A campanha eleitoral para as europeias ainda não arrancou, mas PSD e PS aumentam já o tom e a troca de acusações. No centro do combate político estão as recentes eleições na Eslováquia, sábado, em que venceu o ex-primeiro-ministro Robert Fico. O seu partido pró-russo Smer (Direção) faz parte da família socialista europeia.
Paulo Rangel acusa os socialistas de nunca se terem demarcado de Fico quando este teve de demitir-se, em 2018, na sequência do assassínio de um jornalista eslovaco. O social-democrata português aproveitou o debate sobre liberdade de imprensa no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, para insistir num assunto.
“Sabemos que foi no âmbito de uma investigação contra a corrupção na Eslováquia e do Governo do senhor Fico que se deu a morte de Jan Kuciak e da mulher. Durante cinco anos, nunca vi, nem em Portugal nem aqui em Bruxelas, o Partido Socialista português e o S&D demarcarem-se do Smer e do senhor Fico, que neste momento estão ao lado da propaganda russa e de Putin”, afirmou em plenário.
O discurso não caiu bem ao grupo dos Socialistas&Democratas (S&D), bancada do Partido Socialista Europeu (PSE). Em comunicado, o PS acusa Rangel de fazer “acusações falsas e graves”. Assegura que na época os socialistas europeus condenaram o assassínio de Kuciak e que o partido eslovaco Smer chegou a ser suspenso do PSE.
Sob pressão, socialistas admitem expulsão do Smer
Desde a vitória do Smer, no fim de semana, que a família socialista europeia está sob pressão para reagir ao possível regresso de Fico e às polémicas promessas que fez durante a campanha eleitoral, incluindo abandonar o apoio militar a Kiev. Esta manhã, foram várias as perguntas dos jornalistas a Pedro Marques, numa conferência de imprensa em Estrasburgo.
O eurodeputado do PS, que é vice-presidente da bancada dos S&D, admite que “poderá haver um processo de sanções” contra o Smer. Não afasta a “expulsão” dos três eurodeputados eslovacos, caso o partido e Fico “passem da retórica à ação”, isto é, se “houver violações do Estado de Direito, dos direitos LGBTQ” ou se puserem em causa o apoio europeu à Ucrânia.
A bancada do S&D surge alinhada com o PSE, cujo presidente, o sueco Stefan Löfven, admitiu também a expulsão dos eslovacos. Fico ameaça tornar-se um incómodo para o centro-esquerda, como o húngaro Viktor Orbán foi no passado para o PSD e Partido Popular Europeu (PPE), de onde acabou por sair para evitar ser expulso.
Na troca de acusações, Marques diz que o S&D não “vai arrastar os pés, nem demorar dez anos (a expulsar um partido), como aconteceu com Orbán e o PPE”. Em declarações ao Expresso, já no final do dia, diz que “não há razão para [Fico] se tornar um embaraço”, porque o PSE e o S&D estão dispostos a agir.
Só que Rangel também ficou incomodado com o contra-ataque socialista e, já ao final do dia, fez um comunicado a manter tudo o que dissera em plenário e a acusar o PS de ambiguidade. “Ninguém diz que eles não lamentaram a morte do jornalista”, responde ao Expresso. “O problema é que não tiraram consequências políticas disso”, adianta, desafiando o PS a ir mais longe na condenação ao Smer. Considera que a campanha pró-russa de Fico é, por si só, motivo de condenação e que não deveria ser preciso ficar à espera para perceber se consegue ou não formar governo.
Para Marques, “ainda não houve motivo” para um processo de sanções contra o Smer. Admite, porém, que o eslovaco tem “uma retórica errada” e que tem “dúvidas em relação ao que vai fazer”. O eurodeputado fala pelo S&D, mas garante que a delegação de eurodeputados do PS está também alinhada com esta posição.
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