhava as legislativas e o PSD apenas conseguia roubar-lhe a maioria absoluta. Durão Barroso, inimigo de estimação de Nogueira desde os tempos do cavaquismo, entra na sede do partido, onde a noite eleitoral parece um velório, e faz um apelo a Cavaco para que se candidate a Belém. O PSD está deprimido e precisa de uma vitória.

Vinte dias depois, Cavaco Silva anuncia que é candidato. Fernando Nogueira afastou-se da política para sempre.

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