Guerra no Médio Oriente

Conflito Israel-Irão escala, enquanto habitantes de Teerão procuram microdrones nos terraços

As Forças Armadas iranianas lançaram ataques de retaliação depois da ofensiva israelita contra várias cidades do Irão. Telavive, 13 de junho de 2025 (Saeed Qaq / Anadolu)
As Forças Armadas iranianas lançaram ataques de retaliação depois da ofensiva israelita contra várias cidades do Irão. Telavive, 13 de junho de 2025 (Saeed Qaq / Anadolu)
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Trump diz que os EUA podem envolver-se no conflito e admite Putin como mediador, enquanto Presidente iraniano acusa os norte-americanos de já estarem envolvidos. Netanyahu garante ter destruído instalação nuclear. Com mais de 200 mortos, o poder iraniano parece assustado com os métodos furtivos dos israelitas

Uma operação militar limitada ou uma guerra com riscos imprevisíveis de alastrar a toda a região, foi uma das questões que ecoou ao longo deste domingo, no terceiro dia de conflito ativo entre Israel e o Irão, depois de o Governo de Benjamim Netanyahu ter lançado um ataque aéreo surpresa a Teerão, contra instalações militares, e eliminando altos responsáveis do regime dos ayatollahs. Já terão morrido 224 iranianos e 14 israelitas.

Enquanto a retórica política subia de tom entre responsáveis israelitas, iranianos e o Presidente norte-americano Donald Trump, os residentes em Teerão eram instigados a verificar os terraços das suas casas à procura de microdrones infiltrados por Israel, que precisou de aliados no país para montar a operação, avançava o “Financial Times”, citando uma entrevista à televisão estatal de Mohsen Rezai, antigo comandante da Guarda Revolucionária. É uma forma de manifestar preocupação com os métodos furtivos usados pelos serviços secretos israelitas, que ainda recentemente vitimaram centenas de dirigentes do Hezbollah com explosivos colocados em pagers.

Neste contexto, a região parece preparar-se para um conflito prolongado após o bombardeamento de Israel contra instalações nucleares e militares iranianas, que matou vários generais e cientistas nucleares. O Presidente turco, Erdogan, chegou a falar na necessidade de "impedir uma catástrofe que poderia envolver toda a região" numa chamada telefónica com Donald Trump.

Aparentemente menos preocupado com essas consequências, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse à cadeia norte-americana Fox News que lançou os ataques aéreos ao Irão para prevenir "um holocausto nuclear", argumentando que o seu Governo tinha informações dos serviços de inteligência, de que os iranianos estavam a meses de desenvolver a sua primeira arma nuclear.

Insistindo na necessidade de um ataque preventivo, Netanyahu afirmou: “Tínhamos de agir, (...) para nos salvarmos, mas também para proteger o mundo deste regime incendiário.” O primeiro-ministro israelita também admitiu que passou essas informações aos norte-americanos: "A nossa intelligence, que partilhámos com os EUA, era absolutamente clara. Eles estavam a trabalhar num plano secreto para enriquecer urânio, e a avançar muito depressa, e poderiam ter uma ogiva inicial para testar em poucos meses, certamente menos de um ano", afirmou.

Na mesma entrevista, o primeiro-ministro israelita garantiu que a Força Aérea “destruiu a principal instalação” da central nuclear de Natanz, no centro do Irão. “Destruímos a principal instalação de Natanz. É a principal unidade de enriquecimento [de urânio]”, afirmou. A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) tinha indicado, na sexta-feira, que a parte à superfície da unidade-piloto de enriquecimento de urânio de Natanz fora destruída pelos bombardeamentos israelitas.

Numa guerra em que os israelitas procuram alvos selecionados, com o objetivo de decapitar liderança do inimigo, eliminando figuras de topo para lançar o caos nas estruturas de comando, Netanyahu revelou a eliminação do chefe dos Serviços Secretos da Guarda Revolucionária iraniana, Mohamad Kazemi, e do seu ‘número dois’, Hassan Mohaqeq, em Teerão. A informação seria confirmada mais tarde pelo Irão.

Apesar de Israel ter esta política de assassinatos seletivos - que tem praticado noutros conflitos, contra o Hamas ou o Hezbollah -, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, opôs-se este domingo a um plano israelita para eliminar o líder supremo iraniano, o "ayatollah" Ali Khamenei, disseram várias fontes da Casa Branca à Reuters, que pediram para não ser identificadas.

Ao longo do dia, enquanto as operações decorriam e o Irão voltava a bombardear Israel com mísseis terra-terra, sucediam-se as intervenções de altos responsáveis com trocas de mensagens públicas que arriscavam uma escalada do conflito.

Em Washington, Donald Trump dava uma entrevista à ABC News, admitindo estar "aberto" para que o Presidente russo Vladimir Putin pudesse ser um mediador do conflito: "Ele está pronto. Ele ligou-me a falar disso e tivemos uma longa conversa sobre o assunto", revelou. E ainda fez uma declaração em tom de ameaça, com a possibilidade de envolvimento dos EUA no conflito: "É possível que nos envolvamos, mas não estamos envolvidos neste momento", afirmou, umas horas depois de ter escrito na sua rede Truth Social, que "o Irão e Israel devem chegar a um acordo, e vão chegar a um acordo", acrescentando que "muitas chamadas e reuniões estão a decorrer".

Porém, para o Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, os EUA já estão envolvidos nos ataques de Israel, denunciou à agência estatal Fars, apesar "de tentarem esconder o seu papel nos media", e não obstante Trump ter garantido o contrário à ABC News. Pezeshkian disse que os EUA "desempenham sem dúvida um papel direto" na operação militar de Israel. Segundo o Presidente do Irão, o enviado especial dos EUA Steve Witkoff disse ao ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, que "'Israel não pode fazer nada sem permissão', o que significa que as ações de Israel não podem ser levadas a cabo sem a aprovação direta dos Estados Unidos", apontou. E prometeu uma "retaliação decisiva e severa" enquanto durarem as hostilidades.

Ao fim de três dias de ataques, a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, convocou uma videoconferência dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 para a próxima terça-feira, com o objetivo de discutir a escalada do conflito entre Israel e o Irão. Mas várias capitais já têm as máquinas diplomáticas a funcionar.

O chanceler alemão, Friedrich Merz, por exemplo enfatizou este domingo que o Irão "nunca deverá ter armas nucleares" - na mesma linha defendida pela diplomacia europeia - durante uma reunião com o sultão de Omã, revelou o porta-voz do Governo germânico, em Berlim. Ao mesmo tempo, Merz enfatizou o seu desejo, partilhado com o sultão Haitham bin Tarik al-Said, de "impedir uma extensão do conflito" através de esforços diplomáticos.

De resto, França, Alemanha e Reino Unido propuseram retomar as negociações nucleares com o Irão, uma vez que as que deviam estar em curso com os EUA estão comprometidas e foram canceladas O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Johann Wadephul, foi encarregado de estender publicamente a mão a Israel, durante uma entrevista à rede de televisão alemã ARD: "A Alemanha, juntamente com França e Reino Unido, está pronta. Oferecemos negociações imediatas sobre o programa nuclear. Espero que a oferta seja aceite", afirmou o ministro, horas depois de o Presidente da França, Emmanuel Macron, ter falado com o seu homólogo iraniano, Masoud Pezeshkian, para se pronunciar nos mesmos termos.

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