Guerra no Médio Oriente

Israel anuncia expansão da sua operação militar em Gaza e o objetivo de tomar “grandes áreas” do território

A caminho da manifestação, em Beit Lahia, a 26 de março
A caminho da manifestação, em Beit Lahia, a 26 de março
RAMEZ HABBOUB / ANADOLU / GETTY IMAGES

Depois de uma quebra do cessar-fogo e da consequente pausa na troca de prisioneiros por reféns, Israel anuncia mais uma invasão de Gaza, que tem bombardeado sem tréguas desde 18 de março. Os palestinianos pedem ajuda para, pelo menos, serem levados para mais longe dos bombardeamentos

Israel anuncia expansão da sua operação militar em Gaza e o objetivo de tomar “grandes áreas” do território

Ana França

Jornalista da secção Internacional

O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, escreveu esta manhã na rede social X que Israel vai expandir a guerra “para esmagar e limpar a área de terroristas e infraestruturas terroristas e capturar grandes áreas que serão adicionadas às zonas de segurança do estado de Israel”. Os ataques aéreos continuam a soar e o número de mortos em Gaza nas últimas horas foi estimado em 21, segundo fontes médicas que falaram à “Al Jazeera”. Pelo menos 12 palestinianos foram mortos num ataque a uma casa em Khan Younis.

De acordo com o "Times of Israel", os soldados entraram na Faixa esta quarta-feira às primeiras horas da manhã. Dezenas de famílias palestinianas na zona de Khirbet al-Adas, em Rafah, a sul, disseram à Al Jazeera que foram encurraladas pelo ataque israelita e emitiram um pedido de ajuda, apelando à ajuda internacional para serem retiradas para um local seguro.

"O alargamento da operação esta manhã aumentará a pressão sobre os assassinos do Hamas e também sobre a população de Gaza e promoverá a conquista do objetivo sagrado e importante para todos nós", escreveu Israel Katz no X, onde pediu ainda aos habitantes do território que não apoiem o Hamas. Nos últimos dias, centenas de pessoas têm demonstrado precisamente essa oposição, nas ruas, com palavras de ordem que pedem a paz e condenam o grupo pelas consequências do ataque de 7 de outubro.

Segundo a CNN, o porta-voz militar israelita para os meios de comunicação árabes ordenou, na terça-feira à noite, que os residentes da zona de Rafah, no sul de Gaza, abandonassem as suas casas e se mudassem para norte. No início da invasão, em novembro de 2023, foi pedido aos habitantes do norte que se deslocassem para sul e recentemente, quando o mais recente cessar-fogo foi instituído, em janeiro de 2025, milhares de pessoas voltaram ao norte, apesar da destruição quase total de todas as infraestruturas capazes de apoiar a vida civil.

A 18 de março, Israel quebrou o cessar-fogo e uma fonte israelita confirmou à CNN que o plano de Israel era “uma potencial grande ofensiva terrestre em Gaza”, que envolveria o envio de “dezenas de milhares de tropas para o combate”, de forma a “limpar e ocupar grandes áreas do enclave”. Os números de tropas adicionais ainda não foram divulgados.

A população de Gaza tem vindo para a rua em protestos contra Israel mas também contra o Hamas, que gere o território desde 2007, na sequência de umas eleições conturbadas que deixaram a Palestina com liderança bicéfala - Autoridade Palestiniana na Cisjordânia e Hamas em Gaza. Desde aí, nunca mais houve eleições.

O Expresso falou recentemente com alguns palestinianos residentes em Gaza sobre os protestos. “O povo de Gaza merece, pelo menos, clareza por parte da fação palestiniana. Quer respostas sobre porquê, como e para onde vamos. As pessoas querem ouvir isso!”, disse um palestiniano.

“As pessoas estão a sufocar e não é só por causa da guerra. As pessoas têm estado sob um bloqueio marítimo, terrestre e aéreo totalmente paralisante desde 2007”, quando o Hamas tomou o poder pela força em Gaza. “Nunca estiveram tão zangadas com a fação palestiniana dominante, como hoje”. Por razões de segurança, a identidade e a localização das duas pessoas ouvidas pelo Expresso a partir de Gaza foram apenas identificadas como M (pessoa já citada acima) e S.

As famílias dos reféns não tardaram a manifestar-se contra uma nova fase da guerra movida por Israel, uma vez que ainda há reféns em Gaza. O grupo "Hostages Families Forum" disse, citado pelo "The Guardian", que o Governo de Benjamin Netanyahu está a tratar do regresso de 59 reféns como "uma coisa secundária", "empurrada para o fim da lista de prioridades". O mesmo coletivo, que é o principal grupo de pressão sobre o Governo israelita para a continuidade de um cessar-fogo, disse esta quarta-feira que os seus membros ficaram “horrorizados” ao acordar com a notícia da expansão da operação militar.

“Em vez de garantir a libertação dos reféns através de um acordo e acabar com a guerra, o governo israelita está a enviar mais soldados para Gaza para lutar nos mesmos locais onde já lutaram tantas outras vezes”, afirmaram as famílias.

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