Tancos. Cristas atira-se aos “casos” do Governo mas evita arrastar Marcelo
NUNO BOTELHO
Sobre Marcelo, que veio garantir que não é “criminoso”, Cristas não quis dizer uma palavra. O mesmo para os ataques de Nuno Melo à imprensa. A manhã da líder foi dedicada às propostas para o interior
Tem sido um dos pontos fortes do discurso de Assunção Cristas por estes dias de campanha: a insistência em lembrar os casos que já envolveram este Governo e em estranhar que estes não se traduzam em consequências políticas. Ora esta quarta-feira, com o próprio presidente da República a querer deixar claro que “não é criminoso” apesar de o ex-chefe da sua Casa Militar alegadamente ter estado a par de toda a encenação de Tancos, Cristas aproveitou para fazer pontaria ao Governo. Mas sobre Marcelo, só silêncio.
À saída de uma visita à empresa de pneus Continental, em Vila Real, a líder do CDS foi questionada sobre os últimos desenvolvimentos conhecidos no caso de Tancos: o Ministério Público acredita que o responsável da presidência, João Cordeiro, sabia da operação ilegal para a recuperação de armas, noticiou o “i”, um dia depois de a TVI ter divulgado uma escuta telefónica de Vasco Brazão em que este se referia ao presidente como o “papagaio-mor” e assegurava que este estaria a par de tudo. Uma série de acusações que fizeram, inclusivamente, Marcelo vir a público assegurar que “não é criminoso”.
Ora para Cristas o caso era relevante, mas apenas no que toca aos falhanços do Governo. Recordando que o CDS teve a iniciativa de criar uma comssão parlamentar de inquérito sobre o furto e respetivas consequências políticas, a presidente do CDS garantiu que o partido conseguiu, no Parlamento, “provar que o ministro [da Defesa] estava ao corrente de toda a situação de encobrimento” e o Governo foi “aparentemente cúmplice ou conivente de uma farsa”.
A pergunta era, no entanto, sobre Marcelo. E a essa, Cristas, que já adiantou o seu apoio a uma eventual recandidatura do Presidente, esquivou-se uma e outra vez. Este é o momento de os portugueses “mostrarem um sinal encarnado ao Governo” se acham que “cinco arguidos em vários casos, desde Tancos à Proteção Civil e ao Galpgate, é demasiado”. De novo: então e Marcelo? “Estamos a uma semana e meia de eleições legislativas”, repetiu uma e outra vez. “Este é o nosso foco e não farei mais nenhum comentário sobre este assunto. Estamos a tratar de legislativas e eu não farei mais comentários”.
A (ausência de) resposta seria a mesmo quando questionada, pouco mais tarde, sobre os ataques que Nuno Melo fez esta terça-feira a parte da imprensa e comentadores, que acusa de imparcialidade. A centrista só queria falar do tema que estava na agenda para o dia.
NUNO BOTELHO
Uma manhã no interior
A manhã de Cristas foi dedicada às questões do interior (de resto, uma das principais bandeiras que o partido leva às legislativas de outubro), com a visita à Continental - um exemplo de uma empresa fixada no interior do país - e o Museu do Douro - onde conversou sobre a prioridade a dar a estas regiões, nomeadamente através da sua proposta de estatuto fiscal, que inclui benefícios como a redução do IRS e do IRC para pessoas e empresas que escolham estas regiões para viver e trabalhar.
“É o que eu explico ao António Costa: o país é muito mais do que ele perspetiva”, comentava no final da visita ao Museu, em conversa com os responsáveis. E apresentava o CDS como “o único” partido que batalha “a sério” pelo interior. “E é mesmo por convicção, porque se fosse pelos votos...”
Entre as ideias para o interior está um estatuto que permita, por exemplo, a um jovem que vá trabalhar sazonalmente nestas zonas - aqui, o exemplo era o das vindimas - ganhar o seu salário sem que os seus rendimentos sejam englobados nos da sua família e esta perca, por isso, benefícios. Tudo para ajudar “um território que precisa desesperadamente de gente e de investimento, e de valorização da uva, não é só do vinho”. À saída do museu, duas senhoras idosas faziam a mesma análise, ao olhar para as câmaras de televisão:
- Façam uma reportagem aqui nesta terra, digam que não tem nada.