Reino Unido

Theresa May vai abandonar o Parlamento britânico depois de 27 anos na bancada dos Conservadores

Theresa May vai abandonar o Parlamento britânico depois de 27 anos na bancada dos Conservadores
Hannah McKay/WPA Pool/Getty Images

Principal protagonista durante um dos períodos mais conturbados da história recente do Reino Unido, May é a 64.ª conservadora a anunciar a saída da Câmara dos Comuns antes das próximas eleições gerais

Theresa May vai abandonar o Parlamento britânico depois de 27 anos na bancada dos Conservadores

Hélio Carvalho

Jornalista

Quase cinco anos depois de sair do número 10 de Downing Street, a antiga primeira-ministra britânica Theresa May anunciou que vai demitir-se do cargo de deputada no Parlamento britânico quando forem confirmadas novas eleições ainda este ano, para se dedicar a “causas próximas do coração”.

May é representante da cidade de Maidenhead, na área metropolitana de Londres, desde 1997. Ao jornal local Maidenhead Advertiser, a antiga líder do país confessou que a saída da Câmara dos Comuns é uma “decisão difícil”, mas necessária para poder ter mais tempo no combate ao tráfico de seres humanos e à escravatura moderna, dois temas aos quais tem dedicado maior atenção desde que saiu do Governo.

“Percebi que, olhando para o futuro, não serei capaz de fazer o meu trabalho como deputada de uma forma que eu acredito ser justa e que os meus constituintes merecem”, admitiu.

Theresa May, de 67 anos, entrou no Governo em 2010 como ministra do Interior e, seis anos mais tarde, tornou-se na segunda mulher à frente dos destinos do Reino Unido, a seguir a Margaret Thatcher, chegando à liderança do Partido Conservador e do país após a vitória do Brexit no referendo de 2016. O processo de negociação com a União Europeia acabou por marcar inevitavelmente os três anos de May em Downing Street e foi precisamente a saída do país do bloco que resultou na sua eventual queda.

Em 2017, de modo a fortalecer a posição dos conservadores nas negociações com a União Europeia, May convocou eleições antecipadas. O resultado foi desastroso, o partido perdeu a maioria que tinha no parlamento e foi obrigado a formar uma aliança com o DUP, o Partido Unionista irlandês, o que minou ainda mais a autoridade da primeira-ministra. Dois anos depois, uma tentativa de acordo com a UE caiu na Câmara dos Comuns e May demitiu-se, com um discurso emocionado.

Ao contrário do que aconteceu com outros antecessores, Theresa May decidiu voltar ao seu cargo na Câmara dos Comuns, aceitou um papel mais reduzido no partido e continuou a trabalhar e a representar a sua cidade. Pelo caminho, viu mais três primeiros-ministros conservadores tomarem posse: Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak. May tornou-se mais crítica dos líderes do seu partido à medida que estes se foram tornando mais populistas, em particular de Boris Johnson, cujos esquemas políticos em torno do Brexit não fizeram favores a May.

O atual primeiro-ministro reagiu ao anúncio de May, afirmando através da rede social X que a antiga líder “definiu o significado de um servidor público”. Já David Cameron, que trouxe May para o seu governo em 2010 e que voltou recentemente como ministro dos Negócios Estrangeiros, considerou-a uma “funcionária pública exemplar” e congratulou-a por “modernizar o Partido Conservador e por promover as mulheres na vida pública”.

Com a saída da representante por Maidenhead, o número de deputados que não serão candidatos nas próximas eleições aumentou para 95, um valor que é já superior ao número de abandonos de deputados antes das últimas eleições gerais (74). Só do lado conservador são 64 os representantes que não voltarão a ocupar os seus cargos, incluindo ex-ministros como Matt Hancock, Dominic Raab, Ben Wallace, Sajid David, Kwasi Kwarteng e Chris Grayling.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hcarvalho@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate