Legislativas 2019

Cristas diz que recebeu “mensagens” para se calar sobre Tancos

Cristas diz que recebeu “mensagens” para se calar sobre Tancos

Num dos poucos mega jantares de campanha, Cristas atirou forte ao PS: "Não há a nosso ver qualquer conspiração, se existir alguma é contra o Estado de direito democrático". E anunciou: é tempo de "tocar a rebate". Portas (em vídeo) desejou resultados melhores, Nobre Guedes pediu "uma semana heróica" para o CDS recuperar

Cristas diz que recebeu “mensagens” para se calar sobre Tancos

Nuno Botelho

Fotojornalista

O momento do dia:

Foi um suspense que durou uma hora e meia, elevando as expectativas dos jornalistas que esperavam a conferência de imprensa de Cristas... e estas não saíram defraudadas. Depois do anúncio de uma reunião extraordinária do núcleo duro do CDS e uma espera demorada, Assunção Cristas foi falar aos jornalistas, no largo do Caldas, para anunciar que vai propor nova comissão de inquérito sobre Tancos e pedir a Ferro Rodrigues que envie as declarações de Costa sobre o caso ao Ministério Público. O momento até exigiu que se alterasse a agenda do dia, dotando o anúncio de mais dramatismo.

A frase:

"Não há a nosso ver qualquer conspiração, e se existir alguma é contra o Estado de direito democrático"
Assunção Cristas sobre a tese que circula no PS sobre haver uma conspiração no Ministério Público para tramar o Governo no caso de Tancos.

A personagem:

O regresso de Luís Nobre Guedes já seria de sublinhar por si só, uma vez que o ex-ministro centrista não andava por estas lides há dez anos. Depois de há semanas ter defendido ao Expresso que este é o tempo de o CDS dramatizar e alertar para a situação difícil em que está - estratégia que o partido está de facto a seguir -, subiu ao palco no mega jantar de Aveiro para se juntar aos apelos ao voto. E deixou um recado à líder: "O abraço que der à Assunção [quando sair daqui] quer dizer duas coisas: a solidariedade de todos os que passaram pelo CDS, velhos guerreiros como eu, e a nossa confiança numa geração que não é a nossa mas é melhor que a nossa".

A fotografia:

Cristas, que festejou este sábado o seu 45º aniversário, foi desafiada para dançar ao som de "Sôdade", de Cesária Évora, numa associação caboverdiana, em Oeiras
NUNO BOTELHO

Se dúvidas houvesse de que o caso de Tancos não só deu ao CDS uma bandeira a que se agarrar como dotou a campanha de nova energia, bastaria assistir ao discurso da líder no jantar da “capital do CDS”, Aveiro. A lista de convidados era longa (João Almeida, Diogo Feio, Luís Nobre Guedes) e seria expectável, como muitas vezes acontece, que o discurso da presidente acabasse por parecer diluir-se relativamente ao dos que foram convocados especialmente para o momento. Mas não foi isso que aconteceu: embalada por Tancos, Cristas cresceu e fez um discurso assertivo, com fortíssimos ataques ao PS e à esquerda e um apelo ao voto intenso.

Durante toda a sua intervenção, Cristas quis colocar-se na posição de oposição - isolada - ao PS. E colocou a questão de uma forma muito mais dramática do que é habitual. “Durante quatro anos, muitas vezes sozinhos, muitas vezes incompreendidos, enfrentámos a arrogância, a ideia muito socialista de que quem se mete com o PS leva e que qualquer crítica ao PS é ilegítima, porque é entendida amplamente como uma crítica ao Estado”, começou.

A prova maior para sustentar a ideia de que o CDS faz oposição, muitas vezes a solo, é agora Tancos. Cristas agarra-se a ela: este sábado, carregou ao máximo e anunciou a proposta para uma nova comissão de inquérito, assim como um pedido para que Ferro Rodrigues envie as declarações de Costa sobre o assunto ao Ministério Público. Não há palavras, defendeu, para “descrever as atitudes deste Governo”, que “continua a não conseguir explicar como é que um ministro podia ter feito uma coisa destas, que um deputado sabe, sem que o próprio primeiro-ministro saiba? Como?”.

Conclusão? “Outros podem ter medo do PS; outros podem preferir o conforto à verdade dos factos. Não temos medo do PS e de dizer a verdade. Há quem nos mande mensagens, que nos diga que isto tem um preço político”, atacou. Uma intimidação não concretizada que diz poder ser aceite por partidos "de linhas ditatoriais como BE e PCP", mas não pelo CDS. E foi ainda mais longe, com a resposta à teoria da conspiração do MP que circula no PS: “Passa a ser tudo uma cabala, mas a verdade é que já vimos este filme e não acabou bem. Não há a nosso ver qualquer conspiração, e se existir alguma é contra o Estado de direito democrático. É contra essa que queremos estar”.

Dados os argumentos, o apelo ao voto. E dos sérios. “Não é tempo de desperdiçar nenhum voto. É tempo de juntar, reunir, tocar a rebate”, quantos sinónimos fossem necessários: é preciso ir votar. Com a mensagem dirigida “a todos os que alguma vez votaram, que se abstêm há muito”, aos que “se põem com votos muito táticos” e dizem preferir uma maioria absoluta do PS do que nova geringonça. “Pode acontecer agora o que aconteceu a muitos em 2015 - quando achavam que era um mero voto de protesto, acordaram com um Governo apoiado pelas esquerdas”, avisou. “Dêem-nos força, não desistam, há muitos votos para conquistar, há muitas pessoas para convencer. Vamos à conquista dos votos, um a um, porta a porta, em todas as ruas”.

Os avisos não poderiam ser mais claros. Até porque, com o caso de Tancos a contagiar toda a campanha, Cristas fez questão de lembrar: “Há muitas eleições que mudam numa semana”.

Não seria o único apelo ao voto: o primeiro chegou logo de início via vídeo, porque Paulo Portas - mandatário por Aveiro nestas eleições - não está em Portugal. Chegou com desejos de boa sorte para Assunção, mas também uma espécie de fasquia: “Que conduza as nossas cores para um bom resultado, melhor do que muitos esperam”. E puxou dos mesmos argumentos para justificar o voto no CDS, pedindo assim a militantes e simpatizantes: “Lembrem às pessoas o que aconteceu em 2015. O que contou não foi a coligação ter ganho ou o partido que teve mais votos, mas a soma dos deputados no Parlamento. Sem a soma dos deputados do CDS, a maioria será de esquerda”.

O culminar dos apelos veio com o regresso de um histórico: Luís Nobre Guedes, ex-ministro centrista que não anda “por estas lides” há dez anos, tomou a palavra para encerrar o jantar e pedir que os “valores de sempre” do partido sejam respeitados - só assim será “um grande partido nacional”. O objetivo deve ser agora o de “voltar a ser o terceiro partido”. Como? “Para isso, o CDS e a presidente vão ter de fazer desta uma semana heróica, em que todos os dias se ganha uma batalha”. Ficou dada a receita, com a garantia da “solidariedade” de um autodenominado “velho guerreiro”.

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