Legislativas 2019

Santana nos bairros sociais. “Senhor, eu preciso de uma casa”

Santana Lopes tem estado a visitar vários bairros sociais, incluindo o Bairro da Boavista, na passada terça-feira
Santana Lopes tem estado a visitar vários bairros sociais, incluindo o Bairro da Boavista, na passada terça-feira
Manuel Almeida/Lusa

O presidente do Aliança foi ao Bairro das Murtas, em Alvalade, o terceiro desta semana. Porquê a visita aos bairros durante a campanha? “É o que mais me motiva na política: conhecer realidades diferentes”, diz ao Expresso. E nega que sirvam para criticar o que está mal. “Não é esse o meu objetivo. Até porque não gosto de demagogia barata”

Quando se preparava para fechar a porta e seguir viagem para outro bairro, uma jovem aproximou-se e pediu-lhe ajuda. Com uma perna fora e outra já dentro do carro, Santana Lopes parou para a ouvir. “Senhor, preciso de uma casa. A minha sogra não me deixa entrar e estou a dormir numas escadas com a minha filha.” O líder do Aliança e antigo autarca de Lisboa, que há vinte anos esteve envolvido no processo de realojamento do bairro das Murtas, em Alvalade, pediu-lhe que deixasse o nome e o número.

Mas antes ainda que a jovem se fosse embora, apareceu mais uma e pouco depois mais outra, até já serem mais de seis à volta do carro, todas elas mães, de etnia cigana, com os filhos ao colo ou pela mão. “Senhor, escreva aí o meu nome e o meu número. Preciso de outra casa, a minha já é pequena e somos muitos.”

Houve quem pedisse uma casa naquele bairro ou noutro bairro ou simplesmente uma casa melhor. Queixaram-se das infiltrações e ofereceram-se para ir buscar relatórios médicos para provar os problemas de saúde dos filhos. Pediram-lhe garantias de que lá voltava, perguntaram em que dia e a que horas e fizeram-no escrever num pedaço de papel o seu número de telefone. “Queremos mesmo o seu, não de outra pessoa.”

“Devia era trazer aqui o Dr. Medina”, atirou para o ar um dos únicos homens presentes. Santana foi fazendo perguntas, anotou números e disse-lhes que voltaria. Momentos antes, o cabeça de lista por Lisboa, em campanha para as legislativas, tinha visitado algumas casas e ouviu as queixas de outros moradores que lamentavam o estado de degradação dos prédios e o ambiente de insegurança e falta de higiene em que vivem.

É o terceiro bairro social que Santana Lopes visita esta semana, desde que arrancou o período oficial de campanha eleitoral. Para trás, na pré-campanha, passou por outros tantos. Mas porquê os bairros sociais? “É o que mais me motiva na política: conhecer as diferentes realidades. É o que me dá energia e é aquilo que me sinto bem a fazer. Além de achar que preciso de saber por quem vou lutar. Não tem a ver só com ser ou não deputado, é mesmo como presidente de um partido”, disse Santana Lopes ao Expresso.

“Não gosto de demagogia barata”

Santana Lopes nega que as visitas aos bairros sociais durante a sua campanha sejam uma caça ao voto, nem que devam ser interpretadas como uma crítica ao que está por fazer em Lisboa em termos de realojamento, integração ou condições da habitação social. “Não é uma crítica. Não é esse o meu objetivo. Até porque não gosto de demagogia barata. Estes problemas que são visíveis têm décadas, não são de agora”, afirma.

“Outra coisa é o trabalho das câmaras e a atenção especial que a Gebalis [empresa que gere os bairros municipais] tem de ter. Alguns destes bairros, como o Alfredo Bensaúde, nos Olivais, surpreenderam-me pela negativa.”

Ainda que o caso do Bairro das Calvanas, junto ao aeroporto e que Santana visitou na segunda-feira, seja considerado pelos próprios moradores um exemplo de sucesso, o mesmo não se pode dizer de outros processos de realojamento na cidade feitos há vinte anos, quando Santana estava na câmara de Lisboa. Um desses casos é na Ameixoeira, onde foram realojadas famílias de etnia cigana de clãs contrários.

Tornou-se assim num bairro “sujeito a fenómenos de segregação social e estigmatização territorial”, além de “falta de coesão social”, como se lê num documento de monitorização do bairro e do PER (Programa Especial de Realojamento), produzido em 2012 pela Câmara Municipal de Lisboa.

Esta semana, Santana Lopes visitará ainda os bairros de Vale de Alcântara e das Furnas, em Lisboa. O caminho para o Bairro da Cruz Vermelha, que iria visitar esta quarta-feira, acabou por não se fazer. A demora à saída do Bairro das Murtas atrasou-lhe os planos, mas por lá foram muitos os que ficaram à espera de resposta e do regresso do “senhor” a quem pediram ajuda e que muitos nem saberiam quem era.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ralbuquerque@expresso.impresa.pt

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