

É o som que transfigura tudo. Um grito longo e excruciante. Carne viva. As imagens não têm interesse: uma mulher sentada num avião, do outro lado do corredor de quem filma, move os dedos sobre o ecrã do telemóvel, enquanto passam umas figuras envergando coletes refletores. O vídeo dá conta dos últimos minutos de consciência de Alexei Navalny, a 20 de agosto de 2020, quando o principal opositor de Putin ruma a Moscovo, num voo interno, depois de uma breve deslocação à Sibéria. Sabe-se que, a seguir, Navalny perde os sentidos, que o avião interrompe a sua marcha para Moscovo, que aterra de emergência na cidade siberiana de Omsk e que as palavras “overdose” e “chá” aparecem nas notícias.
Alexei Navalny é hospitalizado na Sibéria, entra em coma e, a pedido da mulher, é transferido para a Alemanha. Putin autoriza a deslocação, que só acontece depois de os médicos estabilizarem o paciente. Ao abrigo do Governo da chanceler Angela Merkel, o seu corpo denuncia um crime. No sangue e na urina descobre-se um veneno que ataca o sistema nervoso. Trata-se de um agente do grupo novichok. A mesma substância que as autoridades britânicas detetaram na súbita doença que quase matou o duplo espião Sergei Skripal e a sua filha, Yulia, em 2018, no Reino Unido.
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