Rio termina o dia no Aliança com insinuações sobre Costa: vem aí outra encenação
Rui Duarte Silva
O líder do PSD sugeriu, sem concretizar, que António Costa pode estar a preparar um “golpe de teatro” semelhante ao das crises dos professores e motoristas. Foi a nota principal de um primeiro dia de campanha feito em circuito (quase) fechado
"A nossa postura é tentar convencer as pessoas de que vale a pena votar no PSD e não ficar em casa em nome de um futuro diferente para Portugal. Não é um futuro muito diferente. Não estamos aqui a falar de um processo revolucionário, mas estamos a falar de um processo reformista” Rui Rio, líder do PSD
O momento:
O sketch protagonizado pelos atores Carla Vasconcelos e Mário Bomba. Uma paródia sobre o caos na Saúde. Isso mesmo: uma paródia sobre o caos na Saúde. Piadas como: “Se morrer alguém não faz mal. Isto é o centro de saúde estamos habituados” ou “Sinto uma pontada no baço. Fui operada mas como estou à espera da consulta desde 2008 desconfio que ele voltou a nascer” fizeram parte do guião. “Acho que foi um momento agradável”, resumiu Rui Rio
O personagem:
Joaquim Miranda Sarmento, o Ronaldo de Rui Rio. O líder social-democrata continua a puxar dos méritos do seu porta-voz para as Finanças e aproveitou o seu primeiro dia oficial de campanha para dar o passe em frente: desafiou António Costa para um duelo entre Mário Centeno e Miranda Sarmento.
A fotografia:
Rui Rio no histórico Café Aliança, em Faro
Rui Duarte Silva
Ei-la, a campanha “original” prometida por Rui Rio. O líder do PSD já tinha avisado ao que vinha: é tempo de renegar as jantaradas, os grandes comícios e as arruadas e privilegiar a mensagem. Em circuito fechado – um hospital, almoço minimal com empresários, um centro de saúde e uma sessão de esclarecimento com 50 pessoas –, Rio repetiu e insistiu em dois grandes temas: Saúde, para provar o caos em que vive o Serviço Nacional de Saúde, e a Economia, para mostrar que este PS é de vistas curtas e não acautela o futuro.
“Privilegiamos mais este formato do que a gritaria e o dizer mal do adversário”, resumiu o líder social-democrata já no histórico Café Aliança (ironia…), em Faro, onde decorreu o primeiro dos vários “talks” que o PSD vai repetir ao longo da campanha. E foi original? Começou de forma original, pelo menos. Os atores Mário Bomba (a voz do Canal Panda) e Carla Vasconcelos (conhecida pelos seus papéis em “Morangos com Açúcar” e “Floribella”) protagonizaram um sketch sobre o “caos na Saúde”, com algumas pérolas acima reproduzidas. “Estava na expectativa de saber se corria bem ou corria mal mas acho que foi um momento agradável. Não estiveram tempo a mais, estiveram o tempo certo”, resumiu Rui Rio.
Feita a crítica artística, houve lugar para a política? Sim, houve. Sobretudo pela sugestão deixada no ar pelo líder social-democrata: António Costa prepara-se para repetir o “número de encenação” posto em prática nas crises dos professores e dos motoristas. “Penso que amanhã ou depois vamos também perceber uma outra encenação noutro sector em que eles estiveram a preparar também coisa parecida”, disse Rio. O quê? Não concretizou, mas há um dado importante: de acordo com a Rádio Renascença, que teve acesso a parte da acusação do Ministério Público no caso de Tancos, o então ministro da Defesa, Azeredo Lopes, poderá ter tentado aproveitar a encenação em torno da recuperação do armamento para ter ganhos políticos. Rio podia estar a referir-se a isso.
Foi o momento alto (pelo menos o mais intrigante) de uma tertúlia em que Rio jogou confortavelmente em casa. Entre uma maioria de militantes e simpatizantes, num espaço demasiado pequeno para os convidados, as perguntas, aparentemente muito pouco espontâneas, foram um passeio no parque para o líder social-democrata. Exemplos? “Como é que conseguiu equilibrar as contas mantendo a sua popularidade e a presença querida entre os seus eleitores?” ou “Que influência teve Sá Carneiro na sua vida?”.
Rio lá foi respondendo às simpáticas solicitações com algumas frases soltas e impactantes. “Há muitos pequenos interesses. Há muitos interesses corporativos que têm força demais. Nunca podemos permitir que o interesse minoritário se possa sobrepor ao interesse coletivo”, por exemplo. Ou: “O estado geral da Justiça é mau, francamente mau”. Ou ainda: “Temos em Portugal a maior carga fiscal de sempre. É verdade que o Governo desceu o IRS, mas subiu uma quantidade infinita de pequenos e médios impostos”. Tudo sem grande concretização política. A campanha pode não ser a tradicional, como fazem questão de lembrar os sociais-democratas, mas ainda se faz de soundbites.
Sobraram algumas propostas concretas. Em matéria da Educação, com Rio a defender, como já o fizera em ocasiões anteriores, a antecipação da idade de reforma como meio de compensar os professores pelos nove anos, quatro meses e dois dias congelados. No acesso à Justiça, com a ideia de isentar do pagamento das taxas judiciais para quem aufere o salário mínimo nacional e a introdução de escalões progressivos a partir desse valor. Ou na Mobilidade, com Rio a propor que seja o Estado a compensar as operadoras de transportes (sobretudo no interior e nos arredores dos grandes centros urbanos) pela redução do preço dos bilhetes.
Ainda uma palavra sobre a regionalização. “Gostaria que um dia fosse possível aprovar um processo de regionalização. Tanto poderei ser a favor, como ser contra. Depende do projeto de lei. Um processo de regionalização tem de fazer descer a despesa pública. Se for possível servir melhor as populações, aí estarei na linha da frente”, defendeu Rio.
O presidente do PSD terminou o seu primeiro dia oficial de campanha com comparações a Francisco Sá Carneiro e gritos de vitória dos jotinhas do partido – que tiveram esta noite a sua primeira aparição. Mas esta quarta-feira há mais: Rio sai à rua (duas vezes, em Évora e Beja) e termina com um “sunset” no “Terraza Drinks & Co.” de Évora. Estarão lá os indecisos que Rio tão assumidamente procura?