Costa vai buscar o diabo de Passos para agitar o papão de Rio

Líder socialista personaliza ataque em Rui Rio e pede força para o PS - para evitar que "os passes desapareçam, e os salários voltem a ser cortados, e os impostos aumentados"
Líder socialista personaliza ataque em Rui Rio e pede força para o PS - para evitar que "os passes desapareçam, e os salários voltem a ser cortados, e os impostos aumentados"
Jornalista da secção Política
Fotojornalista
O projeto de programa da campanha previa uma arruada, esta tarde, em Faro. Depois, esse ponto foi riscado da agenda - esta quarta-feira teria apenas um almoço com migrantes e um comício em Loulé. Mas, apesar das garantias da assessoria de imprensa de que a arruada em Faro tinha sido desmarcada, esta acabou por acontecer. Um grupo de corridinhos esperava o líder socialista, a JS também, e até havia no centro da cidade uma tarja anunciando a presença do primeiro-ministro às seis da tarde - o passeio durou 50 minutos, com povo q.b.. Mas a questão passou a ser outra: a campanha do PS inclui eventos secretos, fora da agenda e escondidos da comunicação social? Seria receio de que houvesse pouca adesão numa acção de rua ao fim da tarde? A explicação veio depois: terá sido uma “decisão de última hora”, quando a direção de campanha se apercebeu de que o evento, que devia acontecer apenas com a secretária-geral adjunta, estava anunciado localmente como tendo a presença do secretário-geral. Para não decepcionar os algarvios que o esperavam, Costa, que já estava a caminho do Algarve, terá sido convocado em cima da hora.
“António Costa usou essa pá para tirar do forno o pão, os rendimentos, o emprego, para matar a descrença no futuro, o pessimismo em relação ao pais, o desespero que levou tantos a emigrar, e também poderia ter morto o diabo mas ele, prevenido, já tinha ido para outras paragens.”
José Judice, poeta, atualizando em António Costa a figura da Padeira de Aljubarrota
Francisco Oliveira tem 19 anos e já é uma das figuras desta campanha do PS. O aluno de gestão de empresas é quem anima as gentes antes de cada comício de António Costa - assume o alter-ego DJ Flex, sobe ao palco e alinha uma playlist para aquecer a plateia, conforme esta vai enchendo. As escolhas musicais tanto incluem as últimas de funk brasileiro e reggaeton como sucessos de Toy, Quim Barreiros ou José Malhoa. É garantido: refrões como “aperta, aperta com ela” ou “mas quem será o pai da criança?” provocam animação instantânea. Francisco, ou Flex, vai votar este ano pela primeira vez em legislativas, mas já tem experiência política: é militante da JS e o seu pai foi presidente de junta pelo PS ao longo de 32 anos, na freguesia de Lamas, em Braga. Mas não é por ser também socialista que Francisco sobe todas as noites ao mesmo palco que António Costa - o bracarense foi contratado por já ter experiência como DJ da discoteca Pacha Ofir. Mas, aí, a música é outra.
António Costa apontou diretamente baterias a Rui Rio e ao PSD, esta quarta-feira à noite, no comício do PS em Loulé. Com os sociais-democratas a recuperar nas intenções de voto, e o PS a precisar de alguma bipolarização para ajudar a mobilizar eleitorado à esquerda, Costa nomeou diretamente o líder do maior partido da oposição e embrulhou-o no passado recente do PSD, feito de austeridade e previsões de que virá aí “o diabo”.
A referência a Rio veio a propósito da aposta do governo socialista numa nova política de passes sociais baratos e investimento em mais transportes públicos. Conforme Costa lembrou às mais de 400 pessoas presentes no comício de rua em Loulé, “Rui Rio dizia que [esse projeto de novos passes sociais] só era benéfico para os lisboetas e os portuenses. É falso”, sublinhou o primeiro-ministro - “É um benefício que existe em todas as comunidades intermunicipais e em todas as áreas metropolitanas”.
Sublinhando que em cada local são os autarcas que decidem de que forma adaptam esta política aos seus territórios, e dando o exemplo do que se passa no Algarve, Costa interpelou diretamente o líder do PSD: “Não, doutor Rui Rio. Quem está em Faro, em Portimão, em Lagos, em Vila Real de Santo António, não está em Lisboa nem no Porto e tem direito aos novos passes sociais.”
Este foi um exemplo de política lançada pelo atual governo que, na próxima legislatura, o PS quer “fazer mais e melhor”. Outros exemplos foram o início da recuperação do Serviço Nacional de Saúde ou as novas políticas públicas de habitação. E por isso, afirmou Costa, “é preciso dar força ao PS para que estas medidas não andem para trás.”
Foi a deixa para um novo ataque direto do PSD: “Nós conhecemos bem aqueles que diziam que nada disto era possível, porque fazendo tudo isto vinha aí o diabo. Como têm tanto medo do diabo, nada nos garante que, chegando ao poder, para evitar o diabo não façam tudo isto andar para trás, e os passes desapareçam, e os salários voltem a ser cortados, e os impostos aumentados, e as pensões novamente cortadas.”
“Connosco”, jurou o líder socialista, “o diabo não vem, connosco o país não volta a andar para trás. E é para seguirmos em frente que é preciso dar mais força ao PS”.
A continuidade das políticas lançadas nesta legislatura é uma das razões para o apelo ao voto no PS, assim como a capacidade demonstrada nesta legislatura para governar com estabilidade. Nessa frente, Costa apresentou um novo argumento aos algarvios que o ouviam em Loulé.
Poucas antes, ao fim da tarde, o secretário-geral do PS tinha feito uma arruada em Faro, que não constava da agenda de campanha. Foi nessa passeata que, contou, foi abordado por espanhóis. Como quase sempre acontece nestes relatos, esses encontros fortuitos encerram verdades reveladoras. Assim foi, segundo Costa: “Os nossos vizinhos espanhóis diziam-nos que têm grande orgulho em ser vizinhos de Portugal, e que tinham curiosidade em perceber o que se passa em Portugal - como é que, depois de tudo que passámos, com um governo minoritário conseguimos construir uma solução em que poucos acreditavam, mas contra ventos e marés durou quatro anos de grande estabilidade”.
Como a comunicação social não foi convidada para essa arruada, não há registo de tão interessante interação ibérica - mas o que interessava a Costa era chegar à moral da história: “Nestes mesmos quatro anos, Espanha vai para quarta eleição e não é capaz de ter governo estável”, enquanto que em Portugal o governo do PS não só garantiu estabilidade como “devolveu tranquilidade ao dia a dia dos portugueses”.
A conclusão, naturalmente, impunha-se: “Para evitar a instabilidade dos nossos vizinhos, para continuar a estabilidade que temos, é preciso dar força ao PS.”
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: FSCosta@expresso.impresa.pt