Guerra no Médio Oriente

Desmantelar agência para os refugiados arrisca acelerar fome e “desespero” em Gaza, alerta a ONU

UNRWA distribui farinha em Gaza
UNRWA distribui farinha em Gaza
Anadolu

Perante as acusações de “terrorismo”, por parte de Israel, o seu diretor, Philippe Lazzarini, disse ao Conselho de Segurança da ONU que a UNRWA, criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, "é a espinha dorsal das operações humanitárias" em Gaza

O desmantelamento da agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês) poderá acelerar a fome em Gaza e condenar uma geração de crianças "ao desespero", alimentando "ciclos intermináveis de violência", alertou o seu diretor.

A agência, que tem mais de 30.000 empregados na região (Gaza, Cisjordânia, Líbano, Jordânia e Síria), foi acusada por Israel de empregar "mais de 400 terroristas" em Gaza.

Daqueles, 12 empregados são acusados pelos israelitas de terem estado diretamente envolvidos no ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, a 7 de outubro, que fez 1160 mortos, na sua maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais.

As acusações levaram à suspensão dos financiamentos por parte de países doadores, que entretanto foram nalguns casos retomados.

Mas a UNRWA, criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, "é a espinha dorsal das operações humanitárias" em Gaza, reiterou o seu diretor, Philippe Lazzarini, perante o Conselho de Segurança da ONU, em que denunciou uma campanha "insidiosa" para acabar com as suas operações.

"O desmantelamento da UNRWA terá repercussões duradouras", alertou. "A curto prazo, irá agravar a crise humanitária em Gaza e acelerar o início da fome", sublinhou.

A fome ameaça já o norte do território palestiniano, onde cerca de 34 mil pessoas, na sua maioria civis, foram mortas desde o início da ofensiva israelita, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

"A longo prazo, esta situação irá comprometer a transição do cessar-fogo para o 'dia seguinte', privando uma população traumatizada de serviços essenciais", insistiu o diretor da UNRWA, que gere escolas e hospitais em Gaza.

Lazzarini prestou também homenagem aos 178 funcionários da UNWRA mortos em Gaza, observando um minuto de silêncio com todos os membros do Conselho por todos os trabalhadores humanitários mortos desde o início da ofensiva israelita, lançada como retaliação ao ataque de outubro do Hamas.

Na sequência das acusações de Israel, a ONU suspendeu imediatamente os 12 funcionários em causa e lançou um inquérito interno, que ainda está a decorrer.

Ao mesmo tempo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, encarregou um grupo independente de avaliar a UNRWA e a sua "neutralidade".

A presidente deste grupo, a antiga chefe da diplomacia francesa, Catherine Colonna, deverá apresentar o seu relatório final na segunda-feira.

"Um dos principais objetivos da UNRWA é doutrinar as crianças palestinianas com a ideia de que podem destruir Israel se regressarem", afirmou o embaixador israelita na ONU, Gilad Erdan, referindo-se ao seu país "inundado por milhões de descendentes de refugiados palestinianos".

"É altura de definir a UNRWA", defendeu, assegurando que organizações não-governamentais e outras agências da ONU a podem substituir.

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