Costa compreende voto contra de Itália e “cita” Soares: quer ser “o presidente de todos aqueles que se sentam no Conselho Europeu”
Olivier Matthys
O ex-primeiro-ministro português quer "colaborar" com Itália: encarou o voto contra de Giorgia Meloni com normalidade e promete “assegurar o funcionamento do Conselho”
O recém eleito presidente do Conselho Europeu disse estar “honrado” com a decisão da maioria dos líderes europeus, que escolheu António Costa na noite de quinta-feira para liderar o órgão e suceder a Charles Michel, apontando que compreende “perfeitamente” o voto contra da Itália.
Esta sexta-feira, em Bruxelas, António Costa disse que a aprovação do seu nome é um “voto de confiança” que o “honra”. “Espero agora durante os dois anos e meio que tenho pela frente contribuir para o prestígio do nosso país, para corresponder ao exemplo dos portugueses que trabalham no estrangeiro e nas nossas comunidades”, disse o ex-primeiro-ministro português aos jornalistas, prometendo que vai trabalhar para “assegurar o funcionamento do Conselho Europeu”.
Agora, para Costa, o objetivo é “por em prática agenda estratégica que foi aprovada, que é a rota para os próximos cinco anos” definida pelos líderes do bloco comunitário.
Costa foi questionado pelo voto contra de Itália, liderada pela primeira-ministra de extrema-direita Giorgia Meloni, que encarou com normalidade e com espírito democrático. Meloni foi a única a votar contra o nome de Costa.
“O Conselho não é uma agremiação de tecnocratas, mas de políticos, que votam de acordo com as suas preferências. Compreendo perfeitamente o voto da primeira-ministra de Itália, com quem conto colaborar com proximidade, como conto colaborar com os outros 26", sublinhou o novo presidente do Conselho Europeu, que só vai tomar posse em dezembro.
Ursula von der Leyen, Kaja Kallas e António Costa, no Aeroporto de Bruxelas
O português acrescentou que o voto de Meloni contra a sua candidatura ao Conselho Europeu não é um mau augúrio para as instituições europeias (numa altura em que vários países assistem a um reforço da extrema-direita, nomeadamente em França). “Uma das grandes qualidades da União Europeia é ser uma união de vários estados, todos eles estados de Direito democrático, e onde os respetivos governos são fruto da vontade popular. São democraticamente escolhidos”, vincou.
Ainda sobre Itália, e sobre a ascensão de partidos extremistas às lideranças da Europa, Costa reiterou que “o governo de Itália, como o governo dos outros 26 países, resulta do voto e expressão democrática dos respetivos povos que devemos respeitar”, e o bloco deve trabalhar “em conjunto” para ultrapassar divergências fundamentais.
Costa sucede ao belga Charles Michel e será o primeiro socialista dos Sociais e Democratas europeus a liderar o Conselho Europeu. Marcelo Rebelo de Sousa comentou que o português fora aprovado por líderes dos vários espetros políticos, incluindo pela direita radical (como Viktor Orbán, da Hungria), mas António Costa deixou claro que “toda a gente sabe” que foi eleito por ser “socialista”.
“Para além disso, o presidente do Conselho tem que se saber colocar acima das famílias políticas para o exercício das suas funções, e ter uma noção clara e precisa para que todos os 27 tenham igual direito e mereçam igual respeito”, marcou.
E aproveitou para citar outro histórico socialista português, Mário Soares, para defender uma procura de consensos e de diálogos a nível europeu."Écomo a expressão que Mário Soares criou para os Presidentes da República, 'ser o Presidente de todos os portugueses'. O presidente do Conselho tem de ser o presidente de todos aqueles que se sentam no Conselho Europeu".
Como só tomará posse em dezembro e, para já, o ex-chefe de Governo português só pensa em descansar, e diz que vai fazer algo que “não faz desde a faculdade”: tirar umas “largas semanas consecutivas de férias”.
O anterior primeiro-ministro e líder do Partido Socialista foi confirmado na quinta-feira como o próximo presidente do Conselho Europeu; acompanhado pelas nomeações de Ursula von der Leyen, que continuará a ser presidente da Comissão Europeia por mais cinco anos; e Kaja Kallas, a ex-primeira-ministra da Estónia, que sucederá a Josep Borrell como chefe da diplomacia europeia.
A sua candidatura mereceu uma defesa acérrima de Luís Montenegro, que escreveu na rede social X (antigo Twitter) que "a Europa enfrenta grandes desafios e contaremos com todos para defender uma União Europeia mais coesa, capaz de construir pontes para que os Estados possam dar às pessoas as respostas de que elas precisam”.