Legislativas 2019

'Impostopoly'. Cartaz da Iniciativa Liberal aponta armas ao líder das “taxas e taxinhas”

“Impostopoly”, o jogo no cartaz da Iniciativa Liberal na Praça Duque de Saldanha
“Impostopoly”, o jogo no cartaz da Iniciativa Liberal na Praça Duque de Saldanha
João Diogo Correia

Partido liderado por Carlos Guimarães Pinto esteve numa ação de campanha em Lisboa, na manhã desta quarta-feira. Pede uma “redução da carga fiscal” e aponta baterias aos abstencionistas, para tentar eleger “um ou dois deputados”

A partir desta quarta-feira, 25 de setembro, há um cartaz na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, que não se parece com nenhum outro. Na verdade, não é apenas um cartaz, são dois — o primeiro é feito nos moldes de sempre e o segundo é uma espécie de ‘atrelado’, onde se vê a figura de António Costa, de cartola na cabeça, como um “mago dos impostos”. A estratégia da Iniciativa Liberal (IL), um dos partidos que se apresenta pela primeira vez ao eleitorado numas legislativas, é precisamente essa. “Os pequenos partidos só têm uma forma de chamar a atenção: fazer diferente”, explica o presidente, Carlos Guimarães Pinto.

Manuel Soares de Oliveira, um dos 15 militantes que subiu a avenida Fontes Pereira de Melo para a inauguração do ‘Impostopoly’, vai mais longe: “O humor pode ser uma arma inteligente. E António Costa é o principal responsável pelas taxas e taxinhas que temos de pagar.” O ‘Impostopoly’, para onde o ‘mágico Costa’ aponta, é uma recriação do popular jogo de tabuleiro Monopoly, onde os jogadores passam por várias casas, compram-nas, vendem-nas e, no fim, alguém ganha. “Impostopoly: o jogo onde todos perdem” é todo um programa político. “Portugal está com uma carga fiscal recorde”, repete João Cotrim Figueiredo, ex-presidente do Turismo de Portugal e agora cabeça de lista do partido pelo círculo de Lisboa.

Todos admitem que falar de impostos, sistema fiscal e semelhantes não é o caminho mais curto para chegar aos eleitores. Mas a cartada é sempre essa: liberalizar, liberalizar, liberalizar. Na economia, sobretudo, mas também na política e nas questões sociais. Isso significa reduzir a quantidade de impostos e o valor a pagar por cada um deles. Em destaque no programa da IL aparece a taxa única de IRS (15% para todos) e a progressiva eliminação do IRC, que não é o único imposto que o partido acha que está a mais — o ‘Impostopoly’ apresenta 15. O jogador paga cada um deles e, quando não o faz, cai na casa da “cadeia”. “Os portugueses recebem uma carta da Autoridade Tributária (AT) e ficam em pânico. Isto depois de gastarem cerca de 180 horas [por ano] a cumprir obrigações fiscais”, avança Cotrim Figueiredo, perguntando: “Está a ver o que isso representa em termos financeiros e de tempo das famílias?”.

A esta hora estão todos a ver o cartaz e o atrelado. Há curiosidade, há comentários vindos de alguns carros, nem sempre em forma de elogio. É o preço a pagar por a IL ser um partido (um pouco) mais conhecido. Há um ano, tinha perto de 200 militantes, agora ascende a 600. “Como todos os novos partidos, somos mais de simpatizantes e votantes do que de militantes”, explica um deles, Rodrigo Saraiva. Há seis meses, para as eleições europeias, o partido tinha um orçamento de 25 mil euros. Agora, para as legislativas, tem o dobro. Mesmo assim, muito pouco face à concorrência.

Ali ao lado, a investir pela Duque de Loulé, segue uma comitiva do Aliança, outro dos novos e pequenos partidos, encabeçado por Santana Lopes. Ao contrário do ex-presidente da Câmara de Lisboa, o presidente da Iniciativa Liberal é novo nestas lides, mas diz que já aprendeu a não falar dos outros. Sabe só que “não há ninguém a ocupar o espaço do liberalismo em Portugal”. Carlos Guimarães Pinto é economista e admite que a política ainda tem muita novidade. “Estou a adaptar-me” às câmaras de televisão, às fotografias, à forma de falar. “As pessoas dizem que estão fartas de políticos, mas depois querem que nos comportemos como eles. Sei que não tenho a melhor dicção, sei que nem sempre correspondo a esse perfil. Mas Portugal precisa de ideias novas.”

O líder da IL repetiu algumas das que já tinha dado na terça-feira, perante uma plateia de estudantes, como a ideia da “geração perdida”, que é a sua, e a necessidade de um novo tempo. Com novas gerações? “Não segmentamos o nosso público alvo. Os eleitores da IL são liberais. Mas tenho a convicção de que metade dos nossos eleitores nas europeias não votaram noutras eleições ou não votariam naquela.” É uma questão de matemática. “Se há 60% de abstenção, há aí um espaço [para a IL].” Nem esquerda, nem assumidamente direita. “Somos liberais”, repete, e “vamos aos descontentes, aos descrentes, aos que não votam ou votam em branco, nulo.”

A ação de inauguração do ‘Impostopoly’ tinha começado mais abaixo, a meio da Fontes Pereira de Melo, onde há uma repartição de finanças. Ou, como lhe chamam na IL, uma repartição de “opressão fiscal”. À porta, João Cotrim Figueiredo interpelava os contribuintes, distribuía-lhes folhetos informativos. Por longos momentos, porém, ninguém entra ou sai do edifício da AT. “Veem? Já foram engolidos pelo sistema.”

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