Netanyahu aceita retirada parcial do Corredor de Filadélfia, EUA nega que negociações estejam “perto do fracasso” (guerra, dia 322)
Numa conversa telefónica na quarta-feira, Biden terá pedido a Netanyahu que moderasse a sua posição para permitir o avanço das negociações
Andrew Harnik/Getty Images
O primeiro-ministro israelita terá acedido a um pedido do Presidente norte-americano para ordenar a desmobilização das suas tropas no disputado território na primeira fase do acordo de cessar-fogo, avançaram fontes israelitas. No rescaldo da reunião de quinta-feira no Cairo, a Casa Branca rejeitou a tese, prevalente nos últimos dias, de que as conversações não cheguem a bom porto
Benjamin Netanyahu terá concordado em retirar as tropas israelitas de uma parte do Corredor de Filadélfia, faixa de 14 quilómetros na fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito que está atualmente sob a ocupação militar israelita e que tem sido uma das principais fontes de discórdia entre as partes, impedindo avanços concretos na direção de um acordo de cessar-fogo.
De acordo com o Axios, que cita três altos responsáveis israelitas, a cedência de Netanyahu vem no seguimento da conversa telefónica com Joe Biden, na quarta-feira. O Presidente dos EUA terá pedido ao chefe do Governo israelita que moderasse a sua posição em relação à presença israelita neste ponto fronteiriço estratégico, aceitando retirar os seus soldados de uma extensão de um a dois quilómetros do território durante a implementação da primeira fase do acordo.
Segundo um funcionário israelita, a concordância demonstrada por Netanyahu face a uma retirada parcial levou, em troca, os EUA a expressar o seu apoio de que as restantes forças de Telavive permaneçam no território no decurso da primeira fase do acordo de cessar-fogo.
Este entendimento terá pressionado o Egito, que também se opõe à permanência de tropas israelitas na fronteira, por considerá-la um risco para a sua segurança, a aceitar entregar ao Hamas os mapas com os destacamentos atualizados do Exército israelita.
Desespero após um bombardeamento israelita a um hospital, em Deir al-Bael-Balah
Segundo o ‘Haaretz’, a proposta foi apresentada pelos representantes da Mossad (serviços secretos israelitas) e do Shin Bet (serviços de segurança interna) no Cairo. Uma fonte israelita disse ao jornal que a decisão constitui um “progresso relativo” nas negociações.
Um assessor de Netanyahu confirmou ao Axios que o primeiro-ministro assentiu em alterar uma das posições militares, deslocando-a alguns metros, mas sublinhou que o Exército de Israel está estacionado ao longo de todo o corredor e que o chefe do Governo israelita “defende o princípio de que esta situação se manterá”.
A aparente concessão de Netanyahu não deverá ser suficiente para aproximar as partes de uma resolução para o Corredor de Filadélfia a longo prazo. Esta sexta-feira, um oficial do Hamas declarou que o grupo paramilitar palestiniano não aceitaria “nada menos do que a retirada [total] das forças de ocupação, incluindo do Corredor de Filadélfia”. Em declarações à AFP, Osama Badran afirmou que a exigência de Netanyahu de manter as tropas israelitas no território reflete a sua falta de interesse em chegar a um acordo.
Uma família em fuga à destruição, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza
Apesar das divergências persistentes entre Israel e o Hamas, a Casa Branca continua a acreditar na palavra de Netanyahu para fazer cumprir “o plano de compromisso de Washington” para uma trégua em Gaza, como afirmou no início da semana o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca indicou, esta sexta-feira, que “foram feitos progressos” na última reunião negocial que decorreu no Cairo.
“As discussões iniciais que tivemos no Cairo ontem (quinta-feira) à noite foram de natureza construtiva. Queremos que essa mesma dinâmica se mantenha nos próximos dias”, declarou John Kirby, citado pela Lusa. Kirky rejeitou, por outro lado, as notícias, motivadas por informações de fontes israelitas próximas das negociações, de que estas estariam “perto do fracasso”.
Outras notícias que marcaram o dia:
⇒ Gaza recebeu 1,6 milhões de doses de vacinas contra a poliomielite, mas o Ministério da Saúde advertiu que será necessário um cessar-fogo para que a campanha de vacinação seja eficaz. A doença, que foi recentemente detetada no enclave palestiniano pela primeira vez em 25 anos, já deixou um bebé de 10 meses paralisado, que não está vacinado e corre perigo de vida, de acordo com o presidente da UNRWA (Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos), citado pela Lusa.
⇒ O Presidente da Autoridade Palestiniana enviou uma carta a António Guterres, pedindo-lhe que visite Gaza, confirmou o porta-voz do Secretário-Geral da ONU. Na quinta-feira, perante as afirmações do embaixador palestiniano na ONU, Riyad Mansour de que Guterres seria acompanhado por Abbas e pelo presidente do Conselho de Segurança numa eventual deslocação ao enclave palestiniano, o porta-voz do antigo primeiro-ministro português não afastou essa possibilidade, reconhecendo que este já esteve noutros territórios em guerra, como a Ucrânia.
⇒ Seis membros do Hezbollah, incluindo um destacado comandante do grupo xiita libanês, foram mortos em ataques israelitas no sul do Líbano, anunciou o Exército israelita. Segundo a Lusa, o comandante em causa seria Mohamed Mahmud Nayam, responsável pela unidade de ‘rockets’ da milícia. Com estas mortes, sobe para 424 o número de combatentes do Hezbollah abatidos por Telavive desde o início do fogo cruzado transfronteiriço a 7 de outubro.