24 setembro 2015 14:47
tiago miranda
Em declarações à Renascença, o economista diz que Carlos Costa é uma das pessoas que tem mais influência junto do primeiro-ministro. E revela que “foi Pedro Marques Lopes [comentador político] que convenceu Passos Coelho” a proclamar que era muito importante privatizar a CGD
24 setembro 2015 14:47
Em plena campanha eleitoral, o economista António Nogueira Leite, que foi membro do conselho nacional do PSD entre 2008 e 2011 e conselheiro de Passos Coelho na campanha para as legislativas de junho de 2011, fez importantes revelações sobre a relação de proximidade que existe entre o governador do Banco de Portugal (BdP) e o primeiro-ministro, numa entrevista à Rádio Renascença.
“O doutor Passos Coelho tem como grandes conselheiros nesta área – agora que António Borges, infelizmente, já não está entre nós – o doutor Manuel Rodrigues e o doutor Carlos Costa”, disse Nogueira Leite, num debate conduzido pelo jornalista José Pedro Frazão.
Se, em teoria, Passos pode ter os conselheiros que bem entender, e Carlos Costa pode dar conselhos a quem quer, esta relação pode ter condicionado a estratégia adoptada para a resolução do caso BES. “O BES era um banco ‘especioso’. Não sei como é que o regulador estava sempre tão confortável a regular aquele banco, porque era difícil de perceber. Excesso de confiança de Carlos Costa? Não sei. Às vezes custa-me a entender como é que pessoas com tanta experiência podem expressar graus de ingenuidade tão grandes. Mas acho que as pessoas não mentem, elas estavam absolutamente convencidas de que havia um ‘ringfencing’ [proteção] do ‘banco bom’ em relação ao resto. A realidade veio mostrar-nos dúvidas em relação a isto. Processos destes, mesmo que o ‘ringfencing’ fosse bem feito, têm sempre um potencial brutal de litigância”, disse Nogueira Leite.
O antigo secretário de Estado do Tesouro e das Finanças do segundo Governo de António Guterres disse ainda que Carlos Costa funcionou como um escudo de proteção para o Executivo de Passos Coelho no caso BES, quando agiu como um homem “que estava disponível para receber os louros ou as críticas do processo em que o Governo decidiu não se envolver”.
E lamenta que os bancos portugueses não tenham sido incluídos neste processo, lembrando que “o BPI e o Santander não são bancos portugueses. O BPI, sem estatutos blindados, seria um banco catalão, embora com gestão portuguesa reconhecida. O Santander é uma sucursal de um banco espanhol. Para as empresas não é indiferente os bancos serem ou não portugueses. Quando as coisas correram mal em 2011, os bancos portugueses tiveram que acorrer às empresas que ficaram descalças com a saída de bancos estrangeiros.”
A privatização da Caixa Geral Depósitos
Nogueira Leite foi também vice-presidente da comissão executiva da Caixa Geral de Depósitos entre julho de 2011 e janeiro de 2013. E diz que “foi Pedro Marques Lopes [comentador político] que convenceu Passos Coelho a fazer uma das suas primeiras proclamações políticas nesta sua emergência pós-jota, a de que era muito importante privatizar a Caixa Geral de Depósitos. Foi logo a minha primeira derrota, porque acho que num sistema onde não há capital, como o sistema capitalista português, é importante que haja bancos portugueses, geridos com rigor e que supervisionados pelo supervisor mais exigente, e passar os testes. Neste momento, o único banco 100% português é a Caixa, enquanto não for privatizada.”
Leite diz ainda que o Banco de Fomento não faz falta nenhuma: “Em vez da Caixa fazer o que fazia no passado, que era ‘torrar dinheiro’ em operações políticas usando os seus veículos de capital de risco, o que podia fazer era pegar em montantes semelhantes e punha-os nas mãos de profissionais que os distribuía por quem os merecia, com critérios rigorosos e sem pressão política. A Caixa pode continuar a fazer isso. Não sei para que é preciso um Banco de Fomento, nunca percebi. Mas também ninguém me explicou em detalhe.”