Congressista dos EUA diz que Gaza “devia ser como Nagasaki e Hiroshima”
As declarações de Tim Walberg foram difundidas pelas redes sociais. O político republicano queixa-se de falta de contextualização
As declarações de Tim Walberg foram difundidas pelas redes sociais. O político republicano queixa-se de falta de contextualização
Jornalista
Um congressista republicano está a ser muito criticado nas redes sociais e por organizações de direitos humanos, após ter sugerido uma abordagem destrutiva dos Estados Unidos na Faixa de Gaza que “devia ser como Nagasaki e Hiroshima”.
Tim Walberg, um republicano do Michigan, fez a comparação durante um evento no passado dia 25 de março em Dundee, no seu estado natal, após um eleitor o ter questionado sobre a construção de um porto em Gaza para a entrada de ajuda humanitária. Um ativista divulgou nas redes sociais um vídeo onde é possível ouvir Walberg a defender o apoio incondicional a Israel, bem como a destruição do território palestiniano ocupado.
“Não devíamos gastar um cêntimo em ajuda humanitária. Devia ser como Nagasaki e Hiroshima. Acabar rapidamente com isto”, disse, apontando ainda o dedo a países como a Coreia do Norte e a China como financiadores do Hamas (algo que os países desmentiram categoricamente).
Os comentários do congressista conservador e pastor evangélico, evocando as bombas atómicas usadas pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, no Japão, valeram-lhe votos de condenação de várias organizações e de colegas no Congresso norte-americano, e alguns pedidos de demissão.
Justin Amash, um antigo congressista republicano pelo Michigan de ascendência palestiniana, afirmou que a opinião de Walberg “revela a total indiferença pelo sofrimento humano”.
“O povo de Gaza são seres humanos como nós - muitos deles são crianças presas em circunstâncias horríveis, longe do seu controlo individual. Sugerir que centenas de milhares de palestinianos inocentes sejam obliterados, incluindo os meus próprios familiares abrigados numa igreja cristã ortodoxa, é repreensível e indefensável”, vincou Amash ao New York Times.
Já Dawud Walid, diretor-executivo do Conselho de Relações Islâmico-Americanas (CAIR, na sigla em inglês), repudiou as declarações de Walberg que “devem ser condenadas por todos os norte-americanos que valorizam a vida humana e a lei internacional”.
“Pedir casualmente o que seria a morte de todos os seres humanos em Gaza envia uma mensagem arrepiante para os palestinianos de que a sua vida não tem valor”, acrescentou Walid, líder da maior organização de defesa dos direitos de pessoas muçulmanas nos EUA, em comunicado.
No domingo, seis dias depois da participação no evento, o congressista defendeu-se, acusando os críticos de distorcer as suas palavras e de as retirar do contexto. “Como criança que cresceu na Guerra Fria, a última coisa que apelo é ao uso de armas nucleares”, garantiu.
Walberg explicou ainda que usou uma “metáfora para transmitir a necessidade de Israel e Ucrânia ambas ganharem as suas guerras o mais rapidamente possível, sem colocar em perigo tropas norte-americanas”.
Os bombardeamentos israelitas na Faixa de Gaza já mataram mais de 33 mil pessoas, incluindo mais de 12 mil crianças e mais de 8.400 mulheres, além de provocarem uma grave crise humanitária no pequeno enclave palestiniano. Os ataques surgiram na sequência do ataque do Hamas do passado dia 7 de outubro, no qual foram mortos cerca de 1200 pessoas, e mais de 100 pessoas continuam detidas como reféns pela organização.
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