Num dos países mais pobres do mundo, os sistemas sofisticados de registo de eleitores transformaram-se num meio de o partido dominante manter o controlo
Em outubro, Shafee Sidat fazia uma volta triunfal pelo Marracuene, um município pobre nos arredores da capital de Moçambique, Maputo. Tinha passado uma semana desde o dia das eleições autárquicas e, logo que chegaram os primeiros resultados, este magnata dos negócios e candidato a presidente da Câmara local proclamou-se vencedor. Sidat, envergando camisola de futebol vermelha e branca — cores do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) —, levantou o punho num gesto de saudação à multidão de apoiantes que marchavam ao seu lado. Nos grupos locais de WhatsApp daquela zona vibrou a sua mensagem comemorativa: “Marracuene está na moda, e com a Frelimo, não há dúvidas”.
Mas havia. Poucos dias depois, cidadãos e observadores eleitorais lançavam acusações de fraude eleitoral em todo o país. Circulavam vídeos que alegadamente mostravam enchimento de urnas. Quando o jornal local “A Verdade” atribuiu um município ao maior partido da oposição, a Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), com base nos resultados constatados pelo seu repórter, esses resultados já tinham sido alterados de modo a colocar a Frelimo à frente.
Vários meios de comunicação proeminentes publicaram histórias baseadas em contagens iniciais e paralelas, que declaravam triunfos preliminares da Renamo e foram posteriormente revertidas. O conselho constitucional do país, órgão máximo em matéria de direito constitucional e eleitoral, ordenou a repetição das eleições nalgumas zonas. Quando eclodiram protestos em todo o país, foram recebidos com gás lacrimogéneo e, nalguns locais, com munições reais.
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