Reino Unido

França adia primeira visita do rei Carlos III como chefe de Estado por causa das manifestações

Carlos III cumprimenta a multidão que o recebeu na cidade de Iorque, condado de Yorkshire, dia 9 de novembro
Carlos III cumprimenta a multidão que o recebeu na cidade de Iorque, condado de Yorkshire, dia 9 de novembro
WPA Pool

O rei Carlos III tinha planeado uma visita de três dias a França, que passaria principalmente por Paris e Bordéus, mas o gabinete de Emmanuel Macron decidiu cancelar aquela que seria a primeira visita oficial do monarca ao estrangeiro. As manifestações estão demasiado violentas para ser possível garantir a segurança do casal real britânico

A decisão veio do gabinete do Presidente de França. A visita do rei Carlos III, que deveria chegar já este domingo a Paris, foi adiada. A decisão prende-se com a enorme onda de protestos que tomou conta da capital francesa nos últimos dias, e que não parece estar para acalmar a tempo de que o monarca possa participar nas atividades que teria na agenda.

Em comunicado, citado pelo diário “The Guardian”, o Palácio do Eliseu explicou que a decisão foi tomada pelos governos francês e britânico após conversa telefónica entre Emmanuel Macron e Carlos, na manhã desta sexta-feira. Seria a primeira visita do chefe de Estado do Reino Unido ao estrangeiro desde que subiu ao trono, a 8 de setembro de 2022.

Dali, Carlos deveria partir para uma visita a Alemanha, que também fica, para já, adiada. Macron disse esperar receber o rei “em condições que correspondam às relações amistosas” entre os dois países. A visita será remarcada “assim que possível”.

Quinta-feira à noite, a porta da Câmara Municipal de Bordéus esteve a arder. As fotografias que circulam esta sexta-feira nas redes sociais mostram pilhas de lixo acumuladas em várias ruas de França, bicicletas e caixotes do lixo espalhados por artérias praticamente desertas, muitos objetos queimados, vidros, grades de lojas, caixilhos de janelas.

Aumento da idade da reforma atiça protestos

Os franceses estão revoltados com o que dizem ser a intransigência de Macron, ao aumentar a idade da reforma através de um mecanismo, legal, porém controverso, que contorna a votação parlamentar leis que possivelmente não passariam se dependesse dos deputados. Há mais greves marcadas para os próximos dias.

O artigo 49.3 da Constituição francesa, usado pelo Governo de Élisabeth Borne, permite decretar uma nova lei. Revertê-la exige a aprovação de uma moção de censura. No caso concreto, foram apresentadas duas, mas foram chumbadas (uma delas apenas por nove votos).


Mais de 450 manifestantes foram presos na quinta-feira, quando cerca de 300 manifestações por todo o país concentraram cerca de um milhão de pessoas. Os sindicatos têm outros números: asseguram que pelo menos três milhões vieram protestar contra o aumento da idade de reforma de 62 para 64 anos.

França não admitiu ser incapaz de manter a segurança de Carlos III e da rainha consorte Camila, mas é isso que está em causa. As duas principais cidades do itinerário, Paris e Bordéus, são aquelas onde os protestos têm assumido dimensões particularmente violentas. O Executivo britânico deixou claro que o adiamento foi a pedido de França.

Macron e sua esposa, Brigitte, tinham programado oferecer um banquete a Carlos e Camila no antigo palácio real de Versalhes. O plano de viagem seguiria depois até Bordéus, onde o rei britânico, desde cedo preocupado com as questões ambientais, tinha pedido para visitar uma área devastada pelos incêndios florestais do verão passado. Estava ainda prevista a inauguração do novo consulado britânico na cidade e uma visita a uma quinta que produz vinho orgânico.

O sindicato CGT, muito poderoso em França e um dos principais instigadores dos atuais protestos, já anunciara que não iria estender “passadeiras vermelhas, bandeiras e decorações” ao monarca.

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