Legislativas 2019

Jerónimo dispara contra maioria absoluta do PS

Jerónimo de Sousa no discurso de encerramento da festa do Avante
Jerónimo de Sousa no discurso de encerramento da festa do Avante
Ana Baião

"O voto na CDU conta, e conta bem, para impedir a maioria absoluta do PS". O líder comunista já escolheu o objetivo do PCP para as legislativas. O dia foi de festa, do Avante, mas o discurso foi de guerra, política claro está

A reentré política comunista fez-se, como de costume, na Festa do Avante. Mas, com as eleições à porta, "o tempo é curto" e, por isso, Jerónimo de Sousa foi direto ao assunto e assumiu que o PCP quer mesmo evitar a maioria absoluta do PS. A partir da Quinta da Atalaia. O objetivo eleitoral comunista ficou traçado. O recinto do palco principal da Festa do Avante estava cheio. Tal como o palco, propriamente dito, onde o comité central completo, os delegados das dezenas de representações internacionais e os cabeças de lista a todos os círculos eleitorais do País pela CDU, literalmente se acotovelavam para ouvir as palavras do líder comunista.

Jerónimo de Sousa falou durante 45 minutos. Nada de novo, porque a Festa do Avante é assim mesmo e é já seguro que o discurso do líder será longo. Mas foi logo aos seis minutos, que o secretário geral do PCP abriu fogo ao objetivo central e disparou diretamente para o alvo das eleições. Talvez porque "o tempo até às eleições é curto e o trabalho muito", Jerónimo de Sousa fez questão de falar diretamente para o seu eleitorado e não poupou esforços no apelo ao voto.

Do passado recente, das aproximações ao PS e da constituição da geringonça, nenhuma angústia ou arrependimento. "Valeu e vale a pena", disse Jerónimo de Sousa, que assume a paternidade de uma estratégia que permitiu "travar e vencer" uma batalha que permitiu "derrotar um Governo retrógrado". A vitória, porem, não foi fácil. "Foram quatro anos vencendo resistências internas e ameaças externas", disse, sem esclarecer exactamente de onde vieram os travões internos. Os inimigos de dentro ficam para depois, já os adversários externos têm bilhete de identidade assumido: "o grande capital e as forças políticas que o servem".

Crise? É o capital a defender o PS

O discurso alonga-se nas conquistas arrancadas ao PS, durante os anos da geringonça. Jerónimo enumerou quase uma a uma as "conquistas" ou os "avanços", mas com um objetivo político concreto. Mostrar que é preciso continuar o caminho político iniciado nesta legislatura, e, para isso, é preciso travar as ambições socialistas. Ou, por outras palavras, o objetivo passa por "não deixar o PS de mãos livres".

Antes, o secretário geral do PCP já tinha falado do "anúncio de novas crises" ou do "espantalho de falsos excesso" que começam a marcar o discurso dos socialistas. E aproveitou para desmontar a tese de António Costa de que é preciso cautelas porque "sabemos o que significa e o que querem com o discurso da crise e da tese dos excessos: querem marcar passo". E isso serviu para colar o PS, ao PSD e ao CDS e, mais e pior ainda, ao "grande capital". Jerónimo de Sousa não tem dúvidas: "os grandes interesses económicos querem duas coisas: a maioria absoluta do PS e tirar força à CDU".

Aos vinte e cinco minutos de discurso, o líder comunista chegou onde queria. "O voto na CDU conta, e conta bem, para impedir a maioria absoluta do PS", disse. E se o combate como PS é direto, politicamente, não se fecham portas ao futuro. "Nunca ficamos tolhidos pelas circunstâncias" e "não abandonamos os combates antes de os travar", avisou Jerónimo. Do palco da Quinta da Atalaia, com vista para o mar de gente que enche o comício, o PCP parece, de facto, um partido gigante. Nenhum outro consegue tanta afluência numa reentre. Talvez por isso Jerónimo termine o discurso com a garantia de uma "imensa confiança". Quer até aumentar o número de deputados que alcançou em 2015. Mas, seja qual for o resultado eleitoral que aí venha, os comunistas prometem não se deixar "tolher". E o que isso verdadeiramente significa só se ficará a saber na noite de 6 de outubro.

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