Legislativas 2015

O efeito cherne na vida do Zé Manel

O efeito cherne na vida do Zé Manel
Rui Ochôa/ expresso

Lembram-se de ouvir falar de Einhart da Paz? Foi o brasileiro responsável pelo marketing da campanha de Durão Barroso, aquela em que a mulher do candidato o comparou a um cherne. De um dia para o outro, Zé Manel cresceu cinco por cento no eleitorado feminino. A menos de duas semanas das legislativas, revisitamos as nossas memórias políticas. Este é o 19º capítulo

O efeito cherne na vida do Zé Manel

Ângela Silva

Jornalista

Como é que eu hei de dizer isto sem parecer piroso?”. Tondela, 14 de março de 2002, penúltimo dia da campanha das legislativas. Margarida Sousa Uva, mulher de Durão Barroso, assume o papel de esposa para, supostamente, humanizar um pouco a imagem do candidato.

Quando Margarida subiu ao palco perante uma plateia de mil e 500 sociais-democratas, ficou a saber-se que Barroso “é um bom pai de família”, um “marido em aprendizagem sustentada“ (houve a dúvida se seria private joke?), um exemplo de “honestidade”, “integridade”, “capacidade de trabalho”, e “resistência psicológica”.

A mulher do candidato disse mais: foi o marido que lhe ensinou “o significado da palavra patriotismo” e, entre outras coisas, ele é “um homem de cultura, amante de música e de pintura” - “É sempre um prazer visitar uma exposição contigo”.

Mas o melhor estava para vir. Depois de lembrar o poema de António Gedeão “Pedra Filosofal” e de fazer a apologia do sonho, Margarida Durão Barroso passou a declamar um poema de Alexandre O' Neil, “Sigamos o cherne”. Introduziu o tema de forma tão surpreendente - “O Zé Manel, se fosse um peixe, era um cherne” - que houve, na mesa dos jornalistas, quem espirasse caldo verde de tanto rir. Eis o poema: “Sigamos o cherne, minha amiga. Desçamos ao fundo do desejo. Atrás de muito mais que a fantasia. E aceitemos, até, do cherne um beijo. Senão já com amor, com alegria”.

Dias depois, já com o Zé Manel primeiro-ministro, O Independente entrevista Einhart da Paz, o marketeer da campanha. Pergunta: “O fator cherne foi cozinhado pelo marketing?”. Resposta: “Adorava ter criado aquilo, mas é impossível. Independentemente de qualquer motivo, era um gesto de carinho numa campanha extremamente racional, árida e chata. Tivermos um crescimento muito grande entre as mulheres. De um dia para o outro crescemos cinco por cento. Foi o que chamamos 'efeito cherne'”

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: AVSilva@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate