21 agosto 2014 12:46
É essencial escrever de forma clara e concisa, diz o manual dos agentes secretos, agora posto em linha
21 agosto 2014 12:46
Além de outros tipos de manual que se poderão imaginar ou já se conhecem, a CIA tem um livro de estilo - um manual para escrever corretamente. Conforme lá se explica, "boa informação depende em grande parte de escrita clara e concisa. A informação recolhida pela CIA significa pouco se não a pudermos transmitir eficazmente". O manual destina-se aos agentes e funcionários da organização, mas hoje em dia toda a gente o pode ler.
Ao abrigo da lei sobre acesso a documentos administrativos, uma associação chamada National Security Counsellors conseguiu obter o livro, que pôs em linha o ano passado. São 185 páginas em pdf, acessíveis em qualquer computador. Agora um blog chamado Quartz publicou uma análise onde se mostra o que há de igual e de diferente no modo com a CIA lida com questões estilísticas.
Enquanto manual de boa escrita, o Style Manual and Writers Guide for Intelligence Publications (edição de 2011) segue uma abordagem convencional, com as habituais recomendações contra a utilização de expressões ambíguas, o abuso de advérbios e adjetivos ("deixem que o trabalho pesado seja feito pelos substantivos e os verbos"), e a multiplicação de frases demasiado longas ou enroladas.
Também a redundância é objeto de severas críticas, com uma lista que inclui 'perspectivas futuras', 'interagir juntos', 'tradição estabelecida' e 'carisma pessoal' entre dezenas de outros exemplos. Mais à frente, locuções como 'é altamente provável que (provavelmente)' e 'estão em posição de (podem)' ilustram aquilo a que o manual designa por 'verbal overkill'.
Em matérias como essas, o manual da CIA segue a tradicional linha rigorosa, ou mesmo dura, de grande parte das obras do género. A especificidade da sua abordagem aparece sobretudo na escolha dos termos, muitos dos quais se referem a matéria diplomática, militar ou política. Nota-se também na atenção aos títulos concretos na hierarquia, sobretudo a militar, bem como na familiaridade assumida com siglas que identificam certos tipos de armas (AWACS, CW, SRBM, SLBM e MIRV "são largamente reconhecidos e não requerem explicação").
Quanto a termos ou expressões consideradas problemáticas, ou cujo emprego a CIA entende poder prestar-se a equívocos, eis alguns:
"Regime: tem uma conotação negativa e não deve ser utilizado em referência a governos democraticamente eleitos ou, de modo geral, governos amigos dos Estados Unidos";
Mundo Livre: é, na melhor das hipóteses, uma designação imprecisa. Use unicamente em citações";
Desinformação (disinformation), informação errada (misinformation): desinformação refere-se à divulgação deliberada de notícias falsas. O outro termo tem significado equivalente, mas sem a mesa conotação ínvia";
"Morrer: é algo que todos fazemos, mesmo escritores que relegam líderes mundiais para uma espécie de Clube da Imortalidade com frases como o presidente já deu passos para assegurar uma transição pacífica no caso de morrer. Pode-se reconhecer a realidade inserindo no cargo ou antes do fim do seu mandato, ou simplesmente dizendo quando ele morrer".
Michael Silverberg, um comentador do Quartz, nomeia alguns autores de guias clássicos de boa escrita (Fowler, Follett, Barzun) como "fontes da CIA". E sugere que o livro de estilo desta poderá vir a ter um papel num tipo de guerra diferente daqueles a que a organização costuma estar associada. As guerras, por vezes bastantes acesas, sobre a utilização correta da língua...